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Tratamento de eletroestimulação permite que pessoas com lesão medular voltem a andar.

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A Remarnadar treinar boxe e casar duas horas em pé tomando cerveja é algo impensável para três voluntários: um italiano, um suíço e um alemão que sofreram acidente de moto e ficaram sem os movimentos dos membros inferiores. Até passarem por um tratamento inédito, nunca antes uma pessoa com esse tipo de lesão tão grave tinha sido capaz de voltar a se movimentar dessa forma.

Michel sofreu o acidente há 4 anos e meio. A um ano e meio, ele recebeu o implante na medula. Perguntei o que ele agora é capaz de fazer e a resposta foi: “Devo aumentar o que eu não posso fazer. Eu consigo ficar em pé, andar, subir e descer escadas, nadar, pedalar, usar todos os meus aparelhos na academia. Vai ser aí que medirão a esperança que nasceu entre a Escola Politécnica e o Hospital Universitário de Lozano, aqui na Suíça.”

Depois de seis anos de estudos em humanos, um grupo de 70 pesquisadores publicou um artigo sobre um tratamento que, se as expectativas se confirmarem, pode significar um grande passo na vida de muita gente no mundo todo. Fomos recebidos por uma das principais autoras da pesquisa, Edenir Baclini. Suíça, filha de brasileiros. “Eu nasci aqui, mas o sangue é brasileiro”, disse a fisioterapeuta doutoranda em neurociências.

Edenir nos apresentou o laboratório e os equipamentos que tornaram o sonho realidade: “Essa tecnologia que a gente está desenvolvendo abre as portas para muitas coisas. Normalmente, nosso cérebro envia sinais através da medula espinhal para os músculos do tronco e das pernas. Quando acontece uma lesão medular, a comunicação entre o cérebro e os membros inferiores é afetada. Em casos graves, a comunicação é totalmente interrompida, causando a paralisia.”

Denise Fuly, a primeira etapa do estudo começou em 2016 com cirurgias para implantar eletrodos na coluna de 6 pessoas com lesões parciais na medula. Depois, esses primeiros seis pacientes trouxeram as informações que a equipe desenvolveu esse novo eletrodo. A pesquisa publicada esta semana na “Nature”, uma das mais renomadas revistas científicas do planeta, é sobre essa nova etapa, envolvendo três voluntários com quadros ainda mais graves de lesão medular completa e uma tecnologia mais avançada e precisa.

O novo tratamento consiste no implante de um eletrodo mais largo e mais longo entre as vértebras e a medula espinhal, na região lombar. Esse eletrodo é capaz de enviar os impulsos elétricos necessários para controlar o tronco e as pernas. Mas isso só acontece quando os aparelhos estão ligados.

Esse sistema aqui é completamente interno, então o fio vai passar embaixo da pele aqui do lado e vai ser conectado com esse minicomputador que está implantado também no abdômen, embaixo da pele. É como se fosse um marca-passo. Exatamente, só com programas diferentes que a nossa equipe desenvolveu. Os programas ficam num tablet, tem um para cada tipo de movimento, como andar, nadar, remar.

Deni usou esse aparelho quando Michel apareceu pela primeira vez, 10 dias depois da cirurgia para implantar o sistema: “Eu me levantei, todos no laboratório, engenheiros, fisioterapeutas, todos aplaudiram de pé. Já eu fiquei mudo por uns 10 minutos. Me emocionei de ver nós nadando.”

Ele conta que hoje já anda 600 metros de uma vez: “Espero, até meados do ano, conseguir um km direto”. Mas a tecnologia não faz milagres, fisioterapia e disciplina andam lado a lado no momento preferido do dia: “E quando eu volto para casa depois do trabalho, faço duas horas andando e fazendo exercício. É quando eu ligo a estimulação e começa a malhar.”

O Michel não vê limites. Diz que quando pensa numa atividade diferente, só precisa esperar até os engenheiros criarem um novo programa no tablet: “Travo até encontrar um bom programa para as coisas que eu quero fazer”.

Sim, o fato de ter que ter sempre um tablet por perto para mudar o movimento desejado ainda é um certo obstáculo no dia a dia. É uma limitação, e também não é ainda uma cura, mas é um grande passo na boa direção. Os pesquisadores estão trabalhando com mais afinco para simplificar e baratear o processo. O próximo passo será uma nova rodada de testes, dessa vez com entre 50 e 100 pacientes. Depois, se aprovada, a tecnologia estará disponível no mercado.

“A gente está falando, em geral, de uns 4 a 7 anos”, explica Edenir Baclini.

David foi um dos seis voluntários na primeira etapa da pesquisa em 2016, com o eletrodo na versão anterior, menos desenvolvido. Ele comemora os avanços: “O tratamento me ajudou a recuperar movimentos na parte de baixo do corpo”. Ele diz que não dá para sair por aí correndo, mas que ganhou sim mais autonomia. Se diverte com esportes como o kitesurf: “Eu espero um dia ir para o Brasil. Ouvi dizer que vocês têm belos locais para praticar. Tudo é possível”. Mas as “oi” de 1 aninho é o principal fruto que ele acredita que o implante tenha ajudado a semear: “Eu agora tenho uma filha que mudou minha vida ainda mais. Então, eu sou muito grato por tudo isso. São conquistas assim que enchem a gente de orgulho e ainda mais esperança. Só de ter você comentando “igual”, eu sou capaz de olhar nos seus olhos dando um pé. Eu não preciso olhar para cima. É uma promoção muito grande”.

Fonte: Pessoas c/ lesão medular VOLTAM ANDAR graças a tratamento inédito com eletroestimulação. 13/02/22 . por Segue o Giro c/ Denardo