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Transtorno Bipolar: Dicas para evitar crises com a especialista Maria Fernanda

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Oi pessoal! Sou a doutora Maria Fernanda, médica psiquiatra. Hoje estou de volta com mais um vídeo para vocês e hoje vamos falar um pouquinho mais sobre transtorno bipolar. Eu já fiz alguns vídeos anteriores falando um pouquinho sobre o tratamento e como se manifesta o transtorno bipolar, então para quem viu o vídeo, vai lembrar que o transtorno bipolar é um transtorno do humor que recebe esse nome justamente porque oscila entre dois pólos.

Temos o pólo da depressão, onde a pessoa fica mais desanimada, sem vontade de sair de casa, com tristeza, sem energia e o sono atrapalhado. E temos o pólo da mania, onde ocorre euforia, aceleração, irritabilidade e agitação, podendo até ficar agressiva devido ao excesso de energia no momento.

Sabendo disso, uma pessoa que tem transtorno bipolar e teve um episódio de depressão ou mania, consegue encontrar algo que possa fazer para diminuir a chance de ter uma nova crise. Assim como eu, que tenho um parente com transtorno bipolar e tenho medo de desenvolver a doença, será que tem algo que eu possa fazer também que me previna e me proteja do desenvolvimento do transtorno?

Bom, para responder a essa pergunta, vou fazer uma analogia com o infarto, que acredito que vai ajudar vocês a entender um pouquinho mais. O enfarto não começa no momento em que a pessoa tem dor no peito, ele começa com uma série de fatores como diabetes, pressão alta, hábitos de vida contributivos como fumar, sedentarismo e estresse, além de uma carga genética. Ou seja, quando a pessoa chega ao momento de ter uma dor no peito e desenvolver um enfarto, é porque já havia uma vulnerabilidade e hábitos de vida que contribuíram para isso. Assim também é com o transtorno bipolar.

O episódio maníaco que a pessoa com transtorno bipolar apresenta é um ponto na história de uma doença. Ou seja, a doença é resultado de uma carga genética, mas também da interação com o ambiente, a personalidade da pessoa, o estresse e a vulnerabilidade ao longo da vida. Sabemos que o transtorno bipolar é altamente hereditário, pacientes com parentes de primeiro grau com transtorno bipolar têm de 8 a 10 vezes mais chances de desenvolver o transtorno em comparação com o restante da população. São vários genes que contribuem para esse desenvolvimento, não é apenas um gene envolvido. Também sabemos que os fatores ambientais influenciam muito, pessoas com transtorno bipolar geralmente têm histórias de maus tratos, abuso emocional, físico ou negligência na infância. Além disso, histórico de bullying na escola também é comum. Esse transtorno costuma ter um quadro mais grave no Brasil, o tempo médio de desenvolvimento do transtorno bipolar é em torno de 11 anos.

Isso significa que entre o primeiro sintoma e a evolução até chegar num consultório médico e ser diagnosticado, existe um tempo muito grande. Durante esse período, a pessoa vai apresentando sintomas que mostram que algo está errado. Assim como no caso do enfarto, a pessoa vai sentindo sintomas que sinalizam que algo está se desenvolvendo. Pode haver labilidade de humor, oscilações de humor, depressão leve que arrasta por algum tempo, impaciência, agitação, distúrbios do sono, entre outros. Esses sintomas podem estar presentes ao longo da vida, sinalizando que já havia um processo psicopatológico em curso, sinalizando que era uma doença que foi se desenvolvendo aos poucos até que apareceu a crise aguda.

Para tratar adequadamente, é importante olhar não só para o presente, mas também para o passado e tentar prevenir novos episódios. O programa de prevenção serve também para evitar o progresso do transtorno. Se eu noto que estou dormindo menos, ficando mais irritado, discutindo mais vezes, brigando mais no trânsito ou recusando convites, se eu noto que meu funcionamento está diferente do habitual, devo buscar um psiquiatra para conversar. Não preciso esperar por uma crise aguda, pois o psiquiatra pode ajustar a dose da medicação, fazer terapia ou dar orientações para prevenir ou evitar que a próxima crise ocorra.

Outra coisa que podemos fazer é evitar o uso de antidepressivos ou psicoestimulantes, pois esses medicamentos podem aumentar a chance de uma nova crise. É importante promover a saúde mental, ter rotinas e hábitos regulares, dormir oito horas por dia, fazer atividades físicas, evitar o estresse e confrontos diretos, buscar ter uma melhor qualidade de vida em todos os aspectos, investir em terapia, principalmente a terapia cognitivo-comportamental que tem maior incidência no transtorno bipolar.

Se estivermos atentos à nossa evolução e como nos sentimos antes de ter uma crise, se estivermos atentos ao nosso dia a dia e buscarmos sempre uma boa qualidade de vida, conseguiremos evitar, retardar ou diminuir a intensidade de um próximo episódio maníaco ou depressivo e a progressão do transtorno.

Fonte: Transtorno Bipolar. Como evitar uma crise? Psiquiatra Maria Fernanda explica por Neurologia e Psiquiatria