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Oncologista explica o elo entre tabagismo e câncer de pulmão

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Cinco milhões de pessoas morrem anualmente no mundo devido ao cigarro, que é considerado pela Organização Mundial de Saúde como a principal causa de morte evitável. No entanto, um terço da população mundial adulta ainda é fumante. Para falar sobre o assunto, conversei com o Dr. Hélio Pinczowski, do Hemoal Médica Instituto de Oncologia e Hematologia.

Dr. Hélio, obrigado pela presença. Hoje temos dados que mostram que no Brasil o número de fumantes vem diminuindo nos últimos dez anos. O Programa Nacional de Controle do Tabagismo revelou que o índice de pessoas que consomem cigarros e produtos derivados do tabaco é 35% menor do que era há dez anos. No entanto, o tabagismo ainda está relacionado a 95% dos casos de câncer de pulmão em homens e 80% dos casos em mulheres. Existe alguma evidência de que essa diminuição no número de fumantes no Brasil seja mais efetiva na população jovem?

Dr. Hélio: É importante disseminar informações sobre os malefícios do tabaco. Quando mencionamos que 90 a 95% dos tumores de pulmão estão relacionados ao cigarro, é um dado extremamente alarmante e passível de prevenção com a suspensão ou redução do tabaco. Infelizmente, muitos adolescentes são expostos precocemente ao tabaco, o que aumenta o risco de desenvolvimento da doença. O câncer de pulmão é uma doença importante em todo o mundo, com significado social, econômico e de saúde pública. Embora haja uma diminuição no número de fumantes, ainda há muito trabalho a fazer.

Outra questão que surge atualmente é a substituição do cigarro convencional pelo cigarro eletrônico ou narguilé. Esses produtos são menos nocivos?

Dr. Hélio: É importante lembrar que o cigarro, charuto e cachimbo têm os mesmos malefícios que o tabaco do cigarro. Em relação ao narguilé e ao cigarro eletrônico, ainda há muita controvérsia sobre sua isenção de risco. No geral, há muitos estudos científicos relevantes discutindo o assunto. No momento, recomendaria não utilizá-los. Existem várias maneiras de parar de fumar, como o auxílio de um neurologista ou psiquiatra com o uso de ansiolíticos. Essas alternativas não devem ser seguidas no momento.

Existe algum benefício no uso do cigarro “light”?

Dr. Hélio: Nenhum cigarro tem benefício, “light” ou não. O número de substâncias encontradas dentro do cigarro é enorme e ao longo dos anos não apenas o câncer de pulmão está relacionado, mas também tumores em outras áreas como a orofaringe, laringe, língua, palato, além de tumores em outros locais, como bexiga, pâncreas, estômago e mama. Os problemas causados pelo tabaco são imensos, além dos problemas cardiovasculares. Portanto, não há benefício em fumar qualquer tipo de cigarro.

Agora, falando sobre políticas públicas, nos últimos dez anos houve um trabalho efetivo nessa área. O que tem sido feito e quais os resultados?

Dr. Hélio: A disseminação da informação sobre os malefícios do cigarro e o acesso às informações nos pacotes de cigarro e nos locais de compra são muito importantes para desencorajar o consumo. A proibição do fumo em locais fechados também é uma medida que estimula o abandono do hábito. No entanto, ainda há dependência do tabaco em muitos fumantes, o que requer mais ações para reduzir essa dependência e incentivar a cessação do tabagismo. As políticas públicas estão sendo bem feitas, mas devem continuar. A informação nas escolas deve ser mais frequente e as informações estão acessíveis na internet.

Dr. Hélio, como é feito o diagnóstico do câncer de pulmão?

Dr. Hélio: Na maioria das vezes, o diagnóstico do câncer de pulmão é feito quando a doença já está avançada. Os sintomas mais comuns são tosse persistente, dor torácica, emagrecimento e perda de apetite. Muitas vezes, o diagnóstico é tardio e a doença não é passível de cura. É importante a prevenção e a atenção aos sintomas para buscar auxílio médico. Se uma pessoa fumante apresenta sintomas como tosse persistente, perda de apetite, emagrecimento ou dor torácica, isso pode ser um alerta para procurar um médico e também pode ser um momento para repensar o tabagismo.

E como é o tratamento do câncer de pulmão atualmente?

Dr. Hélio: Estamos vivendo um grande avanço no tratamento do câncer de pulmão, principalmente aqui no Brasil. Existem tipos moleculares de câncer de pulmão em que é possível tratar o tumor com um comprimido por dia, dependendo das mutações identificadas. Além disso, a quimioterapia tradicional ainda é uma opção importante. Outro avanço é a imunoterapia, que faz com que o sistema imunológico ataque o tumor. É uma terapia com menos efeitos colaterais do que a quimioterapia e tem trazido grande benefício aos pacientes.

Por fim, o que dizer sobre os chamados fumantes passivos? As pessoas que convivem com fumantes também correm riscos?

Dr. Hélio: Com certeza. O convívio próximo e prolongado com fumantes e a inalação da fumaça do tabagista não ajudam e predispõem ao aparecimento do câncer de pulmão. Portanto, é fundamental não fumar no ambiente onde outras pessoas estão presentes. Além disso, é uma questão de respeito para com essas outras pessoas. A mensagem principal é cessar o tabagismo, pois a prevenção é a melhor forma de evitar o câncer de pulmão.

Gostaria de agradecer a participação do Dr. Hélio Pinczowski do Instituto Biomédico. Muito obrigado pela participação!

Fonte: Oncologista fala sobre relação entre cigarro e câncer de pulmão por TV CÂMARA SÃO PAULO