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Flora bacteriana: conheça os benefícios e malefícios

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Bem vindos à Biomedicina Básica, o tema de hoje é a flora bacteriana. Bom, para começar, eu odeio esse termo “flora bacteriana”. O termo correto é microbiota endógena e se refere aos microorganismos que vivem no nosso corpo normalmente. A gente tem ideia de que os microorganismos são ruins e fazem mal pra gente, algumas vezes sim, outras vezes não, isso nem sempre é verdade. Só para vocês terem ideia, o nosso corpo é formado por, em média, 10 trilhões de células e nós temos habitando o nosso corpo, na pele, intestino, etc., algo em torno de 100 trilhões de bactérias e fungos. Ou seja, nós temos mais células de microorganismos do que células humanas, e esses 100 trilhões de microorganismos que compõem a nossa microbiota endógena, ou seja, nossa microbiota bacteriana, são essenciais para o funcionamento do nosso corpo. Eu preciso deles muitas vezes para sobreviver.

A gente tem inúmeras espécies de bactérias e fungos vivendo no nosso corpo, e algumas têm funções muito importantes, como a síntese de vitamina K, vitamina B12, ácido pantotênico, biotina, regulação de pH no nosso trato gastrointestinal e no nosso trato genital e urinário, estímulo do sistema imunológico, proteção contra invasão de outros microorganismos, etc. São realmente as bactérias e fungos que habitam o nosso corpo.

Muitas vezes, eles têm uma função importante. Os microorganismos podem ser divididos em três categorias: os mutualistas, que são aqueles que se beneficiam de viver, de morar no nosso corpo, mas também trazem um benefício para o nosso corpo. Um exemplo são alguns microorganismos que sintetizam vitaminas. A gente pode fazer um exemplo como o peixe piloto que fica lá no tubarão: ele se alimenta dos restos de comida que estão na pele do tubarão. Então, ao mesmo tempo que ele se alimenta, ele está limpando o tubarão. Esse seria um exemplo de algo mutualista.

Existem os microorganismos comensais, que estão tirando proveito de morar no nosso corpo. Eles pegam nutrientes, alimento, etc., mas não trazem nenhum benefício para a gente. E existem também os microorganismos oportunistas. Estes normalmente aparecem quando nós temos alguma queda de imunidade e acabam causando doenças. É importante salientar que qualquer microorganismo, mesmo muito listados ou comensais, podem causar uma doença em função da minha imunidade. Se eu tiver uma imunidade muito baixa, eu posso ter uma infecção. Um exemplo muito clássico é a candida albicans. A candida está presente no trato genital e urinário, nos genitais de todas as pessoas, e sabe-se que 70% das mulheres vão ter pelo menos um episódio de candidíase genital na vida porque, em algum momento, ela vai ter uma baixa imunológica por estresse ou algum outro fator, e a levedura se prolifera e causa a doença. Mas é uma levedura, um microorganismo que faz parte do nosso corpo. Então, a imunidade influencia se uma bactéria ou fungo mutualista ou comensal pode causar uma doença ou não.

A localização também é importante. Se uma bactéria ou fungo está comum no meu intestino grosso, mas não é comum na minha mão, caso eu a coloque nos olhos, eu posso desenvolver uma doença. A quantidade também é importante. Tem um equilíbrio entre microorganismos. Um exemplo: se eu diminuo muito a quantidade de bactérias no corpo, sobra mais espaço para os fungos se multiplicarem, e aí eu posso ter uma infecção fúngica. E vice-versa, é comum em crianças que recebem tratamento com antibióticos desenvolverem a sapinho, que é uma candidíase. Porque elas tiveram uma baixa na quantidade de bactérias, uma baixa na imunidade etc.

Existem vários fatores que podem fazer com que bactérias e fungos mutualistas e comensais causem uma doença, que normalmente, em condições normais, em condições fisiológicas, não causariam.

Exemplos de microorganismos: todas as pessoas têm Candida albicans nos genitais, 15 Trichomonas vaginalis que coloniza lactobacilos no colo, um estafilococo nos olhos, epidermidis no nariz, na pele, são os locais mais colonizados do nosso corpo. A boca, a cavidade oral, é extremamente rica em bactérias, tem trilhões de bactérias na nossa boca, diversas espécies, gêneros.

Uma coisa que a gente tem que lembrar quando estiver fazendo um exame laboratorial, na parte de microbiologia, é saber diferenciar colonização de contaminação e infecção. Quando estou analisando uma amostra de um paciente e estou procurando por uma bactéria ou fungo, tenho que ter em mente que aquela bactéria ou fungo que estou analisando pode ser uma bactéria da microbiota endógena, que não está causando nenhum problema, ou seja, está apenas colonizando. Pode ser uma contaminação. Um exemplo: fiz uma cultura, fiz três coletas, uma deu positivo e duas deram negativas para Staphylococcus aureus. Provavelmente, uma contaminação. E pode ser uma infecção, aí sim estou verificando o agente causador de doenças.

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Fonte: Flora Bacteriana? O que é? Amiga ou Vilã? por biomedicinabasica