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Por que 45% dos médicos sofrem de depressão e problemas de saúde mental: descubra os resultados da pesquisa.

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Doença Silenciosa: A Depressão

Uma doença silenciosa e que pode ter consequências sérias, a depressão atinge mais de 300 milhões de pessoas em todo mundo. Ela não escolhe idade, gênero ou profissão, e os médicos estão entre os profissionais que mais sofrem desse mal. Profissionais com vocação para curar e salvar vidas, dispostos a uma doença silenciosa e muitas vezes devastadora: a depressão.

Isso começa a te torturar dia após dia, comecei a ficar bem desanimado, bem prostrado. Assim, eu não saía mais porque a vida não é o que está acontecendo, porque tô afim.

Nos últimos anos, a depressão tem cada vez mais sido associada a uma expressão inglesa chamada “burnout”, estado de esgotamento físico e mental geralmente ligada à atividade profissional. Foi o diagnóstico que recebeu a ortopedista Maria Back, um quadro depressivo com algumas características marcantes entre elas: a fadiga, falta de vontade, motivação de ir trabalhar, o estado de desesperança e de despersonalização ao qual está exposta continuamente.

A ortopedista foi vencida pela depressão quando ainda fazia residência médica no estágio obrigatório durante a especialização e isso se reflete no jeito de você lidar com os pacientes, muito estresse, muito cansaço que você não sabe de onde vem. O estresse e cansaço que incomodavam a doutora Maria fazem parte do dia-a-dia de muitos profissionais da saúde.

A maioria dos 475 mil médicos em atividade no Brasil tem uma rotina estressante, atendem em mais de um hospital, fazem plantões prolongados e muitas vezes convivem com a falta de estrutura para um atendimento adequado. É o médico muitas vezes trabalhando muito tempo, ele pensa “bom, se eu não trabalhar esse final de semana, vou deixar de ganhar um valor de um plantão”, e daí ele começa a mudar um pouco a ordem das coisas ali e é quando começa a colocar a saúde em segundo plano e começa a abrir espaço para o crescimento.

O resultado muitas vezes pode ser devastador para a saúde dos próprios médicos. A depressão é hoje uma ameaça real para quem se dedica a tratar e curar pacientes. Pelo menos é o que indica uma pesquisa feita por um instituto que atua em vários países. O resultado é preocupante e atinge quase a metade da classe médica brasileira. De acordo com a pesquisa, 26% dos médicos admitam sofrer de burnout, 8% sofrem de depressão e 11% de burnout associado com depressão. No total, de acordo com a pesquisa, são 45% de médicos com algum problema de saúde mental.

O médico é exposto a longas jornadas de estudo e de trabalho, e ele lida basicamente com o sofrimento das pessoas. O médico, em média, trabalha entre 52 e 60 horas semanais, o que é bem acima da média de outras profissões.

Patrícia é pediatra e há mais de 20 anos, desde quando começou a estudar medicina, já percebeu que algo com ela não estava bem. “Engordei nesse um ano e meio, nesses dois primeiros anos de faculdade, e 20 quilos, 1360 quilos, cheguei a 80 quilos. A minha mente, a minha mentalidade girava em torno só de querer desistir de existir, largar”, relata ela. Embora na época a mãe de Patrícia correu atrás de ajuda, mas mesmo tomando medicamentos fortes, nada funcionava. Os sintomas pioraram depois que Patrícia passou a trabalhar em uma UTI pediátrica, onde descobriu que não estava preparada para lidar com a perda de pequenos pacientes.

“A cena da notícia da morte de um filho para alguém, a pessoa cair de joelhadas. Você tem que aguentar literalmente, levantar e abraçar a pessoa aos prantos ali. Então, é realmente são cenas muito fortes, muito forte, mas para quem não tem depressão, as cenas são fortíssimas, para quem tem depressão, está com essa problemática interior”, relatou.

Por várias vezes, nos longos períodos de plantão, Patrícia pensou em pôr fim a tudo. “Eu lembro claramente uma vez que estava debaixo de uma beliche no hospital que fica aqui na periferia de São Paulo, já estava deitada com a luz apagada, fingindo que eu estava estudando, quietinho, assistindo alguma coisa, mas estava pensando que está fazendo sentido? Olha só, fiz tudo, cheguei até aqui, estou incompleta, infeliz. E chegou a passar pela minha mente me parar com aquela dor, aquele sofrimento que ela falta de sentido na vida”, contou.

Entre os médicos, a depressão não escolhe especialidade. O doutor Leonardo é nutrólogo e passou a conviver com a depressão justamente quando a prática da medicina roubou todo o tempo que ele tinha. “Na época, fazia plantão, fazia 48 horas seguidas, não descansava, quando almoçava não jantava, fazia horário de descanso tudo para conseguir atender o pessoal direito. E para atender o pessoal direito, o doutor Leonardo se esqueceu da própria saúde”, relatou.

Um erro comum entre os profissionais da medicina. Talvez um médico precise nesse papel de sempre ser um servidor, de ajudar no cuida dos outros, um pouco de dificuldade para aceitar ajuda dos outros. E muitas vezes inicia-se um tratamento por conta própria e acaba postergando o tratamento de verdade para a depressão, que ela precisa ser feita com uma outra pessoa”, explicou o médico.

“Hoje, eu tô feliz! Maria Back é ortopedista que abriu esta reportagem, venceu a depressão quando mudou a rotina de trabalho. Ela abriu mão de alguns atendimentos, diminuiu a carga horária e redescobriu o sentido da medicina. “Sou muito feliz em poder estar especialista de pé, mas o que me deixa mais feliz é poder atender as pessoas que precisam, da maneira com que elas merecem. Melhor”, afirmou.

O doutor Leonardo também reorganizou a agenda, dedicou o tempo livre aos exercícios físicos e terapias. Um ano depois do diagnóstico, ele superou a depressão. “Durmo bem, tudo melhor, foi o melhor espetáculo que tive anos”, relatou.

A doutora Patrícia usou uma receita diferente para se livrar da doença. Para ela, o tratamento para a depressão incluiu uma boa dose de fé. “Eu voltava mais cedo e levantava na minha cama, abria a janela, bonitos. Já foi obrigada a agradecer, meu Deus, por eu cá estar. Foi a primeira vez que eu falava em mais de 100 anos”, contou. “Cerca de 12 anos iam sobrando que os pensamentos de que não tem saída, de que nada faz sentido, para que tudo isso? Voltei a sentir aquela força daqueles primeiros momentos, aqueles primeiros anos, e está sendo um momento de novo, momento que estou aprendendo muito”, finalizou.

Fonte: Segundo pesquisa, 45% dos médicos enfrentam depressão e problemas de saúde mental por Domingo Espetacular