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Jovem obesa vive vida limitada: Quilos Mortais na Discovery Brasil

Eu nunca vou mudar

Tudo dói, minhas costas doem, minhas canelas doem, eu tô muito limitada no que eu posso fazer e aonde eu posso ir. Na maioria das vezes, eu tenho que me levar no andar de baixo. Eu me sinto presa, infeliz, me sinto um monstro nojento e não gosto disso. Eu não gosto de ser essa pessoa, não gosto de ser desse tamanho. Às vezes me sinto tão desesperada que acho que talvez não valha a pena, quem sabe? Teria sido melhor se eu nunca tivesse nascido.

A minha relação com a comida não é saudável. Eu passo muitas horas do meu dia preocupada com o que eu vou comer e quando eu posso comer. Já tá pronto? Já, já tá pronto? Faz tempo que eu não sabia. Não consigo ficar mais de 30 minutos de pé e a maior parte da minha comida é feita para mim pelos meus familiares. Eu como umas quatro ou cinco vezes por dia e não consigo encarar a realidade de quantas calorias eu como, então eu não conto nada. Fico na expectativa antes de comer, mas não é uma sensação agradável. É um sentimento de desespero e tristeza. Obrigada, é um conforto e me ajuda a evitar a realidade.

Tenho muita ansiedade e me sinto mal, mas quando como, eu fico em paz. Quando eu tô comendo, não tenho que pensar no quanto eu decepciono os meus entes queridos. É preocupante. Com a comida, ela se acalma e fica menos ansiosa. Mas agora, ela está comendo em excesso, sem controle. Ela perdeu sua independência, está praticamente presa em casa e eu não sei como ajudar. Sinto que meus pais me veem como um fracasso, um erro que eles não podem corrigir. Há muito tempo eu sei porque me sinto assim.

Venho lutando com a balança a minha vida toda. Quando eu tinha 5 anos, acho que já pesava uns 73 kg. Eu era uma criancinha que não sabia cuidar de si mesma emocional ou fisicamente. Eu sabia que as pessoas expressavam seu amor por mim me dando guloseimas e eu tentei me amar e cuidar de mim. Quando eu tava com 16 anos, fui ao médico e me levaram até uma balança especial nos fundos, feita para pessoas que estão em cadeira de rodas. Me puseram na balança e eu pensei: é isso, sou maior do que uma pessoa mais um equipamento. Durante todo o ensino médio, ainda estava muito acima do peso. No último ano, quando ela se formou, acho que estava pesando 193 kg. Fui para faculdade, mas continuei engordando e fui ficando cada vez mais introvertida. Não queria mais trabalhar, não queria dirigir. Fiquei com depressão e eu não entendia.

Eu vou largar a escola, foi o que ouvi, por que continuar? Eu me sinto como se tivesse decepcionado aos meus pais e a mim mesma. Ela sempre achou que não estava à altura das nossas expectativas, que sempre foi uma decepção para nós. Minhas pernas estão fracas demais. Eu não consigo. Ela se transformou na típica fracassada. Vejam muita piedade no rosto da minha mãe quando ela olha para mim. Acho que o que ela sente por mim é tristeza. Precisa de ajuda.

Eu não aguento isso, porque não me chamou para ajudar? Porque eu não quero ajuda, eu queria fazer sozinha. Às vezes, meu pai fazia comentários sobre o meu tamanho e isso me magoava. Eu gostaria de ser auto suficiente e bem sucedida e mostrar o mundo que eu tenho muito mais capacidade. Mas eu sei que quando eu for tão gorda, enquanto eu for obesa, não sou capaz de ser essa pessoa.

Sou grata pelo apoio do meu namorado. Ele é o tipo de cara que prefere mulheres gordas, mas sexualmente, ele fica muito frustrado. Acho que ele gostaria que nós tivéssemos mais intimidade, mas eu não tô em uma situação em que eu possa me entregar à intimidade. Eu amo ainda, mas me preocupo muito com ela por causa do peso. Ela tá piorando, e tá piorando muito rápido. Eu não quero que ela morra. Tô quase chegando ao ponto em que sair nem mais possível para mim. Quando eu saio, é só para comprar o que eu quero comer. Isso é tão gostoso, eu vou experimentar esse aí. Eu me sinto muito culpada contando esse tipo de comida, mas ao mesmo tempo, é muito difícil parar tudo isso.

Mas o que a gente não faz por alguém que a gente ama, né? Tenho muito medo de ficar tão gorda que ele vai parar de me amar. Tivemos que nos casar, eu preciso de uma parceira e não de alguém que vai me deixar morrer fazendo coisas que estão me matando. Eu preciso parar. A minha parte preferida é abobrinha. Eu acho que a parte preferida de quase todo mundo. Eu tentei muitas vezes parar de comer do jeito que eu como, mais ainda acontece, continua acontecendo. E eu não consigo parar, mesmo que esteja empanturrada, ainda quero comer qualquer coisa que puserem na minha frente. Eu tô sempre com fome.

Eu lembro que disse ao meu irmão caçula: Se eu chegar a 2207 kg, pode me matar. Não esqueça que ele olhou pra mim e falou: Não vai fazer nenhuma besteira. Há muitas noites em que eu acordo morrendo de medo de que a minha filha vai morrer. Sinto como se eu tivesse passado do ponto em que poderia voltar. Não deveria ser tão difícil ser uma pessoa. Eu não deveria sentir medo de morrer o tempo todo. Se eu não mudar, eu vou morrer.

Fonte: Mulher de 23 anos vive uma vida limitada por causa da obesidade | Quilos Mortais | Discovery Brasil por Discovery Brasil