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Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) – Sintomas, Causas e Tratamento


Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) – Conheça Mais

Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) – Conheça Mais

Olá, meu nome é Marco Antônio Bud e eu sou médico psiquiatra da Universidade de São Paulo, intitulado em Legítimo Lação. Hoje eu vou falar sobre um tema que faz muito parte do nosso dia-a-dia: quem aqui nunca teve uma mania, um jeito especial de fazer uma certa coisa? Eu, por exemplo, toda vez que eu chego em casa eu tenho que deixar minha carteira e meu celular numa mesinha específica de casa, senão fico muito incomodado. Todos nós temos essas manias entre aspas no nosso dia-a-dia. Tem gente que tem uma necessidade de deixar o quadro perfeitamente alinhado, tem outras pessoas que têm aquele sentimento de segurança se esqueceu o fogão ligado, se fechou a chave do carro, tem gente que tem um jeito todo especial de arrumar a mesa ou guardar os documentos. Todos nós temos isso e essas manias nos ajudam no nosso dia-a-dia a sermos mais organizados, não é mesmo?

Mas como a gente vai saber quando essas manias extrapolam um pouquinho o que é considerado normal e começam a atrapalhar? Quando isso acontece, a gente começa a falar de um diagnóstico chamado Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC). Para falar um pouquinho disso hoje, eu vou contar o caso de uma paciente que eu atendi.

Quando eu estava no segundo ano da minha residência no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de São Paulo, eu atendi uma paciente de 25 anos. Vou mudar o nome dela e algumas características para preservar o sigilo. Era a primeira filha de uma família tradicional que mora em São Paulo, uma menina muito inteligente, sempre uma excelente aluna. Ela cursava engenharia quando eu a conheci, mas estava com o curso trancado. Com o que era a história dela, ela falava pra mim que desde a infância, quando tinha uns 11 ou 12 anos, ela sempre me incomodou muito quando o assunto era principalmente sujeira de alimentos. Ela tinha uma sensação que os alimentos estavam sujos e ela tinha que lavá-los bem antes de comer. Depois de um tempo, isso começou a ficar um pouco mais intenso. Ela começou a ter pensamentos que invadiam a mente dela dizendo que os alimentos estavam contaminados e ela tinha que lavar todo alimento pelo menos três vezes antes de comer. E depois de um tempo, isso começou a não ser mais suficiente. Ela tinha que lavar várias e várias e várias vezes. Às vezes, a mão dela ficava com alergia bem descascada devido ao detergente, os alimentos ficaram bastante danificados, e mesmo assim ela não tinha a sensação de que eles estavam limpos o suficiente para comer.

Começou a emagrecer muito e começaram a surgir outros sintomas. Ela começou a ter uma sensação de que o elevador da casa dela ia cair e ela não conseguia mais andar de elevador, então ela tinha que usar as escadas e ela morava no 12º andar do prédio dela. Isso limitou muito a área dela de ir à faculdade. Ela perdia muito tempo para sair e voltar de casa. E ela começou a ter um pensamento que falava que ela deveria rezar e ela tinha que rezar pelo menos três pais-nossos antes de poder sair de casa. E isso começou a limitar e terminar um relacionamento que ela tinha, e ela trancou a faculdade também.

Com o tratamento, ela conseguiu ter uma diminuição importante dos sintomas e ela tem, de vez em quando, o outro jeito especial de fazer as coisas. Às vezes ela tem que rezar um pouco antes de sair de casa, mas ela leva, hoje em dia, uma vida muito própria. Pelo que eu soube, ela está namorando, ela está cursando a faculdade e está terminando agora o quinto ano de engenharia.

Nesse caso, a gente vê que a maneira especial de fazer as coisas extrapolou. E por quê? Porque três coisas aconteceram de maneira diferente nessa paciente. Primeiro, o tempo que ela estava fazendo era muito tempo durante o dia. Segundo lugar, o sofrimento que ela tinha. Ela era uma mulher muito inteligente, ela percebia que aquilo não fazia sentido, mesmo assim não conseguiu frear. E a terceira coisa é o quanto que isso prejudicou a vida dela. Ela teve que trancar a faculdade, terminou o relacionamento, tinha muitos problemas com a família dela por conta desses sintomas. Nessas situações, a gente fala que sim, existe um quadro de TOC.

No TOC, existem diversas formas de tratamento, como a terapia cognitivo-comportamental e medicação, que são bastante eficazes. Além disso, a neuroestimulação, como a Estimulação Magnética Transcraniana, também pode ser uma opção de tratamento para alguns pacientes. Para entender melhor o transtorno e o funcionamento do cérebro, podemos ver algumas imagens:

Nesta imagem, mostramos um circuito no nosso cérebro. A área chamada tálamo indica para o nosso cérebro que existe um perigo para a gente ficar alerta. Já a área que pensa e consegue decidir se aquele alerta de fato é um perigo importante é o córtex órbito-frontal. Em um indivíduo com TOC, esse circuito é como se fosse um loop, mostrando que há alerta, mas a parte da frente não consegue perceber nem frear o avanço da ideia de lá. Esse circuito é quebrado quando a pessoa consegue controlar o pensamento deixando-o vir e não lutando contra ele. Isso faz com que a ansiedade atinja um pico e passe, quebrando o ciclo da compulsão. Essa é uma dica baseada em terapia cognitivo-comportamental que vocês podem tentar em casa caso haja ainda muita dificuldade em controlar as compulsões.

O TOC é um transtorno que pode prejudicar muito a qualidade de vida das pessoas. Por isso, é importante buscar ajuda especializada caso seja necessário. Espero que tenham gostado do tema de hoje. Não esqueça de deixar seu comentário aqui embaixo e até a próxima semana!

Fonte: TOC – Transtorno Obsessivo Compulsivo por Saúde da Mente