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Análise psicológica do Complexo de Édipo em Psicose e Os Pássaros por Alfred Hitchcock

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Dois Filmes Clássicos de Alfred Hitchcock e o Conceito de Complexo de Édipo

Olá, eu sou o psicólogo Ricardo Chagas e o vídeo de hoje é sobre dois filmes clássicos da história do cinema: Psicose de 1960 e Os Pássaros de 1963, ambos dirigidos por Alfred Hitchcock. Esses filmes foram baseados no conceito de complexo de Édipo, de Sigmund Freud. Se você gosta de cinema e psicologia, você veio ao lugar certo! Se inscreva no canal e deixe um like.

Lembrando que este vídeo contém spoilers desses dois filmes. Não é por acaso que Alfred Hitchcock é considerado o mestre do suspense. Seu primeiro filme, um curta-metragem chamado “Always Tell Your Life”, foi lançado há quase cem anos, em 1923, e suas habilidades como diretor impressionam até hoje. A icônica sequência de Norman Bates assassinando Marion no chuveiro é conhecida até por aqueles que não apreciam a sétima arte.

Hitchcock sempre dominou o cinema técnico e foi capaz de incorporar diversas metáforas visuais que refletem os aspectos psicológicos populares, em especial a psicanálise de Freud. O complexo de Édipo pode ser encontrado em dois de seus maiores clássicos, Psicose e Os Pássaros, como uma camada subjetiva, metafórica e interpretativa dessas obras.

Para estruturar o conceito do complexo de Édipo, Freud baseou-se na tragédia grega “Édipo Rei”, escrita por Sófocles, que narra a jornada de Édipo, um homem amaldiçoado pelos deuses que, desconhecendo suas próprias origens, mata o pai e se casa com a própria mãe. Freud dizia que, já na infância, o filho começa a desenvolver uma afeição especial pela mãe e a rivalizar com o pai em uma disputa de posse por ela.

Ele propôs cinco estágios de desenvolvimento da criança e o complexo de Édipo integra o estágio fálico, que ocorre dos 3 aos 6 anos de idade. Nesse período, a criança sente a ansiedade da castração. Em seu ensaio “Conferências Introdutórias à Psicanálise”, Freud explica: “mas ainda não dizemos qual é o real que a criança teme como consequência de estar enamorada da mãe. É o castigo da castração, a perda do seu membro, do complexo de Édipo. O filho teme a castração pelo próprio pai e, por essa razão, tem vontade de matá-lo para tomar a mãe como esposa”.

Em Psicose, talvez o clássico absoluto de Hitchcock, podemos observar claramente a aplicação desse conceito freudiano no relacionamento de Norman e Norma Bates. Perceba que os nomes da mãe e do filho são bastante parecidos, indicando uma conexão íntima entre eles. Norma era uma mãe psicologicamente abusiva durante a infância do filho. Depois da morte do marido, eles passam a viver isolados do resto do mundo. Quando Norma já era adolescente, decide se casar com outro homem, e em uma crise de ciúmes, Norman mata o casal. A partir daquele ponto, Norman perde não só a mãe, mas também esse objeto de desejo. Para suprir a ausência materna, ele se veste como Norma, fantasiando-se dela em situações.

O filósofo esloveno Slavoj Žižek apontou, por exemplo, que os três andares do hotel Bates representam um aparelho psíquico proposto por Freud. O superego, ou seja, a função relacionada à moral e à culpa, é representado pelo andar superior, onde Norma se transforma na mãe, sua representação máxima de uma figura de autoridade. O porão da mansão, onde ele preserva o cadáver de Norma, é a representação do id, ou seja, a função relacionada aos instintos e ao princípio do prazer. O lobby do hotel Bates representa o ego, ou seja, a função que realiza uma mediação entre o superego e o id. Quando está no lobby, Norma não se comporta de maneira socialmente adequada. Quando Marion chega ao hotel Bates, Norma a recepciona com sorriso no rosto, mas depois que vai buscar algo para os dois comerem na mansão, ele tem uma discussão em voz alta com a mãe, ou seja, consigo mesmo, expressando sua fúria interna. Quando Marion se despe, Norma espia através de um buraco na parede, seu desejo sexual por ela faz com que ele reviva seus conflitos psíquicos e, assim como fez com a própria mãe, Norma não mata Marion, transferindo para uma nova vítima toda a sua fúria castrativa. Essa cena é uma das mais clássicas da história do cinema.

A utilização do complexo de Édipo também está presente em Os Pássaros. Mas antes de prosseguirmos, vou pedir para você se inscrever no canal para mais conteúdos como esse. Além disso, deixe nos comentários qual outro filme você consegue identificar o complexo de Édipo.

Diferentemente de Psicose, Os Pássaros possui diversas interpretações, desde uma análise social em que as aves representariam a classe operária até um significado ecológico em que os ataques seriam uma reação da Natureza contra a humanidade. Mas, na visão psicanalítica, os pássaros representam as necessidades femininas das quatro mulheres, o único protagonista do sexo masculino do filme, Nick Brenner.

Perceba que essas mulheres estão emocionalmente conectadas a ele. Sua mãe, Lídia, é extremamente apegada ao filho e fica ainda mais dependente após a morte do marido. Sua ex-namorada se muda para Bodega Bay só para continuarem próximos, já que não conseguiu superar o término do relacionamento. A irmã enxerga nele uma figura protetiva após o falecimento do pai. E Melanie, a grande protagonista do filme, tem uma intensa atração sexual por ele, o que desperta emoções conflituosas nas outras mulheres.

Em inglês, a palavra “bird” (o pássaro) pode se referir também a uma mulher jovem. Na interpretação freudiana, os pássaros que atacam Bodega Bay representam os anseios e neuroses femininas das quatro mulheres. Perceba que eles só começam a atacar a cidade após a chegada de Melanie, sem explicação científica para tal. Só nos resta a explicação simbólica: as aves são manifestações dos medos das outras mulheres na vida de Nick. Lídia teme ser abandonada e ter seu filho tirado de debaixo de suas asas. Melanie teme o fracasso do novo relacionamento, sem aprovação da sogra. Cathy teme que Melanie engate um relacionamento com o ex-namorado e teme que o novo relacionamento do irmão não dê certo, fazendo-a passar por outro processo de perda em sua vida.

No final do filme, Melanie é ferozmente atacada pelos pássaros no sótão da casa, mas sobrevive ferida. Ela consegue se conectar emocionalmente com Cathy, e depois disso, os pássaros parecem se acalmar e os Brenners conseguem finalmente levá-la a um hospital em São Francisco.

Apesar dos dois filmes se basearem essencialmente no mesmo conceito psicanalítico, as dinâmicas entre os personagens são distintas. Enquanto em Psicose temos um exemplo de um complexo de Édipo não resolvido, em Os Pássaros até encontrarmos uma dinâmica edípica conflituosa, mas que é resolvida durante o desenvolvimento da trama. Apesar do relacionamento antagônico, Lídia conversa com Melanie em vários momentos, tentando compreender suas atitudes mais liberais e confessando seus medos e anseios. E a lição que fica é justamente a de que nada é mais terapêutico do que conversar, como o próprio Freud costumava dizer. A cura das neuroses acontece justamente através da fala.

E se você gostou desse vídeo, compartilhe com alguém especial que goste de cinema e psicologia. Cuide bem da sua saúde mental e até a próxima!

Fonte: O Complexo de Édipo em “Psicose” e “Os Pássaros”, de Alfred Hitchcock | ANÁLISE PSICOLÓGICA por Minutos de Sanidade