Pular para o conteúdo

[Saúde]

Prezados amigos, eu tenho prazer de estar aqui como toda obra. Sou Sosuke Droga Souza, coordenador de um serviço de arritmia da Rede D’or Brasil e nós vamos começar um pouquinho sobre anticoagulação em pacientes com fibrilação atrial.

Antes de mais nada, muito obrigado conversar conosco. Antes nós só tínhamos a Varfarina e a gente tratava todos os nossos pacientes com ela. Isso mudou muito na última década. Nós temos vários remédios (medicações) anticoagulantes não Vitamina K. E agora, nós temos um problema… Nós temos várias opções. Eu queria que a senhora contasse para gente qual é a melhor conduta, como a gente faz, agora, a anticoagulação dos nossos pacientes?

Confiar, Bruna, eu acho que não é um problema, é uma solução. A gente está vivendo realmente uma nova era no tratamento da fibrilação atrial com os novos anticoagulantes que não são tão novos assim, nós já temos no mercado brasileiro há pelo menos 6-7 anos em uso. Hoje, até a gente fala em anticoagulante de ação direta e não mais novos, porque novos já tem 6-7 anos de uso. E realmente eles vieram para mudar nossa prática no cenário de anticoagulação de pacientes com fibrilação atrial.

A gente usou a Varfarina muitos anos. Eu usei, você usou, porque era a única medicação que a gente tinha. E era uma medicação extremamente eficaz. Nada contra a eficácia da Varfarina, ela funciona muito bem. Mas a Varfarina tem uma série de limitações e uma série de complicações, e a complicação maior é hemorragia cerebral e, na maioria das vezes, é fatal para o paciente.

Então, no momento que você tem novos fármacos que mantêm a mesma eficácia que a Varfarina – alguns até superiores à Varfarina – e com um perfil de segurança melhor que a Varfarina, com redução de sangramento, principalmente sangramento intracraniano, sangramento fatal, sangramento que ameaça a vida, não tem porque não ser uma solução. E agora tem que escolher entre quatro novos anticoagulantes no mercado: Dabigatrana, Rivaroxaban, Apixabana e Edoxaban que entra agora no meio do ano. Qual é o melhor anticoagulante, de acordo com o meu perfil de paciente?

Isso é que a gente agora está aprendendo a utilizar exatamente isso, droga. E agora nós temos quatro opções no mercado e todas foram avaliadas em relação à Varfarina nos estudos que as trouxeram ao mercado. Mas elas nunca foram avaliadas cabeça a cabeça. E como seria uma regra básica para nós entendermos qual anticoagulante não Vitamina K nós usaríamos nesses casos?

Excelente pergunta, Bruna. Não existe uma receita de bolo. A gente tem que aprender a identificar as diferenças farmacocinética e farmacodinâmica que cada um dos novos anticoagulantes tem. Apesar de a gente ter duas classes, inibidor de trombina e inibidor de fator 10a, eles têm algumas características diferentes e essas características é que vão nortear a nossa escolha de acordo com o perfil de paciente. Por exemplo, a Dabigatrana tem uma maior eliminação renal. A Apixabana tem menor eliminação renal, 25% Dabigatrana, 80% do que vai pelo fígado, e 33% Edoxaban. A função renal, a gente tem que avaliar quando for utilizar esses novos anticoagulantes.

Os quatro estudos multicêntricos mostraram que a eficácia é semelhante, mas a segurança existe diferença, principalmente nos pacientes idosos. A Apixabana e a Edoxaban têm um perfil de segurança melhor no idoso, com menos sangramento. Então eu vou avaliar se o paciente vai ter uma aderência melhor à medicação (uma vez ao dia ou duas vezes ao dia); a Rivaroxabana em dose única; a Dabigatrana em dose BID. Ou ver qual é a função do rim do meu paciente. Vou ver se além da aderência e da função renal, qual é a interação medicamentosa, porque os novos anticoagulantes não são totalmente livres de interação. Existem interações pequenas em relação ao metabolismo do citocromo P450, então a gente analisa também quais são as medicações concomitantes. Acho que é um conjunto de idade, de preferência do paciente, de aderência de função renal que vai nos permitir, de forma mais cômica, permitir saber qual o melhor anticoagulante para cada subgrupo de paciente, idoso frágil, risco de queda, a mulher. E aí a gente vai aprendendo a utilizar.

Alguma última pergunta era relacionado a uma preocupação que os cardiologistas que os clínicos tinham no início da era dos novos anticoagulantes, um dos tripulantes não Vitamina K, que seria a falta do antídoto. Nós temos a Vitamina K com o Myfaria, e isso não existe no caso dos outros anticoagulantes. Essa preocupação existe. Essa preocupação deve ser vista como…

Eu acho que essa preocupação não existe. A história mostrou isso para a gente. A Varfarina, que é a antiga “carta aviada Farinha”. Também não tem antídoto. A gente consegue reverter mais, antídoto mesmo a gente não tem em relação à Varfarina. E ao longo desses anos, nós acabamos perdendo o medo de utilizar os anticoagulantes de ação direta mesmo sem antídoto porque a gente viu que sangrava muito pouco e quando sangrava, a grande vantagem deles em relação à Varfarina é que eles têm a minha vida muito curta. Então, só não tomar a segunda dose, você já se normaliza. E esse tempo de uso sem antídoto dá segurança para gente que não há necessidade.

Mas o antídoto é importante principalmente no cenário de um politraumatismo, de uma cirurgia de urgência ou um paciente que teve um AVC e vai precisar fazer trombólise. E a gente já tem no Brasil aprovado o agente reversor da Dabigatrana, que é o Idarucizumab, que já está disponível em vários hospitais. A gente já tem na região Norte, também, e foi apresentado agora na American College o agente reversor dos inibidores do fator 10a, que é o Andexanet. E que também, em breve, a gente deve ter a liberação aqui no Brasil.

A gente sabe que nos Estados Unidos deve ser aprovado ainda este ano. Acho que a gente vai ter todo arsenal pronto para atacar, utilizando e usar cada vez mais um paciente com fibrilação atrial.

Toda Olga, gostaria muito de agradecer a sua entrevista. Obrigado por compartilhar conosco o seu consumo, o seu conhecimento de ganhar a liga.

Fonte: Anticoagulantes da Fibrilação Atrial – Dra. Olga Souza por SOCERJ Cardiologia