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Dr. Drauzio compartilha sua experiência com a febre amarela na coluna #56

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Falar sobre a febre amarela é importante, especialmente em lugares como Minas Gerais, onde temos recebido várias perguntas sobre o assunto. Muitas pessoas querem saber se devem tomar a vacina e se ela é necessária. Posso falar por experiência própria, pois tive a doença no ano de 2004 quando estava fazendo um trabalho de pesquisa na área do Rio Negro, através da UNIPA.
A vacina contra a febre amarela é essencial, especialmente se você pretende viajar para áreas de risco. Eu me lembro da primeira vez que fui para lá, foi uma visita muito curta, mas trabalhei bastante. Cheguei em Manaus numa quinta-feira à noite e fomos direto para o Rio Negro. Voltei no sábado à noite e estava me sentindo bem. Mas logo depois comecei a sentir frio, um arrepio de frio que não passava. Achei que era apenas o frio, mas logo percebi que estava com quase 40 graus de febre. Mesmo cansado, fui trabalhar no dia seguinte. No terceiro dia, a febre começou a piorar e fui internado numa quinta-feira.
A doença tem sintomas semelhantes aos da dengue, como febre alta e dor nas costas. É uma doença grave e a mortalidade geral é alta, calculada em cerca de metade dos casos. Não há remédio específico para o vírus da febre amarela, o tratamento consiste em medidas de apoio para reduzir os sintomas e evitar complicações. Eu cheguei a um estágio muito difícil da doença, com febre alta e icterícia (amarelão), e a mortalidade chegava a 80%. Tive sorte de estar entre os 20% que sobrevivem, provavelmente porque fui protegido pela vacina que tomei na adolescência.
A Organização Mundial de Saúde recomenda apenas uma dose da vacina, mas os infectologistas no Brasil recomendam duas doses, a primeira e a repetição após pelo menos dez anos. É importante lembrar que a vacina pode ter efeitos colaterais, sendo que cerca de um em cada 400 mil indivíduos pode apresentar um quadro semelhante à própria doença. Portanto, não é viável vacinar toda a população, especialmente em grandes cidades como São Paulo.
A febre amarela se divide em dois grupos: silvestre e urbana. A forma silvestre é adquirida através dos mosquitos que picam macacos, enquanto a forma urbana é transmitida pelo Aedes aegypti, o mesmo mosquito que transmite a dengue. No Brasil, o último caso de febre amarela urbana foi em 1942, graças à eficiência dos serviços de saúde pública.
Se você já tomou uma dose da vacina, o risco de contrair a doença é pequeno. No entanto, é recomendável receber a segunda dose após dez anos. Se você não vai viajar para regiões de risco, não há motivo para correr atrás da vacina. Por outro lado, se você vai para essas regiões, especialmente em épocas de surto, é recomendado tomar pelo menos a primeira dose.
É importante ressaltar que a vacinação contra a febre amarela é segura para pessoas com mais de 60 anos, a menos que haja alguma contraindicação médica específica. Em situações como viagens para países que exigem a vacina, essas pessoas são liberadas da vacinação por não terem necessidade de recebê-la. No entanto, se estiverem indo para uma área onde o vírus está circulando, é recomendável que também sejam vacinadas.
Eu compartilhei minha experiência com a febre amarela, desde a internação hospitalar até minha recuperação, escrevendo um livro sobre o assunto. Conto o que aconteceu e faço algumas reflexões sobre o contato com essa doença grave que me levou à beira da morte.
Fonte: Dr. Drauzio fala sobre quando pegou febre amarela | Coluna #56 por Drauzio Varella