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Esquizofrenia: Entenda mais com a Psiquiatra Maria Fernanda Caliani

Eu sou Maria Fernanda, sou médica psiquiatra e hoje estou de volta aqui com mais um vídeo para vocês. Hoje nós vamos conversar um pouquinho sobre esquizofrenia. Esquizofrenia é uma das doenças mais antigas que temos dentro da psiquiatria e ela se caracteriza pela perda do contato com a realidade. Os transtornos esquizofrênicos se caracterizam pelos delírios e alucinações, que eu vou explicar um pouquinho melhor daqui a pouco para vocês.

A frequência de esquizofrenia na população em geral é de um caso de esquizofrenia para cada 100 pessoas. Ela se instala geralmente em pessoas jovens. No homem, não acontece um pouco mais cedo, entre 19 e 25 anos. Na mulher, ela vem um pouco mais tarde, em torno dos 29 e 30 anos. A proporção entre os dois sexos é a mesma, de um homem para uma mulher. Tem um componente genético importante na esquizofrenia, então, se uma pessoa tem um parente de primeiro grau com esquizofrenia, o risco dela desenvolver a doença é de 13%. Quanto mais próximo o grau de parentesco, maior o risco de desenvolver a doença. Por outro lado, os estudos genéticos vêm demonstrando que nem tudo é genético. Existe uma contribuição ambiental, ou seja, entra naquilo que a gente fala um pouco dos transtornos psiquiátricos. Eu preciso de uma confluência de fatores para a manifestação de uma doença. Geralmente, eu tenho uma predisposição genética, mas o meio em que eu estou inserido, o ambiente em que me encontro, a minha personalidade, tudo isso vai influenciar na evolução e manifestação da doença.

Se nós formos divididos sintomas, podemos dividir os sintomas da esquizofrenia em dois grandes grupos: os sintomas positivos ou produtivos e os sintomas negativos. Sintomas positivos incluem os delírios e alucinações. Delírios são alterações do nosso pensamento. Então, a pessoa acredita em algo diferente do que está acontecendo. Ele tem uma distorção da realidade e ele acredita profundamente naquilo. O mais comum dos delírios é o paranóide, ou seja, a pessoa acredita que ela é vítima de um complô e que estão tramando contra ela. Hoje, ela está sendo perseguida, que querem prejudicá-la ou que instalaram câmeras na casa dela e estão observando ou de que instalaram um chip na cabeça dela e tem acesso a tudo o que ela pensa. E não tem nenhum argumento, nenhum bom senso que convença pessoa do contrário. Não adianta você chegar lá e falar: “Olha, mas como eles instalaram um chip enquanto você dormia, se você está sem nenhuma cicatriz na sua cabeça?” A pessoa vai falar: “Não, porque ele tem uma técnica muito boa e que não fica nenhuma cicatriz”. Então, eles vão acabar encontrando alguma justificativa. E mesmo se eles não tiverem essa justificativa, eles vão manter fixos na ideia e vão achar que você não está acreditando neles. É muito comum quando eles têm esses delírios persecutórios, ou seja, os pensamentos de que a pessoa que ele está sendo perseguido, ele se voltarem contra a família. Então, muitas vezes, o paciente com esquizofrenia acredita que a própria família está tramando contra ele. Eles deixam de comer porque acham que a comida pode estar envenenada, deixam de tomar banho porque têm medo de que algo aconteça a eles enquanto estão no banho. E aí, a família se sente muito culpada: “Porque será que eu fiz alguma coisa? Porque ele está junto contra mim?”. E, pessoal, é muito comum e é muito usual que o paciente com esquizofrenia se volte contra quem é mais próximo. Então, essa culpa, ela não tem que existir. Ela vai existir porque o paciente vai voltar com quem está mais próximo, independente do que vocês fizeram.

As alucinações estão dentro dos sintomas positivos. Elas correspondem a alterações na nossa senso percepção, ou seja, nos nossos sentidos. Então, eu posso ver coisas que não existem e só eu vejo. Eu posso ouvir coisas que só eu ouço, ninguém mais. Eu posso sentir coisas na minha pele, posso sentir sabor de sangue ou carne podre que ninguém está sentindo o mesmo cheiro. Também tem as alucinações mais comuns, que são as vozes, que são as alucinações auditivas e as visuais, ou seja, a pessoa com esquizofrenia começa a ver um vulto ou uma pessoa correndo atrás dela ou às vezes a cara do diabo. Ou ela começa a ouvir vozes que falam: “Olha fulano está atrás de você e eles querem te prejudicar, cuidado com a mãe, que ela está tramando alguma coisa, não confia no seu vizinho, que ele está olhando estranho, ou foge agora, porque essas pessoas querem te pegar”. Então, muitas vezes essas vozes são o que a gente chama de vozes de comando. Elas mandam o paciente fazer algo. É por isso que os pacientes com esquizofrenia têm um alto risco de cometerem suicídio. Muitas vezes, a voz diz: “Olha, só a única alternativa é mantém”, e a pessoa, ouvindo aquilo, ela acaba indo porque ela não entende que essa voz dentro da cabeça dela, ela entende como algo externo a ela. É muito tênue e essa linha que separa os pensamentos racionais dos delírios e das alucinações.

Por outro lado, esses sintomas positivos respondem rapidamente ao tratamento. Eles são os que inicialmente têm resposta. Um outro grupo de sintomas que nós temos são os sintomas negativos. Esses já são mais resistentes ao tratamento e que são os sintomas negativos. Eles se caracterizam por uma diminuição dos impulsos e na vontade por fazer as coisas do paciente. Eles têm o que a gente fala de um achatamento afetivo, ou seja, a pessoa começa a ficar fechada. Mas, esse mesmo pode muitas vezes aparecer como se não tivesse sentimentos, ou então ela pode não interagir com as coisas que acontecem ao redor dela, que é muito que a gente chama do afeto embotando.

Muitas vezes, eles não cuidam da higiene pessoal. Os pacientes com esquizofrenia podem não se alimentar direito, não se importar com o que está acontecendo ao redor. A consciência e a capacidade intelectual vão se manter, inicialmente, nas ao longo do tempo de evolução da doença, déficits cognitivos, ou seja, uma alteração no raciocínio na memória podem aparecer. É uma doença infelizmente ainda muito viés. Sofre muito preconceito. Antigamente, os pacientes com esquizofrenia eram considerados os loucos e que o pessoal jogava nos antigos manicômios. Então, eram inclinações longas de anos muitas vezes e eles sofriam muitas vezes porque era muito paciente junto no mesmo lugar. E hoje em dia, a gente vê que assim, a esquizofrenia não tem cura, mas ela tem tratamento. Então, a luta de nós psiquiatra, de toda a equipe de saúde mental, é para reinserir esses pacientes com esquizofrenia na sociedade, para que eles convivam, para que a gente estimula essa parte mais apática, mas a anedonia deles, mas de mais isolamento, para que a gente consiga fazer com que eles interajam mais e tenham uma melhor qualidade de vida.

Sobre o tratamento, eu vou aprofundar em outro vídeo. Aí, eu vou estar falando um pouco mais específico e falando um pouquinho das estratégias que a gente pode estar fazendo para lidar com os pacientes com esquizofrenia. Bom, é isso. Espero que tenha ajudado vocês. Se tiverem dúvidas, coloquem aqui para gente no nosso canal. Eu vou ter o maior prazer em respondê-las. Nos vemos no próximo vídeo.

Fonte: Entenda mais sobre Esquizofrenia com a Psiquiatra Maria Fernanda Caliani por Neurologia e Psiquiatria