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A ansiedade pode ser tratada pela psicanálise – Christian Dunker | Falando nIsso 27


Bem-vindos ao Falando Nisso de hoje! Em nosso canal no YouTube, recebemos a pergunta de Fátima de Almeida Domingues sobre os transtornos ansiosos. De fato, os transtornos da ansiedade são os diagnósticos mais frequentes. Em um estudo recente sobre a epidemiologia da saúde mental em São Paulo, foi demonstrado que até 10% da população sofre com transtornos do espectro da ansiedade. A pergunta dela é se isso é orgânico e se isso pode ser tratado pela psicanálise. A experiência clínica mostra que os quadros de ansiedade são perfeitamente tratados e com bons resultados pela psicanálise.
No entanto, precisamos fazer algumas distinções sobre o que é a ansiedade e sua separação em relação à angústia. O medo, em geral, está ligado a uma experiência que conseguimos nomear. Freud já dizia que o medo era ligado a um objeto. Já a ansiedade é quando o objeto começa a se esfumaçar, e não sabemos direito qual é o medo, há uma indeterminação, mas sabemos que algo está para acontecer. Essa ansiedade tem a ver com o desejo, é uma crise do desejo, de expectativa de mais, de querer muito uma coisa e não saber se ela vai acontecer ou não, ou de querer muito algo e ter o receio de não consegui-lo.
A angústia propriamente dita seria um quadro além dessa escala de medo e ansiedade. Ela aparece no que chamamos de pânico, que aliás, foi descrito pela primeira vez pelo próprio Freud como neurose de angústia. O espectro da angústia envolve ainda outra forma de manifestação muito frequente, que são os quadros atuativos ou a passagem ao ato. São aquelas formas de ansiedade que muitas vezes não são percebidas como tal pelo próprio sujeito, nem pelos que o rodeiam, porque são resolvidas com ações. Então, em vez de pensar ou sentir, as pessoas vão fazendo, resolvendo com ações.
Na realidade, esses quadros são treinados por fantasias, e a pessoa está sempre preocupada em controlar coisas que vão acontecer na realidade naquele momento, na semana seguinte ou no futuro próximo. Assim, acaba produzindo uma espécie de super dependência em relação às contingências da realidade.
Do ponto de vista da clínica, o plano da angústia está ligado ao plano da depressão e, portanto, com o desejo. A angústia é o lugar em que o desejo aparece ao sujeito como extraído, reduzido a uma certeza. É indexado à experiência de que somos apenas um corpo. Portanto, diz Lacan: “não é que falte um objeto na angústia, mas que ele estaria excessivamente presente, não como um objeto empírico, não como objeto dotado de imagem, como é o caso da fobia e do medo, mas é na sua presença de objeto A que é a fonte essencial do trauma”. Isso é o mal encontro, o não simbolizável e é o grão de real que determina a causalidade em nosso desejo.
O tratamento das sociedades, em suas diferentes modalidades, é o redimensionamento da relação do sujeito com o desejo. Essa redução tenta diminuir a captação desse desejo pelo ego, pelas imagens narcísicas, pelas demandas do mundo e pelas formas de gozo corporais. Dessa forma, o tratamento da angústia e da ansiedade passa pela subjetivação do desejo. Parece simples, mas é só isso que fazemos. A ansiedade pode nunca desaparecer, mas pode ser algo que jogue a nosso favor.
Fonte: A ansiedade tem saídas pela psicanálise? | Christian Dunker | Falando nIsso 27 por Christian Dunker