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Cuidadores de familiares com Alzheimer: como lidar com a doença de um ente querido

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Reportagem sobre o Alzheimer

Na última reportagem da série sobre o Alzheimer, a gente mostra três histórias que se cruzam:

  1. A história da neta que se pergunta o que mais ela pode fazer;
  2. A história da filha que, mesmo não sendo mais reconhecida pelos pais, nunca duvidou do amor deles;
  3. A história da esposa que tratou a depressão para continuar cuidando do marido.

Obrigados muitas vezes a abandonar a carreira e a vida pessoal, os cuidadores se fortalecem nos grupos de apoio. É compartilhando dolorosas experiências com outras pessoas que desenvolvem a afetividade onde existe o esquecimento:

“Quando você começa a descer no fundo do inferno, no começo, a ficar desesperado, acha que vai morrer sufocado, que não vai ter força. E mais, cara, que se olha do lado, você está carregando mais alguém. É como se esquecessem da gente. Eles afundam comigo, então assim, eu tinha que estar forte, tem que ser forte porque estava segurando a vida deles também.”

“Meu pai era o meu capitão, ele era meu norte. Eu sempre quis ser igual. E aí, quando ele começou a fraquejar, eu falei: ‘Agora chegou a minha vez de ser capitão de navio’. Então, eu acho que foi isso. E vem uma força não sei de onde, é de Deus, é do universo, é do eu. Não sei de onde veio, é da gente mesmo quando a gente se permite ser forte. E eu fui até o fim, não ia morrer do meu lado…”

“Ele passou por todas as fases em um ano. Chegou um dia que ele não estava mais andando, aí outro dia ele não estava falando, aí outro dia, assim. É uma ladeira, que é essa, em frente. Então, chega uma hora que você fala ‘se é bom, é o que temos, é o que nós temos para hoje'”.

“O mais difícil é quando a gente vê que ela fica triste, que ela percebe que tem coisa errada, que ela não consegue fazer o que ela não sabe e ela fica triste. Aí é muito difícil para lidar com isso, é onde corta-se o coração da gente. A gente fala, ‘o que mais eu posso fazer?’. Para o meu trabalho, eu dispensei os clientes, eu parei o doutorado, eu perdi aquela clínica. Eu vendi alguns móveis, as plantas morreram, nunca mais voltei a ter tudo. O cuidador familiar perde tudo, você perde emprego, perde dinheiro, perde a razão, a saúde…”

“No começo, eu fiquei muito desesperada, eu fiquei imprimida, eu chorava muito. Então, um médico falou: ‘A senhora também precisa fazer tratamento’. Então, eu tomei remédio para depressão. Eu dou umas cochiladas, mas ele se mexe, ele se engasga, qualquer coisa eu já tô de pé. E chorava muito, tinha vontade de sumir mesmo. Mas pediu insistentemente para levá-los de volta para casa, papai nunca saiu da sua casa, mas a casa saiu dele. Eu não tinha ninguém com quem falar, com meu pai. Do que eu já fiz um blog…”

“Tudo o que acontecer, eu vou pôr no blog. Pode ser que alguém leia e fale: ‘Isso está acontecendo comigo também’. Começa a aprender muito.”

“Ao deu depois de um tempo, acho que uns dois, três meses, que eu comecei a interagir. Comecei a falar como ele era e tal. Muito bom e seguro, porque a milhão humorada, tenho ótimo. Me ajudou muito… E as pessoas escrevem, a gente não está mais sozinha. E no fundo, eles não estão sozinhos. Temos três grupos, temos 30 mil pessoas na comunidade. O grupo privado tem 22 mil e pouca e outro tem no meu, tem mil pessoas.”

“Às vezes, assunto nas minhas filhas e minha filha chega ele olha, eles sorriem. E bem assim, embora essa moça quem é. É assim, imagina você dar um mergulho no vácuo, perder a sua raiz, que desconhece o chão…”

“Eu sei que minha mãe me amava. Falava: ‘Linha tem uma dúvida? Muita gente que faz espuma. Lucy é minha mãe ou a minha irmã? Eu sou sua filha, a brincadeira para o baixo. Eu tenho filho. Foi bom então achava preferível que eu seja sua mãe com sua irmã?’ Acho que, para ser sua mãe, não tô acabadinha, né? A falecer. Humana. E pode ser que quando eu falei pra minha mãe, achava: ‘Não tem medo de morrer não?’. Fui eu. Eu vejo a vida…”

Quando você tem um paciente com Alzheimer e você tem o privilégio de ser cuidador, por pior que seja, você tem um messi que está te ensinando 24 horas por dia. Algumas vezes são extremamente importantes.

A primeira delas é a fragilidade da vida. Tudo é fácil, então sabe para cada nariz empinado, você 30 a serra. Então, sabe, abaixa a crista. E a outra é valorizar quem está partido, se lançar. Era pago tudo, mas ele não paga o amor. E o Alzheimer ensina que a gente não é nada. Amanhã passa fazendo xixi aqui e ali enquanto fala com você.

Isso me faz menos do que eu sou. Todos os depoimentos são impressionantes, mas o da amiga que a gente fez um chá preto é bastante engraçado. Mesmo ela se reinventou com a força que nem sabia que tinha e ainda ajudou outras pessoas.

Bom, se você perdeu alguma das reportagens especiais sobre o Alzheimer ou quer rever o material, acesse o nosso site www.noticias.arrobareporterbrasil.com.br.

Fonte: Familiares tornam-se cuidadores quando um ente querido tem Alzheimer por TV Brasil