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Por que ainda não existe uma vacina eficaz contra a malária?

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Ao longo de 2019, quase metade da população mundial corria o risco de contrair malária. Foram registrados mais de 200 milhões de casos da doença em todo o mundo, resultando em cerca de 400 mil mortes. A malária é uma doença estudada há mais de um século e cerca de 70% das mortes causadas por ela ocorrem em crianças menores de cinco anos, mortes que poderiam ser evitadas se houvesse uma vacina disponível.

No ano atual, 2021, temos de um lado uma doença antiga, a malária, sem uma vacina, e do outro, uma doença recente, o coronavírus, que já possui várias vacinas disponíveis. Isso levanta a dúvida: por que ainda não existe uma vacina para a malária? E como essa realidade pode mudar graças ao coronavírus?

A malária é causada por um parasita chamado plasmódio, que é transmitido aos seres humanos através de mosquitos do gênero Anopheles. Diferente do mosquito Aedes Aegypti, que transmite a dengue e a zika, os mosquitos Anopheles, que são marrom com manchas claras nas asas, são os vetores da malária. Após o acasalamento, a fêmea infectada se alimenta de sangue humano e transmite o parasita para as pessoas. Em seguida, ela procura um local com água parada para depositar seus ovos, perpetuando a espécie de mosquitos.

É importante ressaltar que a malária tem tratamento, que consiste principalmente no uso de cloroquina. No entanto, o tratamento precisa ser iniciado logo nos primeiros sintomas da doença, o que se torna um desafio, uma vez que os sintomas da malária são semelhantes aos de várias outras doenças, como cansaço, dor no corpo e febre com calafrios. Um dos sintomas característicos da malária é a febre recorrente a cada 48 horas, mas muitas pessoas não ficam atentas a esse intervalo, dificultando o diagnóstico precoce.

O desenvolvimento de uma vacina contra a malária enfrenta dois grandes desafios. O primeiro é a complexidade do parasita. Os parasitas da malária são organismos muito mais complexos do que bactérias ou vírus, o que dificulta a identificação do alvo para a vacina. Isso porque o parasita passa por diversas fases durante seu ciclo de vida dentro do corpo humano, alterando suas características e se transformando em diferentes formas, cada uma capaz de infectar um tipo específico de célula. Descobrir qual estágio do parasita seria o melhor alvo para a vacina exige muita pesquisa básica.

O segundo desafio é que o parasita da malária consegue escapar da resposta imune do organismo. O plasmódio possui estratégias para bloquear e escapar da resposta imune, como diminuir a sobrevivência das células de memória do sistema imune, comprometendo o estabelecimento da imunidade de longo prazo. Isso faz com que a imunidade gerada após uma infecção prévia não seja capaz de prevenir a doença, e a pessoa pode sofrer reinfecções ao longo da vida.

Além desses desafios científicos, o investimento inadequado nos recursos financeiros também influencia a falta de vacina para a malária. A malária é considerada uma doença negligenciada, que afeta principalmente as populações mais pobres. Isso prejudica a prioridade e os investimentos destinados à pesquisa e desenvolvimento de vacinas para a doença. Enquanto nos últimos anos foram investidos quase dois bilhões de dólares em pesquisa para a vacina da malária, para vacinas como a do coronavírus, só nos Estados Unidos já foram investidos mais de 11 milhões de dólares em apenas um ano.

Apesar de todos esses desafios, existem atualmente cerca de 30 vacinas contra a malária em desenvolvimento, utilizando diferentes tecnologias e abordagens. Algumas delas mostraram resultados promissores nos estudos iniciais, estimulando a produção de anticorpos em grande quantidade. No entanto, ainda não foram capazes de gerar uma proteção eficaz o suficiente para serem aprovadas e distribuídas para a população.

Em abril de 2021, foi divulgada uma atualização promissora sobre uma vacina contra a malária. Essa vacina utiliza uma proteína do parasita juntamente com adjuvantes que estimulam o sistema imune. Os testes foram realizados em 450 crianças em Burkina Faso, um dos países com maior incidência de malária na África, e mostraram-se seguros e capazes de estimular uma resposta imune eficaz. A eficácia da vacina após um ano foi de 77%, e agora estão previstos novos estudos com um número maior de crianças e em mais países para avaliar a real eficácia da vacina.

Fica evidente que desenvolver uma vacina contra a malária não é uma tarefa fácil. É necessário um trabalho árduo dos cientistas, além de recursos financeiros adequados. A complexidade do parasita, sua capacidade de escapar da resposta imune e a falta de investimento são alguns dos obstáculos que dificultam o desenvolvimento de uma vacina eficaz. No entanto, os avanços recentes na pesquisa, impulsionados pela pandemia de coronavírus, trazem esperança de que em breve possamos ter uma vacina para combater essa doença que afeta milhões de pessoas em todo o mundo.

Fonte: VACINA DA MALÁRIA: POR QUE NÃO EXISTE ATÉ HOJE por Olá, Ciência!