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Surto de febre amarela no Brasil: entenda as causas e consequências


Daqui a pouco, doutores França vão esclarecer aqui hoje em dia todas as dúvidas sobre a prevenção, os sintomas e o tratamento da febre amarela. Mas antes, para entender melhor como a doença cresceu tanto no Brasil, na reportagem de Lã Cortez da Mata surgiram os primeiros sinais: primatas mortos repentinamente, 26 parques fechados e uma investigação que trouxe de volta um risco que já desesperou o país em outras décadas – uma ameaça letal e para muitos ainda é desconhecida.
As ruas se percebe que para a população tudo o que já foi dito sobre a febre amarela ainda não é suficiente.
A febre amarela tem cura? Existe algum remédio que a gente possa tomar caso venha a ficar doente? A vacina previne? Menos em campo o santosa, que transmite a febre amarela? São perguntas que muitos têm feito e que precisam ser respondidas.
Para a população, o alerta chegou tarde demais, quando a situação já havia resultado em mortes. Muita gente subestimou o chamado para a imunização que deixou muitos autoconfiantes: “Eu sempre acho que comigo não vai acontecer”. Em uma época em que a maioria se deslocava para as festas de fim de ano e férias, passou despercebido que o risco estava perto demais.
Evolui rápido e é uma doença perigosa. O marido de Silvia pretendia se vacinar, mas deixou para depois. Não entendeu a urgência e não deu tempo.
O que a gente conhecia da febre amarela é que é uma febre, é uma doença tratável, mas na verdade, não tínhamos conhecimento.
Antônio Francisco de Lima tinha 47 anos. Ele morreu no dia 23 de dezembro. “Eu perdi meu marido e meu filho perdeu o pai. Em um monte de gente eu conheço perdeu o amigo, companheiro, colega. Talvez ele teria uma chance, tivesse feito os exames mais específicos, identificada a doença. Talvez teria levado para o hospital, talvez ele podia fazer o transplante, porque cogitar o transplante já no dia 22. Mas ainda deu tempo. O diagnóstico chegou 16 dias depois da morte. Foi repentino e cruel, a forma é que a todo momento ele sofreu, ele tinha muitas dores, dava muito remédio pra ele, e não sabia o que com quem estava lidando.”
Durante uma semana, Antônio foi atendido em dois hospitais particulares por quatro vezes. A primeira consulta, o pronto socorro indicou amigdalite. Estava tomando há dois dias, nenhuma melhora. Da dor de cabeça, dor no corpo, dor no peito. Ele falou que tinha gente já queimando uma injeção de antibiótico mais forte. Novamente, o paciente foi liberado. O promotor a ela falou: “Não, ele vai melhorar, vai vê-lo”. E ele morreu.
Antônio havia viajado para Mairiporã, região mais crítica do país neste momento. Foi de lá que surgiram os números mais alarmantes: 227 macacos encontrados mortos, e 95 tinham a febre amarela.
O município da Grande São Paulo fica na Serra da Cantareira, a maior floresta urbana nativa do planeta. Existem quatro parâmetros internacionais para identificar a doença. Dois deles dependem de análises laboratoriais, o que torna o diagnóstico mais demorado, podendo levar até dez dias.
O número de casos continua aumentando. “Infelizmente, nós vamos ter mais casos. Infelizmente, nós vamos ter óbitos”, diz um dos médicos entrevistados.
Gabriela é uma exceção nas estatísticas. Ela recebeu um novo fígado no primeiro transplante do mundo necessário por causa das complicações da febre amarela. As fotos mostram o trabalho que o engenheiro e os colegas faziam em Mairiporã na última vez que visitaram uma obra. Quatro dias depois, apareceram os primeiros sintomas. Os exames, a princípio, foram de dengue. Ela voltou para casa e começou a tratar.
Dos últimos surtos registrados no Brasil, a mortalidade chegou a 30%. Ou seja, a cada três infectados, uma pessoa morre.
A vacina da febre amarela é a forma mais eficaz de proteção contra a doença. A proteção é cerca de 95% a 98%. O organismo leva até dez dias para produzir anticorpos capazes de proteger contra a febre amarela.
Atualmente, os postos têm aplicado a dose padrão da vacina, mas com o avanço da doença, a partir do mês que vem, o Ministério da Saúde adotará uma nova estratégia: a dose fracionada que corresponde a um quinto da dose padrão. Assim, espera-se imunizar cerca de 20 milhões de pessoas em três estados e 75 municípios.
É preciso vacinar em curto espaço de tempo maior número de pessoas, já que há uma limitação de vacinas. Estudos apontam que essas doses fracionadas têm validade de proteção por até oito anos. Mas, na dúvida, é preciso buscar orientação médica.
A doença não é transmitida pelos macacos, mas sim pelos mosquitos que picam esses animais e podem infectar também os seres humanos. E esse perigo pelos ares pode aparecer em menos se espera. Um mosquitinho que inofensivo, mas que tinha uma vida, pode ser o transmissor da doença.
Por isso, a orientação é para que os visitantes só entrem em áreas silvestres ou regiões de mata precavidos. “Nós vamos ter a polícia ambiental, todos os nossos gestores em todas as portarias, é anunciando isso para as pessoas que o parque pode ser frequentado, pode ser um instrumento de lazer da comunidade, mas que as pessoas precisam estar todas vacinadas.”
Fonte: Entenda o surto de febre amarela no Brasil por Hoje em Dia