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Escala de Katz na geriatria: avaliação da autonomia e funcionalidade do idoso

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E aí, começa a aula! A gente vai usar a escala de Katz para avaliar a funcionalidade do idoso a partir das atividades básicas de vida diária, atividades estas que são responsáveis pela independência do idoso.
Então, essa escala avalia o nível de independência de cada paciente. Nada mais é do que uma lista de tarefas que a gente vai preenchendo se ele é capaz de executá-las ou não, a partir da entrevista, observação e conversa com o paciente e com o acompanhante. No final, a gente pontua e avalia o quanto ele é capaz de executar aquela tarefa de maneira totalmente independente ou até com alguma adaptação. A gente classifica o paciente como independente.
Essas atividades básicas são aquelas atividades relacionadas ao autocuidado. Aquelas mesmas atividades que a gente aprende na nossa evolução no aprendizado, desde criança. A gente aprende a se alimentar, aprende a engatinhar, começa a andar, começa a fazer a transferência, sair do berço e ir para a cama dos pais, começa a ter controle dos esfíncteres, o desfralde, deixa de usar as fraldas, começa a conseguir trocar de roupa sozinho, começa a ter cuidado com a higiene, tomar banho, e esse é o a ordem natural de aprendizado na infância, o que acontece de maneira inversa na idade adulta. A gente vai perdendo essa capacidade de autocuidado e de manter a independência.
Quais são essas atividades básicas de vida diária que a escala de Katz avalia? Vou formalizar uma por uma:
1. Capacidade de se alimentar: Entenda que aqui eu não estou falando da capacidade de preparar a refeição e muito menos de preparar o seu prato, é de conseguir levar e conduzir o alimento até a boca e conduzir o alimento da boca até o estômago, a deglutição. Dependendo da capacidade que o paciente tem de realizar essa tarefa básica simples, a gente vai dizer que ele é independente ou não.
2. Controle esfincteriano: Aqui a gente tem o exemplo urinário, mas também posso levar em consideração o controle esfincteriano anal/fecal. A incontinência fecal pode acontecer com patologias do ânus, especificamente, ou por fatores como uma mucosite actínica, por exemplo. A incontinência urinária é um pouco mais comum, principalmente no público feminino mais idoso, pois diversos fatores, como a gravidez, alterações hormonais e frouxidão do assoalho da musculatura pélvica, podem gerar a incontinência urinária. No público masculino, também é comum, especialmente após uma ressecção transuretral de próstata ou devido à hiperplasia prostática, gerando uma dificuldade na micção, com sintomas de disúria, por exemplo. Outra situação que acontece é a “urge-incontinência”, em que o paciente não consegue chegar a tempo ao banheiro. Isso pode ser resolvido com cirurgia ou fisioterapia para reforço muscular.
3. Atividade física: A transferência é outra atividade básica e, às vezes, o paciente tem uma osteoartrose importante no joelho ou no quadril, o que gera dor e limita a sua marcha. E aí, ele chega no consultório, o filho falando: “O papai está urinando na poltrona”. E se a gente não avalia a funcionalidade adequadamente, usando os recursos adequados, como por exemplo a escala de Katz, a gente vai achar que o problema desse idoso é a próstata, é o assoalho pélvico, e vai esquecer de observar que essa urge-incontinência é porque ele não chega a tempo ao banheiro, por um “relógio muscular” que poderá ser resolvido com uma cirurgia ou fisioterapia para reforço muscular. Aí vocês começam a observar qual a real importância da avaliação da funcionalidade. Onde já se viu incontinência urinária ser diagnóstico diferencial de osteoartrose na geriatria? Essas coisas acontecem.
4. Higiene pessoal: Após a realização de suas necessidades fisiológicas, como urinar e defecar, o paciente é capaz de lavar as mãos e executar uma higiene adequada. Porém, às vezes isso é prejudicado por fatores osteomusculares ou por outras patologias, como o Parkinson ou a esclerose lateral amiotrófica.
5. Autocuidado relacionado às atividades de vestir e tomar banho: Em diversas patologias, esse autocuidado pode ser comprometido, como demência e alteração glicêmica. Isso pode gerar tontura, por exemplo, e o paciente não consegue abaixar a cabeça, dificultando a troca de roupa e o ato de calçar os sapatos. Além disso, questões osteomusculares da coluna, do quadril, do joelho, podem limitar o paciente nessas atividades.
Todas essas atividades que eu acabei de falar são as atividades básicas de vida diária que estão nesse exemplo aqui de uma escala de Katz que eu desenhei para vocês. Na primeira coluna, a gente tem as atividades que a gente acabou de conversar, e aqui está a descrição de cada uma delas. Se ele consegue executar essa tarefa de maneira independente, com alguma adaptação, ou não. A gente aplica essa escala perguntando ativamente para o idoso ou para o acompanhante e vai pontuando, dizendo sim ou não. No final, a gente diz se ele é totalmente dependente, parcialmente ou totalmente independente.
Essa escala tem suas variações, mas o que importa é que vocês entendam o conceito do que é atividade básica de vida diária, que elas estão dentro da escala de Katz, que ela avalia a funcionalidade, avalia o grau de independência do idoso.
Em resumo, essa escala avalia as atividades básicas de vida diária e avalia o grau de independência que o idoso tem. A escala de Katz busca ativamente aplicar-se a qualquer paciente com síndrome demencial ou não e até com outras patologias. A gente pode aplicar isso ao paciente com trauma raquimedular, por exemplo. Ela não avalia nem diagnostica a síndrome demencial. E ela serve muito para a gente como um acompanhamento evolutivo desse paciente. Porque quando a gente avalia esse paciente funcionalmente, a gente identifica qual a demanda específica que ele tem. A gente traça um plano terapêutico individualizado, o diagnóstico diferencial entre infecção urinária, incontinência urinária e osteoartrose. A gente executa um tratamento direcionado para a demanda específica e avalia no futuro, aplicando novamente a escala, o quanto de independência que a gente devolveu, para que a gente previna que ele perca a independência na evolução da doença de base.
Fonte: Geriatria: Escala de Katz por Jaleko Acadêmicos