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Tratamento do Transtorno Obsessivo Compulsivo com a Psiquiatra Maria Fernanda Caliani

O Toque: Causas e Tratamento

Olá pessoal, aqui é a Dra. Maria Fernanda, psiquiatra, e hoje vamos falar um pouco mais sobre o Transtorno Obsessivo Compulsivo ou o TOC. Para quem não acompanhou, temos um vídeo em nosso canal falando dos sinais e sintomas mais comuns do TOC, mas hoje vou me aprofundar um pouco mais nas causas e tratamentos.

Por muitos anos, o TOC foi considerado uma doença rara pelos profissionais especializados em saúde mental, pois apenas uma minoria dos pacientes procurava ajuda. Acredita-se que muitas pessoas com TOC sofriam em silêncio e não exteriorizavam seus problemas para outras pessoas, tentando muitas vezes, conviver com seus pensamentos intrusivos e comportamentos compulsivos, e se envergonhando de seus sintomas.

Atualmente, sabemos que o transtorno afeta cerca de 2% da população em geral, o que significa que o TOC é mais comum do que a esquizofrenia e outras doenças mentais graves. Ele atinge uma em cada 40 a 50 pessoas e é considerado uma doença mental grave pela Organização Mundial da Saúde, estando entre as 10 maiores causas de incapacitação, o que significa que pode impedir a pessoa de trabalhar. O TOC é geralmente crônico, e se não tratado, os sintomas podem permanecer por toda a vida.

Os sintomas raramente desaparecem por completo, sendo mais comum haver flutuações ao longo da vida, com períodos em que os sintomas estão aumentando e outros em que estão diminuindo de intensidade. Ele pode atingir pessoas de todos os grupos étnicos, homens e mulheres, podendo inclusive se manifestar na infância a partir dos 9-11 anos de idade. Ele acomete principalmente adultos jovens na faixa etária dos 30 anos, e pode durar a vida toda, mas o pico de maior incidência é em torno dos 20 anos de idade.

Em relação às causas do TOC, o que sabemos atualmente é que ele tem uma base neurobiológica, como a maioria dos transtornos psiquiátricos, tendo uma causa multifatorial, ou seja, vários fatores estão envolvidos. Acredita-se que as pessoas que desenvolvem TOC têm uma predisposição biológica para reagir de forma acentuada ao estresse, ou seja, elas são mais sensíveis ao estresse, e quando diante de um estresse, podem apresentar pensamentos intrusivos e desagradáveis que geram mais ansiedade e mais stress, e assim, desenvolvem um círculo vicioso do qual não conseguem sair sem ajuda.

Algumas crianças e adolescentes também podem apresentar sintomas de TOC depois de uma infecção por uma bactéria chamada Estreptococo ou por algum trauma ou lesão cerebral. Os próprios pais muitas vezes se culpam ou acham que fizeram algo errado, mas a culpa não é deles. Isso tem a ver com uma base neurobiológica e outros fatores que estão interferindo na condição.

Entre os tratamentos mais frequentemente utilizados para o TOC estão as medicações e a terapia. As medicações utilizadas são os antidepressivos, que ajudam a reduzir os níveis de ansiedade e a controlar os pensamentos obsessivos. É muito comum usar doses maiores do que as doses utilizadas na depressão, e a resposta à medicação no TOC geralmente é mais lenta e pode levar até 12 semanas, ou seja, três meses para o paciente começar a responder.

Felizmente, foi desenvolvida uma terapia chamada terapia cognitivo-comportamental, que é capaz de melhorar em mais de 80% a qualidade de vida do paciente. Em muitos casos, essa terapia consegue eliminar os sintomas. A associação dessas duas modalidades de intervenção é a forma mais eficaz de tratamento.

A terapia cognitivo-comportamental atua através da exposição e prevenção de resposta. Nessa abordagem, o paciente é exposto ao objeto ou à ideia que tanto teme, tanto diretamente quanto pela imaginação, tudo com o acompanhamento do terapeuta. Ele é encorajado a não praticar os rituais que o impedem de viver a vida normalmente. Por exemplo, se a pessoa lava as mãos compulsivamente, ela será estimulada a tocar no objeto que não gosta, mas sem lavar as mãos em seguida, gradualmente, o paciente vai se desensibilizando e vai se habituando à situação, diminuindo a ansiedade gerada.

A terapia cognitivo-comportamental também utiliza uma técnica para corrigir as crenças e pensamentos distorcidos que existem no TOC. Ela treina os pacientes para identificar os pensamentos disfuncionais e também a questioná-los, discutir as evidências, testar a veracidade das crenças, e assim, o paciente começa a entender que uma coisa é ter um pensamento ruim, outra coisa é esse pensamento ser verdade. E isso faz uma grande diferença.

Espero ter ajudado vocês a entenderem um pouco mais sobre o TOC. Se tiverem mais dúvidas, coloquem aqui nos comentários, que terei o maior prazer em responder. Até a próxima!

Fonte: Como tratar o T.O.C (Transtorno Obsessivo Compulsivo)? Psiquiatra Maria Fernanda Caliani Explica por Neurologia e Psiquiatria