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Síndrome de Guillain-Barré: Tudo o que você precisa saber sobre essa condição de saúde

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O vírus zica, além da associação aos casos de microcefalia, agora preocupa por sua relação com a síndrome de Guillain-Barre. Já há casos registrados no Brasil e esse é o assunto do espaço de saúde de hoje. Nosso convidado é o neurologista Pablo Vínculo.

Boa tarde, doutor. Seja bem-vindo. Bom, começamos lá na Bahia, né, e vai se espalhando: febre chikungunya, vírus zica e agora um novo nome que chega para a população é a síndrome de Guillain-Barre. Gostaria que, resumidamente, o senhor pudesse definir o que é essa síndrome de Guillain-Barre e se ela está associada exclusivamente ao vírus zica.

Sim, é um dilema real. É uma manifestação neurológica que acontece no sistema nervoso periférico e ocorre um ataque do nosso sistema imunológico aos nervos periféricos. Esse ataque faz com que os nervos não funcionem muito bem. A principal manifestação da síndrome de Guillain-Barre é a fraqueza. Pacientes começam a sentir-se fracos e muitas vezes descrevem isso de diferentes maneiras, como se as pernas estivessem arrastando. A fraqueza dos membros inferiores, nas pernas, é muito comum. No entanto, ela também pode acometer os braços e até mesmo os músculos da respiração ou os músculos da face. Também podem ocorrer alterações sensitivas, como formigamento nas mãos, e disfunções autonômicas, como suores ou taquicardia. Essa síndrome é bastante heterogênea, ou seja, observamos diversos pacientes que têm os mesmos sintomas, mas de formas diferentes uns dos outros.

Hoje em dia, com a infecção pelo vírus zica, isso veio a ser falado e alguns especialistas já descreveram em revistas internacionais, até mesmo antes do surto na América do Sul. Já houve surtos em outros países que tiveram essa associação maior do vírus zica com a síndrome de Guillain-Barre. O que acontece é que no nosso sistema imunológico, sempre que entramos em contato com algum agente, como o vírus zica, desenvolvemos uma imunidade errada que acaba atacando os nervos do corpo. É como se fosse um fio elétrico que está levando a mensagem até o músculo ou levando a mensagem do toque da pele até o sistema nervoso central. Com esse mau funcionamento do nervo periférico, começamos a ter os sintomas, sejam eles de fraqueza muscular ou de disfunção sensitiva.

O Ministério da Saúde confirmou a relação entre a infecção pelo vírus zica e a possibilidade de desenvolvimento da síndrome de Guillain-Barre. No entanto, a infecção pelo zica não determina que a pessoa vá desenvolver a síndrome. Na grande maioria dos casos, as pessoas têm contato com o vírus zica e não desenvolvem a síndrome de Guillain-Barre. Estima-se que, para cada 4 mil casos de infecção, talvez tenha um paciente que desenvolve Guillain-Barre. Então, nem todos os pacientes que têm contato com o vírus zica desenvolvem essa imunidade cruzada que ataca os nervos periféricos.

Podemos dizer então que a síndrome de Guillain-Barre é uma doença que tem tratamento? Ela mata? Ela tem cura?

Sim, ela tem tratamento. Em casos muito leves, o próprio organismo trata de reconhecer que os anticorpos não deveriam estar lá e eles param de ser produzidos. No entanto, em casos mais severos, em que a fraqueza ou a disfunção sensitiva se instalam de maneira rápida, existe tratamento para reduzir os sintomas. É importante que o paciente procure imediatamente uma emergência médica, onde a equipe médica estará capacitada para reconhecer e encaminhar o paciente para um centro de referência. O tratamento consiste em medicações intravenosas, como a imunoglobulina humana, além de outros medicamentos alternativos. Existe também um tratamento que tem uma eficácia tão provável quanto a imunoglobulina, que é a plasmaférese, que faz uma espécie de filtragem desses anticorpos que estão atacando os nervos periféricos.

Para não deixar o público assustado, é importante destacar que a síndrome de Guillain-Barre pode deixar sequelas? É uma doença que pode matar?

Essa é uma doença que, dependendo da gravidade com que se instala e se torna generalizada, pode causar óbito devido à falência respiratória. O paciente não tem força nem para conseguir respirar espontaneamente. No entanto, isso é uma minoria dos casos. Essa é uma doença que, quando reconhecida e tratada, o paciente recebe o suporte necessário, seja uma ventilação assistida por aparelhos ou não. Com uma observação e uso rápido dos medicamentos, o paciente tem um bom prognóstico e costuma receber alta com pouquíssimos sintomas. Com o tempo, esses sintomas desaparecem e o paciente se recupera completamente.

Em resumo, é uma probabilidade muito pequena a ocorrência da síndrome de Guillain-Barre para um indivíduo que tenha contato com o vírus zica. No entanto, isso não descarta a necessidade de cuidados e atenção diária em relação ao assunto. É fundamental que todos estejamos alertas e, numa época em que observamos o aumento dos casos, devemos estar atentos e procurar rapidamente os serviços de emergência caso sintamos algum sintoma. O tratamento é eficaz e, quando iniciado rapidamente, permite uma recuperação completa do paciente.

Muito obrigado, doutor Pablo Vínculo, pelas explicações e pela disponibilidade. Esteja sempre à disposição. Seja bem-vindo!

Fonte: Saúde: Entenda a Síndrome de Guillain-Barré por Ulbra TV