Pular para o conteúdo

Transtornos alimentares: como lidar com as doenças que afetam a relação com a comida


No Brasil, o número de pacientes com transtornos alimentares cresceu setenta por cento nos últimos três anos. Em alguns centros de tratamento, muitas vezes a não aceitação da própria imagem vista no espelho leva a esses distúrbios e a hora de comer se transforma na hora do pesadelo. Mas como sair desse ciclo que prejudica a saúde? É o que você vai ver a partir de agora na série de reportagens especiais do Jornal da Band: Perigos na Mesa.
Elas não se conhecem, mas têm histórias parecidas. São jovens que cresceram cercados de carinho, só que em algum momento deixaram de se amar. Bulimia: “Você acha que está totalmente no controle. Você acha que está vomitando só o que você acha que foi um excesso”. Anorexia: “Eu fazia jejum de mais de 24 horas. Eu ficava chupando gelo com função alimentar a comer dois pratos de comida e aí x 1 litro de leite. De comer quando tava doendo muito. Eu não conseguia mais comer nada ou quando acabava a comida”.
Os transtornos alimentares são doenças psiquiátricas graves que afetam a forma como o paciente se relaciona com a comida. A hora da refeição, que é momento de prazer para a maioria das pessoas, torna-se cercada de angústia para quem tem transtorno alimentar. Por isso, um dos primeiros sinais de alerta é quando a jovem ou jovem começa a evitar esses momentos de socialização envolvendo a comida.
Joana conta que os problemas começaram ainda na infância, quando ouvia dos amiguinhos cantando musiquinhas no recreio: “Falando que eu era gorda, baleia, sacode areia”. Joana testou várias dietas, mas um dia engordava de novo até que, aos 16 anos, descobriu sem querer um caminho aparentemente mais fácil: “Se eu comi um dia que eu comi demais, eu vomitei assim naturalmente porque tava passando mal. Ela invés de se sentir culpada, alguma coisa eu senti um prazer é absurdo. Naquele momento eu fiquei super aliviada”.
Com o tempo, os episódios de vômito se tornaram frequentes e em seis meses Joana perdeu 10kg, mas vieram também outras consequências: cansaço, queda de cabelo, anemia, até que teve uma crise por falta de potássio no sangue. Para ela, é muito difícil lidar com isso: “Tem vezes que eu penso que acaba com isso. Eu penso ‘nossa só que só queria voltar’, e você tem que aceitar. Aqui não tem tentar seguir”.
Não há uma única causa que explique o transtorno alimentar, mas existem fatores psicológicos, biológicos e sociais, como o ambiente em que vivemos. E é aí que está o perigo. Todas as semanas, nas consultas, aparecem casos como o de Joana e isso com muita frequência: “Me veja enorme. Eu fiz uma compulsão, ou eu vejo porque eu me vi numa foto, tava enorme. Então, eu não posso”.
Apesar do aumento no número de relatos de casos de transtornos alimentares, ainda faltam dados específicos sobre o tema aqui no Brasil. Mas um levantamento feito pela reportagem da Band nos principais centros de tratamento aponta que houve um aumento significativo no número de pacientes. Só no Instituto de Psiquiatria da UFRJ, um dos principais núcleos do país, nos últimos três anos, o total de pacientes cresceu cerca de setenta por cento. O grupo de obesidade e transtornos alimentares tem hoje cerca de 140 pacientes em acompanhamento.
O tratamento é longo, leva anos e exige uma equipe multidisciplinar. O transtorno alimentar acomete qualquer pessoa de qualquer classe social, de qualquer nível educacional e é preciso ter o sistema de saúde preparado tanto do lado público quanto no privado.
As pessoas de maneira eficiente. O psiquiatra Cordeiro agora está em uma pesquisa inédita sobre o tema que foram feitas cerca de duas mil e trezentas entrevistas no Rio de Janeiro para descobrir qual a prevalência do compulsão alimentar e bulimia, que é comer demais um curto espaço de tempo e vomitar depois. “A gente já concluiu o estudo de campo. Estamos analisando os dados têm realmente casos e que eles são muito próximos da frequência observada no exterior”. Pesquisas internacionais apontam que a compulsão alimentar atinge entre três e cinco por cento da população mundial. Quanto à prevalência da bulimia nervosa, varia de 0,3 a 0,5 por cento, mas entre as mulheres esse número dobra.
Esses dados vão servir para elaborar políticas públicas voltadas para os transtornos alimentares que hoje não existem por aqui. Na internet, por mais que tenham sido tomadas medidas como evitar a divulgação de perfis que exaltem os estudos, eles ainda resistem e influenciam meninas cada vez mais jovens.
Emmanuelle começou a apresentar sintomas de anorexia aos 12 anos. Descobriu na internet técnicas para emagrecer sem chamar a atenção e chegou aos 44 kg. Mesmo hoje, aos 22 anos, e tendo consciência do problema, aceitar o próprio corpo ainda é um desafio para ela: “Era uma coisa que eu escondia de toda minha família porque eu não queria preocupar ninguém. Então, eu jogava comida no lixo sem ninguém ver. Eu fazia várias coisas para que ninguém visse que eu estava mal”.
Na reportagem de amanhã, você vai conhecer o drama de crianças que sofrem com transtorno alimentar e como diagnosticar e tratar essa doença.
Fonte: Transtornos alimentares: as doenças que afetam a relação com a comida por Band Jornalismo