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Dissociação de identidade: entenda as múltiplas personalidades

Transtorno Dissociativo de Identidade: Múltiplas personalidades

Olá, sejam bem-vindos ao Metodologia Não-Sônia. Eu sou biólogo e pesquisador e hoje vamos falar sobre o transtorno dissociativo de identidade, também conhecido como TDI, um distúrbio que faz com que uma pessoa tenha múltiplas personalidades.

Em 1981, um americano chamado Billy Milligan foi preso por abusar de três mulheres no campus da Universidade de Ohio. Durante a sua prisão e julgamento, um padrão bem estranho apareceu: uma das suas vítimas disse que ele se comportava como uma criança, enquanto outra vítima disse que ele tinha um sotaque alemão. Os policiais, os promotores e advogados tiveram a mesma impressão. Parecia que cada hora estavam falando com uma pessoa diferente, mas na verdade eram 24 pessoas, ou melhor, personalidades.

Segundo exame psicológico, Billy sofria de transtorno dissociativo de identidade e tinha uma série de personalidades com idades e até gêneros diferentes, algumas mais violentas, outras mais tímidas. Entre todas as identidades, uma delas, uma mulher chamada Adalha, assumiu os crimes. Nem o próprio Billy nem as outras personalidades tinham memória dos eventos. De acordo com ele, tanto que o veredito foi que ele não podia ser responsabilizado pelos crimes e, ao invés de ir para a prisão, acabou sendo internado em hospitais psiquiátricos.

Quem reconhece o transtorno dissociativo de identidade normalmente atribui a causa a traumas de infância. Com a defesa de Billy, que alegou que no caso dele era órfão de pai e abusado pelo padrasto aos oito anos de idade, em uma situação de estresse extremo a mente pode lidar com essa dissociação como se a outra pessoa realmente existisse, ou pelo menos como outra personalidade, o que inclusive usaram como a história de origem do filme Split.

Por isso, grande parte dos casos diagnosticados de TDI acontecem entre crianças que sofreram na infância e não tiveram apoio familiar. Como o personagem Kevin, em Fragmentado.

Pacientes com o TDI têm até problema de confiança interpessoal e problemas de rejeição. Quem tem a memória de pacientes com múltiplas personalidades viu que quanto mais particular de uma personalidade é uma memória, mais compartimentalizada ela tende a ser. As memórias neutras, como palavras aprendidas, são lembradas por todas as personalidades.

Então, a memória de uma briga com a bombinha, por exemplo, seria provavelmente exclusiva do Hulk, enquanto o conhecimento de física nuclear é exclusivo do Bruce. Mas se o Billy for aprender uma nova língua, o Hulk provavelmente entenderá.

Uma das explicações para memórias guardadas em uma única personalidade é a proteção contra trauma. Pacientes com estresse pós-traumático que passaram por experiências muito graves tendem a perder áreas do cérebro ligadas à emoção e memória, como hipocampo e amígdala, enquanto o paciente com personalidades múltiplas, mas sem o estresse pós-traumático, não tem essa perda.

Por isso, a troca de personalidades é comum em situações ameaçadoras, quando a personalidade que consegue lidar melhor com a situação assume. A identidade original tende a ser mais passível de pânico.

Tanto que as pessoas que sofrem do transtorno podem não registrar tempo nem memórias bem vivas. Outras do livro “Club da Luta” e isso claramente. Segundo quem acredita nas personalidades múltiplas, o que nem de longe é consenso, para muitos, as diferentes personalidades são mais um jeito de escapar da culpa em tribunais, como foi o caso com Billy, do que um estudo real.

Em 1988, por exemplo, um psicólogo entrevistou colegas de profissão e descobriu que 80% deles tinham recebido reações negativas, de moderadas a extremas, por outras da área quando manifestaram interesse por personalidade múltipla.

Como a maioria dos diagnósticos de TDI foram feitos pelas mesmas pessoas, se questionam se não são esses terapeutas interpretando casos com o TPI quando não eram, principalmente porque a maioria dos casos de personalidades múltiplas só foi diagnosticada depois da década de 70, quando o filme “Sybil” chamou bastante atenção para o transtorno.

O número de diagnósticos tem declinado recentemente também pela possibilidade de que, por mais que a associação de identidade exista, a forma como alguns terapeutas tratam seus pacientes encenação por pacientes que querem colaborar, mesmo que involuntariamente, nos casos de recuperação de memórias por hipnose, principalmente.

O próprio Billy Milligan só revelou 14 das 24 personalidades depois de ser hospitalizado e acompanhado e mesmo assim os crimes atribuídos a ele eram um mistério.

Apesar de toda essa controvérsia em torno de personalidades múltiplas, realmente existe uma mudança no trabalho. De 2015, dois pesquisadores de Munique, na Alemanha, depararam-se com um paciente que tinha perdido a visão depois de um acidente de carro 13 anos antes. Os seus olhos continuavam em perfeito estado, o que indicava que o problema não era fisiológico.

Durante o seu acompanhamento, ela manifestou mais de dez personalidades, algumas que falavam inglês, outras alemão, outras uma mistura das duas línguas. Durante o tratamento, uma das identidades começou a reconhecer palavras escritas, pouco a pouco mais personalidades foram recuperando a visão. Segundo o Science Alert, o córtex visual dela ficava inativo normalmente, mas voltava a funcionar quando uma identidade que enxergava assumia, até o ponto onde todas as entidades passaram a enxergar e ela recuperou a visão completamente, com ou sem personalidades.

Com ou sem traumas, a nossa mente é capaz de surpreender bastante. O filme Fragmentado mostra o personagem que é vivido pela ótima atuação do gênio James McAvoy, que possui 23 personalidades distintas e consegue alternar entre elas só com a força do pensamento. Essas personalidades entram em conflito quando uma delas captura três adolescentes que vivem em cativeiro. Elas passam a conhecer as diferentes facetas do Kevin e é preciso encontrar um meio de escapar.

O filme é escrito e dirigido por M. Night Shyamalan e tem sido muito elogiado por quem já assistiu. Vale acompanhar até a última cena. Fragmentado vai estrear no dia 23 de março no Brasil.

Fonte: Múltiplas personalidades e dissociação de identidade | Nerdologia por Nerdologia