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Mulher que perde a memória após dormir: conheça sua surpreendente história no #arquivoDE.

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Um Ano Congelado no Tempo: A História de Nick

Imagine acordar e não se lembrar do que aconteceu no dia anterior. Você vai conhecer uma mulher que vive desse jeito há 12 meses. Para ela, o tempo parou em 15 de outubro do ano passado. Qual será a explicação? Uma simples noite de sono e a memória desta mulher se apaga. É como se ela voltasse ao passado todas as manhãs, como se a corda achando que é o mesmo dia 15 de outubro de 2014. Você vai ver como é a rotina dela, qual é a reação ao perceber que o tempo passou e ela se esqueceu de tudo o que fez nos últimos meses, e o desespero por saber que na manhã seguinte vai perder a memória de novo.

Estamos em 9 Hampton, na Inglaterra, onde Nick e Cris vivem. Eles levavam uma vida feliz. Ela trabalhava como gerente de um bar e ele é funcionário de um estacionamento, e os dois se revezavam para cuidar do filho Fred, de cinco anos. Mas há um ano, em 14 de outubro de 2014, a vida deles mudou.

Tudo começou quando Nick foi fazer um exame de rotina no joelho e teve um mal súbito. À espera do resultado do exame, saiu para tomar um pouco de ar, mas se sentiu mal, desmaiou e caiu. Tudo que aconteceu a partir daquele momento, Nick já não guarda na memória. A pancada que ele levou na cabeça em um poste de metal foi tão forte que ela começou a agir diferente. Na capital, a neurologista Luiz conta que nos dias seguintes, Nick passou a não se lembrar de nada do que tinha feito naquelas semanas. Em sua percepção, o tempo simplesmente parou de passar. Ela se sentia congelada no tempo, como se o tempo não passasse. Ela pode ficar com dificuldade de saber qual é a sua idade, saber que momento do tempo você está, porque a memória que dá essa sensação de continuidade não está funcionando. É uma condição chamada de amnésia anterógrada.

Para conseguir levar a vida, um paciente nessas situações precisa receber uma explicação sobre o que aconteceu com ele todos os dias, para ter que aprender várias vezes a mesma coisa. Ele pode achar que está sempre no mesmo período de tempo, porque acaba cada momento sozinho. Ela não tem aquela continuidade, aquela cola do tempo que a memória oferece.

No caso de Nick, os médicos descobriram que a cada 15 horas a memória dela desaparece. E normalmente isso acontece quando ela já está dormindo. O marido de Nick adotou uma estratégia para que ela possa entender logo quando acorda que já não é mais o dia 15 de outubro de 2014. Então, do lado da cama, ele sempre deixa junto aos óculos dela um caderno com anotações. No topo de cada página está escrito que ela teve perda de memória. A partir daí, Nick passa alguns minutos lendo as anotações que ela própria fez sobre tudo o que aconteceu nos últimos meses. Ao fim de cada dia, ela escreve os acontecimentos mais importantes no diário. É uma forma de, na manhã seguinte, recuperar o passado esquecido.

Histórias parecidas com a de Nick já foram parar no cinema. No filme “Como Se Fosse a Primeira Vez”, a personagem interpretada por Bill Berry precisa assistir a um vídeo todos os dias para lembrar os detalhes da própria vida. Assim como no longa, Chris fez uma montagem com momentos importantes e Nick sempre assiste ao vídeo depois de ler o diário.

No último ano, um dos gatos de estimação de Nick morreu. Ela também completou 28 anos no dia em que falou comigo. Ela não se lembrava de nenhum desses momentos. Quando perguntei a idade dela, Nick precisou pensar alguns segundos para ganhar. Ela explicou que demorou a dar a resposta certa porque, pela última lembrança, ela ainda tinha 27 anos. E assim é a rotina de Nick, confusa e cheia de incertezas.

Quando perguntei o que ela costuma fazer, a resposta é incerta. “Eu faço o que? Não faço a menor ideia”, diz. Mas o motivo de maior tristeza é outro. A sala da casa de Nick está toda decorada por conta do aniversário do filho dela, o Fred. Ontem houve uma festa em que os coleguinhas e os parentes se reuniram para celebrar, mas Nick simplesmente não se lembra de nada do que aconteceu. “Isso é muito frustrante”, diz. O pior é que, para ela, é difícil até compreender que o filho já completou cinco anos de idade.

Carlos Reis conta sobre uma viagem de final de semana, em que a família dormiu num trailer. No outro dia de manhã, Nick teve um ataque de pânico. Ela acordou sem saber onde estava. Mexido na vida melhor, Chico ledo. Ao ouvir o relato, ela fica abalada e pede desculpas por se emocionar em frente às câmeras.

Desde o acidente, Nick não trabalha mais. A amnésia não é reconhecida como uma doença na Inglaterra, por isso ela não tem direito à pensão por invalidez. Luiz organizou um abaixo-assinado para tentar mudar essa situação. Nick passa boa parte do tempo nas redes sociais, procurando fotos e notícias de parentes e amigos.

Há cinco anos, o Domingo Espetacular acompanhou um caso parecido com o de Nick. Michelle Philpots passou a sofrer de amnésia depois de um acidente de carro em 1994. Michelle se casou depois do acidente, mas não sabia que tinha marido. Todo dia alguém precisava mostrar a ela as fotos do álbum de cerimônia. Cinco anos depois da reportagem, a situação de Michelle Philpots continua a mesma.

É difícil para a ciência entender como funcionam as lesões cerebrais. O neurologista explica que Nick pode acordar um dia e se lembrar de tudo, mas essa esperança é pequena e fica menor a cada dia. Quanto mais antigo o sintoma, obviamente uma hora a tendência dele não melhorar. Em casos onde a causa é reversível, outra pessoa pode sim superar. Em casos onde a sequela é definitiva, a pessoa tem que se adaptar e precisar assim anotar sinopses da própria vida para entender em que ponto está na sua vida.

Apesar de a justiça ter que criar sinopses da própria vida para poder entender em que ponto está sua vida, Nick se mantém esperançosa. “Amanhã vai ficar melhor”, diz Cris, tentando acalmá-la. Ele acredita na recuperação. Pelo menos essa é a esperança, por mais um mês. Mas Cris não se anima muito, ele sabe que amanhã a esposa já não vai sequer se lembrar da nossa visita. Já Nick tem medo de ficar para sempre congelada no passado, cada dia mais distante.

Fonte: Conheça a história da mulher que perde a memória após dormir #arquivoDE por Domingo Espetacular