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Gastroenterite em cães e gatos: sintomas, diagnóstico e tratamento (Arca de Noé Clínica Veterinária)

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Toda pessoa que tem um bichinho de estimação e já teve um dia vai ter um episódio de gastroenterite neles. As gastroenterites são doenças que atingem o sistema digestivo e causam vômitos e diarreia. Para facilitar o entendimento, vou dividir em dois: número 1, as gastroenterites causadas por fatores ou agentes externos, e número 2, as gastroenterites causadas por agentes ou fatores internos.

Os fatores externos incluem infecções, como o vírus da parvovirose ou coronavirose, bactérias como a salmonelose ou leptospirose, parasitas protozoários como a verminose, fatores alimentares como alimentos estragados ou contaminados com toxinas, e gestão de objetos estranhos como plástico, pedaços de ossos ou pedras. Também estão inclusos fatores ambientais como calor excessivo ou poluição e agentes químicos que agridem a mucosa digestiva.

As causas desencadeadas por fatores internos incluem reações inflamatórias, sejam crônicas ou agudas, causas alérgicas como alergias alimentares, tumores como o linfoma intestinal, tromboembolismo, doenças orgânicas como insuficiência renal ou pancreatite, desequilíbrios hormonais ou metabólicos como hipertireoidismo ou deficiência pancreático-biliar.

Enfim, como vocês podem ver, tem uma infinidade de fatores que precisamos avaliar. Vou falar um pouco sobre a parvovirose.

Eu tive a honra de fazer estágio com o primeiro veterinário brasileiro a relatar a parvovirose, o Dr. Aíque Buchoteme de Campinas. O Dr. Aíque não se limitava a fazer um papel de veterinário, ele era um verdadeiro cientista da nossa profissão. Na minha opinião, foi um dos veterinários mais brilhantes que o nosso país já teve.

Quero aproveitar para agradecer outros dois grandes mestres que já não estão mais entre nós e que admiro muito: o Dr. Élio Markavinski, um dos desbravadores da nossa profissão aqui no Paraná, e o Dr. Max Milliano, lá de São Paulo, que é praticamente um dos precursores da veterinária de animais de companhia no nosso país.

De 1976, quando surgiu a parvovirose, até 1996, quando a vacina ficou mais efetiva, qualquer pessoa que entrava em uma clínica veterinária já sabia pelo cheiro: era um cheiro de parvo. Os internados e doentes tinham aquela diarreia intensa e o dono já trazia para a clínica um rastro de diarreia do carro. E ficava aquele sangue na recepção, parecia que estava acontecendo uma tragédia. De tanto sangue, o carro do dono já ficava todo emporcalhado. Era terrível aquela época.

Esses 20 anos foram cruéis. A gente fazia quase uma produção em série. Na mesa de terapia, eles ficavam enfileiradinhos, aqueles filhotinhos. Para desinfetar era uma loucura. A parvovirose foi durante muito tempo a primeira causa de gastroenterite e até hoje continua sendo em certas áreas onde as pessoas não têm o hábito de vacinar.

Como vocês percebem, não é uma tarefa fácil fazer o diagnóstico final. O cão não pode contar o que comeu de diferente, ele não pode dizer por que está passando mal. E tem um montão de doenças diferentes que causam exatamente os mesmos sintomas. Portanto, o seu veterinário vai precisar se desdobrar para conseguir fechar o diagnóstico.

Ele geralmente vai pedir alguns exames e acha importante, por exemplo, exames de fezes para identificar verminoses, ecografia para tumores, informações sobre alterações na anatomia ou na circulação vascular quando feito com doppler, radiografias para identificar obstruções como ossos ou metais com contraste para observação de corpos estranhos, além de endoscopia para identificar alterações na mucosa ou tumores.

Também são importantes os exames de sangue, que fornecem informações como a presença de anemia, alterações na coagulação, pancreatite, problemas nos rins e no fígado. As infecções geralmente aparecem nos exames de sangue, por exemplo, podemos descobrir qual a bactéria que está causando a infecção através de exames com anticorpos ou PCR.

O tratamento vai depender do diagnóstico diferencial, mas basicamente fazemos assim: em primeiro lugar, tentamos eliminar a causa, por exemplo, usando um vermífugo ou fazendo uma cirurgia para remover um objeto obstrutivo. E em segundo lugar, controlamos as consequências, fazendo a reidratação com soro oral ou na veia, dependendo de cada caso, associado ao controle dos eletrólitos.

Portanto, fica o nosso alerta: se o seu amiguinho teve vômito ou diarreia, seja com sangue ou sem sangue, com cheiro forte ou normal, sempre motivo de preocupação. Pode ser uma condição passageira, mas também pode ser o início de uma situação muito perigosa. A gente tem que estar sempre muito atento.

Fonte: Gastroenterite: Vômito e Diarréia em Cães e Gatos (Arca de Noé Clínica Veterinária) por Arca de Noé Clínica Veterinária