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Traficantes utilizam códigos para comercializar drogas em São Paulo

Preste atenção nesta reportagem exclusiva! Traficantes estão usando códigos para vender drogas e não chamar a atenção em boates e casas noturnas de São Paulo. Os entorpecentes mudam de nome e só quem sabe as senhas tem acesso ao vendedor. Nossos repórteres foram a várias baladas da noite Paulistana e flagraram a ação dos traficantes, sem a menor fiscalização. É o que você acompanha agora com o apresentador André Azeredo.

A diversão perigosa e criminosa há poucos passos da pista de dança. Nas baladas, usuários têm à disposição um menu completo de drogas perigosas. Não conseguiu entender a lista de produtos do traficante? Na badalada noite Paulistana, as drogas mudam de nome, são os códigos do tráfico para tentar confundir um pouco. Quando cai no popular, eles pegam e mudam essa nomenclatura, já vem com outra coisa, para a gente ter que fazer interpretação novamente.

O dicionário das drogas foi inventado nas boates e casas noturnas porque o consumo de ketamina, metanfetamina e cocaína exige discrição de quem compra e de quem vende. Esses apelidos facilitam a comunicação no mercado ilegal. Os códigos sobretudo dão segurança aos traficantes, que em tese só vendem as drogas para os clientes que já conhecem esse esquema, e a venda tem lugar certo para acontecer: dentro dos banheiros das casas noturnas e das boates.

Na conversa com um dos frequentadores, conhecemos o primeiro código: significa vendedor em inglês, ou seja, o traficante. Ainda do lado de fora, recebemos a segunda senha: sem banheiro. É no banheiro da maioria das festas que a negociação é feita. Aqui, o lugar é frequentado por homens e mulheres. O espaço é grande, muito movimentado. Para encontrar o traficante, somos levados até a box individual, onde fica o vaso sanitário. São quatro pessoas num espaço bem apertado.

O homem que vende a droga é o que aparece de camiseta amarela. E aqui descobrimos outros códigos. É como os usuários chamam a cocaína, e tem mais. Daqui, a bala é o conhecido ecstasy, droga sintética que ficou popular em festas de música eletrônica. Na lista do tráfico, tem ainda o “Gi” ou “GHB”, um entorpecente líquido. A droga é um anestésico criado pela indústria farmacêutica, mas que chegou nas mãos dos traficantes e nas baladas.

Nessa outra casa noturna, a droga vendida é a “Key”, apelido para ketamina, um anestésico de uso veterinário geralmente aplicado em cavalos. Nas festas, os usuários ainda consomem outro tipo de entorpecente: a Tina, ou metanfetamina, vendida em forma de cristais, uma substância ilícita que age como estimulante. Como as senhas da ponta da língua, a compra é rápida, ainda dentro do banheiro.

Nosso repórter investigativo flagra um usuário que vai pagar a droga usando “pics”. Repare a quantidade de jovens no banheiro, próximo à porta onde está o traficante. Eles esperam a vez para negociar a droga. Não flagramos seguranças das boates nos banheiros. Os clientes são revistados antes de entrar nas casas noturnas, mas segundo esse jovem, isso não inibe o acesso dos traficantes.

A revista é a coisa mais fácil de se enganar. Esse outro rapaz enfrentou filas em banheiros de balada para comprar drogas. Hoje, tenta se livrar do vício que quase o levou à morte, com uma seringa na veia. Durante anos, ele usou metanfetamina. Hoje, faz tratamento e toma remédios para conter a falta da droga.

“Financeiramente, me afastei do meu emprego, algo que adorava”, conta ele. Este delegado da divisão de investigações sobre entorpecentes de São Paulo afirma que donos de casas noturnas podem ser responsabilizados pela venda de drogas nas boates: “Pode perfeitamente ser responsabilidade, se você perceber e dá para perceber qual que é a participação dele, se ele sabe que tem aquilo, se ele faz vista grossa. E se ele é coagido, se for apurado, ele vai responder por associação ao tráfico, mas com certeza”.

Mas os códigos do tráfico também estão do lado de fora das baladas. Rodeada de bares, a Praça Roosevelt, no centro de São Paulo, fica lotada, e não é difícil encontrar quem reconheça as senhas do tráfico. O traficante dá detalhes do produto para não perder a venda. Ele também aceita o pagamento em pics e, às vezes, em cartão de crédito.

E fazendo uma transferência via “pics”, o homem que circula pela praça com estoque de drogas diz que já foi condenado por tráfico e confessa ter medo de ser flagrado pela polícia: “Toda vez que sou abordado, eu abro a minha bolsa, mostro tudo o que eu tenho, daí eles (a polícia) falam, ‘tá tranquilo'”.

Toda a droga comprada durante essa reportagem foi descartada. O dicionário do tráfico ele conhece bem. O rapaz passou os últimos seis anos comprando drogas dentro de baladas. Dependente químico, ele abandonou um emprego, ficou sozinho e sem dinheiro. Por conta própria, o rapaz decidiu largar o vício e apagar da memória os códigos do tráfico que conheceu nas baladas de São Paulo, quanto mais rápido possível.

Fonte: Exclusivo: Traficantes usam códigos para vender drogas em São Paulo por Domingo Espetacular