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Tudo sobre a síndrome das pernas inquietas: causas, sintomas e tratamentos


Nós vamos abordar nesse texto o tema da Síndrome das Pernas Inquietas. Há uma razão para abordarmos esse tema no congresso de doenças vasculares, uma vez que se trata de uma síndrome constantemente relacionada a casos de eficiência da nossa circulação, seja por varizes ou pelo síndrome pós-traumática. Recentemente, nós tivemos, no projeto diretrizes, a descrição das manifestações das varizes e lá estão as pernas inquietas como sendo um dos sintomas.
No entanto, é preciso ficar bem claro que essa síndrome, também chamada síndrome de Willis-Ekbom (SWE), é uma doença crônica de natureza neurológica, caracterizada por sintomas exclusivamente objetivos, uma sensação de desconforto nas pernas, que se manifesta principalmente nos membros inferiores, mais especificamente abaixo do joelho nas panturrilhas, e que está presente no repouso e é aliviada por uma necessidade urgente de se mobilizar.
A prevalência dessa síndrome é variável de 5 a 15% na população adulta. Nos Estados Unidos, estima-se que 12 milhões de pessoas sejam portadoras da síndrome. É uma doença de meia-idade surgimento (27-41 anos) e é mais frequente em mulheres do que em homens. Pouco reconhecida pela saúde em geral, a SWE causa grande impacto na qualidade de vida do seu portador.
A SWE foi inicialmente descrita pelo neurofisiologista inglês Sir Thomas Willis, em 1672, e, no século passado, foi complementada sua discrição por esse neurologista sueco, o professor Karl-Axel Ekbom, que dá o seu nome a essa síndrome.
A causa desta síndrome é o mecanismo neurofisiológico fisiopatológico, e ainda não está bem desvendado. Parece que existe uma falta de inibição das estruturas córtex subcorticais, que vão conter com os movimentos voluntários. Uma verificação recente mostrou que havia uma diminuição de ferritina e aumento de transferirentina no sangue das pessoas portadoras da síndrome, sugerindo um comprometimento do metabolismo cerebral do ferro, e esse metabolismo ele estaria restrito a áreas específicas, ou seja, a deficiência do ferro é dada de ressonância magnética indicaria menor concentração de ferro nas regiões globo pálido e no núcleo rubro, que são locais onde existe esse controle dos movimentos voluntários. A deficiência de ferro traria como consequência uma alteração da função celular e uma diminuição da dopamina, neurotransmissor do sistema nervoso central, o que levaria a uma depressão dopaminérgica.
Existem diversos fatores de risco, começando pelo sexo e idade acima de 50 anos, gravidez, situações em que há deficiência de ferro, doação frequente de sangue, insuficiência renal crônica, uso de álcool ou bebidas cafeinadas, e fármacos que podem desencadear ou agravar a SWE, como anti-histamínicos e antidepressivos. Comorbidades como diabetes, doença de Parkinson, fibromialgia, artrite reumatoide e outras podem acompanhar essa síndrome.
Existe uma forma primária, onde a contribuição genética é significativa – 40-90% dos portadores da síndrome têm uma história familiar ao de outros membros da família portadores da SWE – e uma forma secundária, e 20-30% dessa forma secundária está associado a estados que levam à deficiência de ferro, com gravidez, insuficiência renal crônica e anemia. A associação com outras doenças é de até 7%.
O diagnóstico dessa síndrome é basicamente clínico e é feito através da avaliação dessa sensação desagradável de conforto nas pernas, que alivia com o movimento. Essa sensação desagradável é descrita de diversas formas: agulhadas, coceira, formigamento, como se insetos estivessem caminhando nas pernas, como se tivesse que dançar sozinho. Cada portador da síndrome tem uma forma de descrição; a intensidade e a frequência são variáveis de um paciente para outro. Em geral, aumenta muito à noite e piora a qualidade do sono. Existe um grupo internacional que estuda essa síndrome e estabelece critérios mínimos para o diagnóstico, baseados principalmente nessas sensações desagradáveis entre tornozelo e joelho, durante período de repouso ou de inatividade; o paciente sentado ou deitado é aliviado pelos movimentos. Algumas outras manobras sensíveis, como banhos frios ou quentes, postura específica, massagear as pernas, que também traz um certo alívio. Essa síndrome apresenta características circadianas, piorando principalmente à noite. As queixas são mais leves durante o dia e ocorre um pico de intensidade à noite. Existe um diagnóstico diferencial a ser feito com neuropatia periférica, com a claudicação vascular periférica, inclusive a insuficiência venosa crônica, síndrome de perna dolorosa com movimento de ar, telembra noturno. Os critérios de diagnóstico usados para crianças ou para pacientes denunciados da presença desse movimento periódicos durante o sono ou durante a vigília. A história familiar, a presença da doença em membros da família, e uma resposta significativa com dose baixa de agente dopaminérgico também são usados para o diagnóstico.
O diagnóstico complementar com marcadores bioquímicos (dose de ferro, ferritina, transferrina, entre outros), é importante, mas não é obrigatório. O diagnóstico é basicamente clínico. Existem exames também gráficos que são feitos para se detectar esses movimentos anormais, mas o fundamental é o diagnóstico clínico.
As primeiras opções terapêuticas são os agentes dopaminérgicos, usados para tratar a síndrome de Parkinson. A segunda opção é usar anticonvulsivantes ou antidepressivos. Essa é a forma de tratar a SWE. Evidentemente, se o doente tem outras situações, a higiene do sono, a suspensão de fármacos agravantes, evitar cafeína e álcool, o exercício físico e dormir, tratar comorbidade. Na forma secundária que acompanha a gravidez, da se leva a suplementação de ferro, na insuficiência renal crônico, da se orienta a suplementação de eritropoietina.
Em conclusão, podemos dizer que a Síndrome das Pernas Inquietas é uma manifestação neurológica que pode ser primária e secundária. A insuficiência venosa, a insuficiência vascular ainda como fator desencadeante da síndrome não como fator causal. O diagnóstico é feito com base exclusivamente clínicos e é indispensável à propriedade ou de laboratório. É necessário prestar atenção à diversidade de expressões que são utilizadas pelos brasileiros, principalmente para descrever esse desconforto que está associado à Síndrome das Pernas Inquietas. O tratamento farmacológico é feito especialmente com agentes dopaminérgicos, além de medidas gerais que promovam a higiene do sono.
Fonte: Síndrome das pernas inquietas. por SBACV – RJ