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Tratamentos oncológicos e suas complicações cutâneas

Entrevista com a dermatologista Cristina Dalla

Olá, sou Dr. Buzaid, chefe geral do Centro Avançado de Oncologia do Hospital São José da Beneficência Portuguesa de São Paulo. Estou comigo hoje, em uma entrevista, a Dr. Cristina Dalla, uma das mais proeminentes dermatologistas do Brasil, especializada em câncer de pele e também danos à pele relacionados a tratamentos oncológicos.

Uma das perguntas mais comuns que recebemos dos nossos pacientes é se podem pintar o cabelo durante ou após o tratamento. Como você encara essa pergunta?

Em primeiro lugar, quero sempre agradecer seus elogios e falar sobre o assunto. Via de regra, nós esperamos seis meses, mas não é bem assim na prática. Cada caso é um caso, tudo depende primeiro do tratamento quimioterápico que foi feito. Quando o tratamento é feito com múltiplas drogas, nós temos uma luta e cia universal, então fica um pouco mais complicado.

Com relação às pinturas, elas têm químicos e amônia, então elas podem ser um pouco mais agressivas. Nós temos que observar se esse cabelo caiu todo mesmo, quando ele está nascendo, se ele está vindo muito fininho ou não. Alguns pacientes que têm uma longa remissão parcial que já têm os fios aí bem constituídos. Então, o que nós orientamos primeiro é observar se o couro cabeludo desse paciente está adequado, se o fio está adequado. Fazer um teste com uma pequena mecha para ver se não tem uma irritação e tentar usar uma tinta que não contenha amônia, aquelas famosas tintas semipermanentes. Iniciar com esse tipo de produto que saem algumas lavagens ou tinturas vegetais à base de henna. Mas, enfim, cada caso é um caso. Tem pacientes que até terminam a quimio e em dois meses já estão pintando o cabelo. Mas precisa ser realmente estudado para isso não causar irritações, não piorar o quadro, tanto quebrar o cabelo como o couro cabeludo, o que pode acontecer. O maior problema seria a irritação mesmo.

Outra pergunta muito frequente é sobre as manchas na pele. Elas podem ocorrer pelas próprias drogas oncológicas ou pelas cortisonas frequentemente usadas nos esquemas de quimioterapia para a prevenção de náusea e vômito. Isso realmente é um problema. O que podemos fazer a respeito disso?

Em primeiro lugar, existe um período ainda pouquinho que essas drogas elas influenciam a célula que produz melanina, que é o melanócito. Algumas drogas até três meses ou às vezes até seis meses podem estimulá-lo. Então, temos que tomar cuidado e fazer a proteção solar durante a químio e mesmo após. Isso é fundamental. Como nós costumamos abordar para melasma, geralmente nós começamos a tratar com medicações não muito agressivas que o melasma geralmente responde, como a vitamina C e alguns antioxidantes. São as drogas mais leves que não causam tanta irritação. Para que o paciente já possa iniciar o tratamento, usamos peelings meses depois. Reservamos isso para um período de três meses, seis meses depois. Depende de como está a pele desse paciente. Procuramos não fazer tratamentos tão agressivos. A pele seca também tem drogas oncológicas que produzem uma secura muito grande na pele e que pode gerar até um eczema na pele. Então, é importante a gente observar que situação está e como tratar.

O famoso botox: podemos aplicar botox ou não durante a quimioterapia?

Bom, eu acho que nós temos que sempre avaliar o status desses pacientes primeiro. Ele tem alguma imunossupressão ainda, alguma alteração de imunidade, dependendo do tratamento? Alguns tratamentos e transplantes de medula alguns desses pacientes ainda estão suscetíveis à infecção. Então, é avaliar esse status. Está sendo intensa essa suscetibilidade ou não? Segundo, esse paciente está bem de coagulação. Então, se ele não está tomando uma medicação que promova um sangramento, nada impede que se faça um botox.

A radioterapia é uma das armas mais usadas no tratamento de problemas oncológicos. Observamos em geral o fim da radioterapia ou vermelhidão na pele que lembra até uma queimadura de sol. Isso é comum e pode sumir depois de uma ou duas semanas ao findar a radioterapia e ficar um escurecimento da pele, uma hiperpigmentação dessa área. O que podemos fazer?

Isso é um processo normal, porque a radioterapia para tratar o tumor ela passa pela pele, causa essas alterações tanto de vasos como de também das células de diferenciação celular, as células que produzem melanina. Mas, via de regra, é só isso. Tende a ir melhorando. Em alguns casos, nós temos que lançar mão até de tratamento com alguns cremes à base de corticoide, que podem gerar até uma estria na pele. Então, é importante a gente observar qual é a situação e como tratar.

Vocês ouviram hoje a Dr. Cristina Dalla falando sobre o manejo e tratamento das complicações dermatológicas mais comuns que observamos no nosso paciente com câncer. Desde a pele seca, uso de botox, manchas e assim por diante. Acredito que vocês vão achar isso muito útil no dia a dia. Obrigado mais uma vez por assistir ao Vencer o Câncer.

Fonte: Complicações na pele em pacientes oncológicos por Vencer o Câncer