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Herpes-zóster: o que é, causas e tratamentos – Coluna #61

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Uma das frases mais verdadeiras na área da saúde é: “Prevenir é melhor do que remediar”. Quem pode discordar que a melhor forma de lidar com a doença é não pegá-la? Nós, médicos, sempre reforçamos a importância da alimentação e da atividade física, que são fundamentais para prevenir uma série de doenças. Mas a gente sabe como é difícil para muita gente manter um estilo de vida regrado.
Nesse sentido, de todas as formas de prevenção, as vacinas se destacam como uma das mais eficazes. Tomando as doses corretamente, fica-se imunizado e assim diminuímos muito o risco de pegar uma série de doenças. E o melhor de forma segura.
Vira e mexe surge uma onda perigosa de movimentos anti-vacinação. Não caia nessa! Ao longo da história, as vacinas se mostraram um dos métodos mais seguros para salvar milhões de vidas. Há doenças que simplesmente não existem mais em várias partes do planeta, graças unicamente às vacinas.
O Brasil tem um dos melhores programas de vacinação do mundo e uma das principais razões desse sucesso é que as vacinas são para todos, desde bebês até os mais velhos. Os brasileiros são bastante familiarizados com as vacinas na infância, como a BCG contra tuberculose e as vacinas contra catapora e meningite. E nos últimos tempos, com as campanhas de vacinação contra a gripe, começaram a ficar mais conhecidas as vacinas para as pessoas mais velhas. Vacinas que são extremamente importantes para prevenir doenças potencialmente graves nessa faixa etária, como pneumonia, coqueluche, difteria, tétano e uma menos conhecida, a vacina contra o herpes zoster.
O herpes zoster é uma doença viral causada pelo mesmo vírus da catapora, o varicela-zoster. As duas doenças guardam algumas semelhanças, mas também diferenças importantes. Quando uma pessoa pega a catapora, o vírus pode ficar adormecido em um nervo e se manifestar anos ou mesmo décadas depois, tirando proveito da queda da imunidade, como acontece com o envelhecimento natural do sistema imunológico, principalmente depois dos 50-60 anos de idade.
Nos Estados Unidos, dos estimados 1 milhão de casos de herpes zoster por ano, aproximadamente 70% ocorre em adultos com 50 anos ou mais. Pessoas em tratamento quimioterápico contra o câncer ou sob estresse intenso, por exemplo, também apresentam um risco maior. Cerca de 30% daqueles que tiveram catapora poderão ter herpes zoster em algum momento da vida. Aos 85 anos, cinco em cada dez pessoas terão herpes zoster.
Quando o vírus começa a se manifestar, a pessoa sente um pouco de formigamento ou dor em alguma região do corpo. Geralmente, um ou dois dias depois, surge naquele local uma lesão bem parecida com as da catapora. São pequenas vesículas, bolhinhas cheias de líquido. Conforme o vírus caminha pelo nervo em que ele estava alojado, as vesículas vão surgindo, acompanhando o trajeto desse nervo afetado. Cerca de sete dias depois, as lesões vão secando e formando pequenas cascas que caem.
Às vezes, as lesões são bastante numerosas e, como se concentram em uma mesma região, dão a impressão de ser uma única lesão maior, com aquela cor vermelha típica da inflamação. Uma característica que diferencia bem o herpes zoster da catapora é que as lesões do herpes zoster ficam limitadas, restritas a um lado do corpo. Elas acompanham o nervo em que se originar, ou seja, uma lesão que se inicia, por exemplo, na região intercostal, pode vir de trás da coluna e vai avançando, mas nunca passa da região do externo, nunca passa do meio do corpo.
Em geral, as lesões não causam complicações maiores, mas quando atingem a face, o vírus pode acometer os nervos que vão para o olho e causar uma inflamação da córnea, chamada de ceratite. Nesses casos, é necessário consultar um oftalmologista, pois esse quadro pode levar a problemas visuais graves e exigem cuidados específicos.
Conforme o vírus caminha pelo nervo, ele pode provocar dor. Em crianças e jovens, a dor costuma ser fraca e não demanda cuidados maiores. A doença acaba cedendo espontaneamente. Mas quando o paciente é mais velho, geralmente com mais de 50 anos, a inflamação do nervo pode causar uma dor intensa, chamada de neuralgia, que pode atingir áreas sensíveis, como a cabeça. Essa dor pode exigir a administração de analgésicos fortes. Nessas situações, a dor não só é forte, como pode ser muito duradoura, permanecendo por mais de 100 dias. Isso caracteriza uma condição que nós chamamos de neuralgia pós-herpética. E uma porcentagem dos casos, essa dor pode até se tornar permanente, podendo durar meses e, às vezes, anos.
Diferentemente da catapora, o herpes zoster não se transmite de uma pessoa para outra por via respiratória. Mas como o líquido das vesículas contém o vírus, ele pode ser transmitido por contato. Para evitar a transmissão, é recomendado que a pessoa com herpes zoster lave sempre muito bem as mãos, fique atenta caso as vesículas estourem, cobrindo a região com uma gaze para evitar que o líquido vaze, e não compartilhe objetos pessoais que possam ter tido contato com as bolhas, como toalhas e roupas íntimas.
O tratamento é feito com antivirais, que reduzem a duração do quadro e o surgimento de novas lesões. Quanto antes os medicamentos forem administrados, melhor. Daí a importância de se reconhecer logo os sintomas para chegar rapidamente ao diagnóstico.
Fonte: O que é herpes-zóster? | Coluna #61 por Drauzio Varella