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Transtorno Bipolar: Causas Genéticas e Desiquilíbrio Químico

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Transtorno Bipolar e Esquizofrenia: Desmistificando as Causas
Se você perguntar a qualquer pessoa na rua qual é a causa do transtorno bipolar ou da esquizofrenia, é provável que muitas delas digam que é uma doença incurável causada por um desequilíbrio químico, um desequilíbrio que tem a ver com genes defeituosos. O DNA é algo que ocorre em famílias.
Falando claramente, os problemas são de natureza biológica e a única coisa que podemos fazer a respeito deles é tomar remédios por toda a vida. Esta é uma história que tem sido contada ao público pela psiquiatria há décadas, uma história que nós aceitamos sem nenhuma sombra de dúvida.
Mas em maio de 2013, um terremoto sacudiu o mundo da psiquiatria. Jornais e revistas, que normalmente nunca prestam atenção em psiquiatria, ficaram chocados ao descobrir que o Instituto Nacional de Saúde Mental americano não estava mais apoiando a “bíblia” das doenças mentais, o DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), da Associação Psiquiátrica Americana. Isso aconteceu apenas duas semanas antes de ser lançado o revisado e altamente polêmico DSM-5.
O diretor do Instituto Nacional de Saúde Mental americano, Thomas Insel, disse: “Ao contrário de nossas definições de doença cardíaca ou da AIDS, os diagnósticos do DSM são baseados em um consenso de um aglomerado de sintomas clínicos e não em qualquer medida objetiva do laboratório”. Finalmente, o Instituto Nacional de Saúde Mental admitiu abertamente o que muitos críticos, como Robert Whitaker, autor do livro “Anatomia de uma Epidemia”, vêm dizendo há anos: que o DSM não tem validade científica.
Na verdade, a questão é que o transtorno ao qual a ciência se refere é apenas um conjunto de sintomas baseados em comportamento. Com 90% de certeza, uma criança que tem delírios de grandeza, por exemplo, certamente tem alguma coisa acontecendo. Ninguém pode negar isso. O único problema é que a psiquiatria não pode encontrar a origem desses sintomas ou qualquer outro transtorno mental. Não é como câncer, onde você realmente pode ver as células, ou diabetes, que pode ser detectado com exame de sangue. Não há um único transtorno no DSM que deixou um traço biológico.
Mas então, o que acontece com os níveis de dopamina e serotonina? Certamente eles podem ser testados e, sim, eles podem. E o que as pesquisas de maior credibilidade provam é que as pessoas com transtornos mentais têm níveis de serotonina e dopamina que são completamente normais, até que elas comecem a tomar a medicação. Tudo o que foi dito sobre a teoria do desequilíbrio químico é puro mito.
Você provavelmente está pensando que o Instituto Nacional de Saúde Mental americano foi para um novo paradigma em como ajudar as pessoas com transtornos mentais no futuro. Mas não. No mesmo comunicado em que ele desacredita o DSM-5, Thomas Insel continua a dizer: “Os transtornos mentais são alterações biológicas que implicam domínios específicos da cognição, emoção e comportamento.” E em seguida, ele completa: “Tornou-se claro que não podemos conceber um sistema com base em marcadores biológicos ou desempenho cognitivo, porque não temos nada”.
O fato é que, a menos que você tenha dados, a ciência precisa admitir que isso não existe. Nesse caso, se não há meios científicos de detectar que os transtornos mentais são essas alterações biológicas, então temos que assumir o contrário.
Agora, obviamente, a influência da Big Pharma (grandes empresas farmacêuticas) pode ser uma explicação para esse jogo de conchavo. Mas se fosse a única resposta, ainda não explicaria por que tantas pessoas defendem tão firmemente os medicamentos psiquiátricos e insistem no modelo biológico sem nenhuma evidência. Embora haja influência da Big Pharma, eu vejo a psiquiatria como sendo tão bem-sucedida principalmente porque seus mitos e medicamentos se encaixam perfeitamente na consciência moderna. As pessoas são facilmente levadas a acreditar que os transtornos mentais vêm da genética, pois com base em uma visão de mundo científico-materialista, elas poderiam vir como todos os mitos.
Essa é uma resposta simples e fácil para uma questão que, para este nível de consciência, é impossível de responder. Você percebe que o que estamos indo contra não é uma batalha contra a ciência, mas o próprio modelo. A crença de que tudo e qualquer coisa pode ser explicada cientificamente, mesmo quando não há nada que possa ser encontrado dessa forma. Não vejo os psiquiatras como mentirosos corruptos que estão simplesmente interessados no dinheiro. Eles são mais como padres de um sistema de crença religiosa. E, na verdade, eu prefiro ter um padre me dizendo que eu tenho um desequilíbrio químico do que alguém dizendo que estou possuído pelo demônio.
Os próprios medicamentos também se encaixam nessa consciência moderna. Apesar dos difíceis efeitos colaterais a longo prazo, medicamentos psiquiátricos têm sido úteis para suprimir os estados mentais indesejáveis. Eles ajudam as pessoas a se manterem no trabalho, criar uma família, ficar fora do hospital psiquiátrico e até mesmo ficar fora da cadeia. Então, na minha opinião, a psiquiatria vai continuar a desempenhar um grande papel em nossa sociedade, pelo menos até a transformação cultural pós-moderna se completar. E parte dessa transformação significa incentivar nosso mundo a encarar os fatos de que a psiquiatria não tem ideia de onde se originam os transtornos mentais e não tem ideia de como curá-los.
Isso significa que os transtornos mentais não têm nada a ver com nossa genética ou bioquímica. Não exatamente. Em primeiro lugar, porque mudanças bioquímicas estão acontecendo dentro de nós o tempo todo. Certamente deve haver uma mudança bioquímica durante uma fase aguda, apenas não em disfunção intratável permanente. Em segundo lugar, eu espero que um dia a ciência descubra que certos padrões genéticos podem levar a uma probabilidade maior ou menor de instabilidade mental. Todo mundo sabe que as pessoas com transtorno bipolar são bastante criativas e emocionalmente sensíveis. Minha experiência me convenceu de que escritores, cantores, atores, artistas e músicos são muito mais propensos a enfrentar sofrimento e angústia mentais do que, digamos, engenheiros, banqueiros e contadores.
E quando isso acontecer, independentemente da genética envolvida, eu também espero que as pessoas não vejam o transtorno bipolar como uma doença mental permanente, mas como uma oportunidade para uma profunda transformação mental, de corpo e alma.
Fonte: O Desiquilíbrio Químico e a Genética do Transtorno Bipolar por Ligia Splendore