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Como diagnosticar autismo em adultos – Guia Completo


Olá! Se você é fã de crochê e quer saber mais sobre autismo, seja muito bem-vindo(a) ao nosso fascinante mundo do autismo! Gente, ninguém vê autista quando ele é adulto e é diagnosticado somente na vida adulta. O autismo sempre esteve lá, foi isso que pirou minha cabeça quando aos quatro anos eu recebi o meu diagnóstico, aquela coisa que eu sempre repito, “eu não sou quem eu era e eu não era quem eu sou”. Quem sou eu? Eu tive que digerir essa informação por um bom tempo, o que foi ótimo, porque resultou no meu livro “Minha Vida de Trás para Frente”, em que desde a tenra infância até hoje, eu percebi como o autismo esteve presente na minha vida. Percebi também como na infância eu criei estratégias para me relacionar com a minha família, como eu copiei outros tantos modelos de amigas para conseguir ficar na escola. A escola não era para mim, mas eu não tinha escolha. Eu precisava estudar, afinal, sou de origem muito humilde, então eu tentei me adequar. Aqui eu consegui, mas foi com muito sofrimento na adolescência que você já conhece, todas aquelas questões da adolescência, né? Você vai se percebendo diferente, diferença no seu corpo, hormônios, aquela coisa toda. Imagine eu, que já me senti inadequada na adolescência. Foi com certeza a pior fase da minha vida.
Para começar, eu não queria crescer. Eu queria continuar sendo criança, queria continuar pulando, queria continuar…Mas, enfim, foi um período que eu sinceramente nem gosto de me lembrar. Mas eu já superei esse caso, né? Quando a minha filha fez 18 anos, ela me deu um toque: “Poxa mamãe, muita gente coloca as dificuldades do nosso relacionamento do dia a dia aqui em casa na conta do meu autismo”. Você vai pesquisar, eu já até tenho indicação do meu psicólogo aqui para o psiquiatra. Porque você também não é fácil, tem que ter algumas coisas aí na sua das suas características. Quem então diagnosticou o adulto? Vai ser o psiquiatra que entenda de autismo, vai ser um neurologista que entenda de autismo, pode ter uma avaliação de um neuropsicólogo que encaminha posteriormente para um psiquiatra, porque é um médico que dá o laudo, o diagnóstico.
Tem muita gente que fala assim: “Ah, mas pra que isso, que bobagem!” Eu respeito, tem gente na minha família mesmo que não quer o diagnóstico. Eu já passei a minha vida toda, tô de bem com a vida, aquela coisa toda…ok, respeito. Mas, no meu caso, eu não conseguia mais. Eu ainda tenho muitas dificuldades na minha vida diária e conhecer o diagnóstico significou o autoconhecimento, o que é maravilhoso para qualquer ser humano. Eu sempre achei a profissão de psicólogo super maravilhosa, em função disso. Quanto mais você se conhece, melhor você se posiciona no mundo. Então, para mim, foi e ainda é libertador. Eu estava cansada de toda vez que eu recebia um convite, eu gostava de receber convites, eu gostava de ir, mas eu não conseguia. Então, eu tinha um sofrimento. Desde quando recebia esse convite até eu decidir não ir, e aí eu sofria porque eu não fui, ou eu decidia ir e aí eu sofria porque eu fui. Eu tinha dificuldade em relacionar, em interpretar o papel social que me demandavam. Era um esforço tremendo que causava sempre enxaqueca, crises de choro, aquela coisa toda.
Eu aprendi a comunicar sentimentos e emoções, mas ainda é muito complicado para mim. Sempre sou aquela pessoa que diz: “Ah, bobagem, isso é muito feio ficar em casa”. Eu também tenho dificuldade de comunicar as minhas emoções, a diferença é a intensidade. Tudo isso que a pessoa “facilita”, eu também sinto igualzinho, tem que levar à enésima potência. Tem um lado positivo, quando o autista fica feliz, ele fica feliz demais. Aí até perguntam: “Por que você tá rindo? Do quê que você tá rindo? Por que você tá feliz?” Mas, também quando tá triste, fica triste demais. Então, a gente não deve desprezar esse momento quando a gente recebe o diagnóstico. Também na adolescência merece um cuidado especial, porque é uma fase em que a adolescência com suas complicações se mistura com as complicações do cérebro neurodivergente.
Assim, a empatia nessa fase da vida é fundamental. Não é à toa que a gente tem o índice 99 vezes mais de suicídio dentro do transtorno do espectro do autismo do que para as pessoas éticas. Então, muitos autistas, inclusive muitos adultos autistas, podem começar a namorar e a namorada para poder gostar de mim, que cara frio. E o que malha fria, não demonstrou a menor empatia. A empatia é uma habilidade que tem que ser treinada pelo autista. Por quê? Porque o autista tem a empatia mais para perceber a empatia. Existem códigos sociais dos quais o autista não tem conhecimento. Então, algo que é uma coisa natural para uma pessoa típica, para o autista tem que ser aprendido. Nada de virar e falar assim: “De quanto lá!”, que cara frio! Que adolescente sensível…Meu filho não me ama…Não gente, se a gente sempre debruçar o nosso olhar ao ser humano e não se preocupar em julgar para tentar justificar alguma coisa, a gente vai conseguir ajudar melhor as pessoas e construir uma sociedade mais humanística, mais democrática e mais harmoniosa.
É isso que eu desejo para mim e para minha filha. É isso que eu desejo para vocês. Um grande beijo e até a próxima!

Fonte: Diagnóstico de autismo em adultos por Mundo Autista