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Imunoterapia: o tratamento que Glória Maria usou contra o câncer – entenda mais

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Morreu hoje a jornalista Glória Maria no Rio de Janeiro. Ela estava internada em hospital para tratar um câncer, mas a causa da morte ainda não foi confirmada. Glória deixa duas filhas. A jornalista estava afastada das funções havia três meses. Em 2019, Glória descobriu um câncer no pulmão e teve sucesso no tratamento, mas depois teve metástase no cérebro, que também pode ser tratada, no começo, com uma cirurgia. No entanto, os novos tratamentos não avançaram ainda sobre essa doença, que atinge milhões de pessoas em todo o mundo. O INCA (Instituto Nacional de Câncer) estima que, até 2025, por ano, mais de 700 mil brasileiros serão diagnosticados com câncer.

Para falar sobre isso, convidamos o Ricardo Capunero, oncologista e diretor científico da Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama.

Doutor, boa tarde. Seja bem-vindo aqui ao . O câncer é uma doença realmente terrível, né? Quantas pessoas, quantas vidas já foram perdidas para o câncer? E aqui no Brasil, qual é o tumor maligno mais incidente?

Boa tarde. Com vocês, segundo os dados do INCA, os dois tumores mais incidentes são o câncer de mama na mulher, com 73.610 casos novos por ano; e o câncer de próstata no homem, com 71.730 casos novos por ano. Somando esses dois, já temos quase 150 mil casos novos de neoplasia. Cada vez mais, vemos um aumento progressivo desses números. Vários fatores contribuem para isso, como a população envelhecendo, hábitos menos saudáveis de vida, entre outros. É uma doença que atinge muitas pessoas em todo o mundo.

Eu tenho uma pergunta sobre a nossa colega Glória Maria. Ela faleceu recentemente e eu estava vendo no noticiário que ela passou por um tratamento de imunoterapia. Em que casos esse tratamento substitui, por exemplo, outros tipos de tratamentos mais tradicionais do combate ao câncer, como a quimioterapia?

Bom, a imunoterapia é uma nova forma de tratamento que vem sendo usada na Oncologia há várias décadas. Antes, a gente usava a quimioterapia. Mas a imunoterapia foi motivo do prêmio Nobel alguns anos atrás, quando descobriram uma forma de evitar que o sistema imunológico do organismo atacasse os tumores. A partir dessa descoberta, foram identificadas algumas proteínas relacionadas a isso, e hoje temos uma imunoterapia moderna, com imunomoduladores ou ativadores que estimulam a resposta imunológica do corpo contra o tumor.

Essa imunoterapia é usada isoladamente em algumas circunstâncias, mas em muitos casos é usada em conjunto com o tratamento convencional, como a cirurgia, drogas-alvo e até mesmo quimioterapia. Em alguns casos específicos de tumores de rim, de pulmão ou melanoma, podemos usar a imunoterapia sozinha, que também possui seus efeitos colaterais, mas é mais tolerável do que os tratamentos antigos. No entanto, é preciso que o tumor apresente características especiais de expressão de proteínas para ser candidato a esse tipo de terapia com imunomoduladores ou ativadores.

Doutor, o que podemos dizer hoje em relação à ciência? A ciência tem conseguido trazer avanços significativos no tratamento do câncer?

Sim, a ciência tem avançado bastante no tratamento do câncer. No entanto, é importante ressaltar que o câncer não é uma doença única, como uma infecção urinária, por exemplo. Existem vários tipos de neoplasias, e cada uma precisa de tratamentos específicos. Hoje, temos uma subdivisão em várias classes. Por exemplo, o câncer de pulmão possui mais de 17 subtipos diferentes, e o câncer de mama possui mais de oito subtipos diferentes. Tratamos cada um desses com ganhos importantíssimos.

Quando comecei a fazer Oncologia, há 35 anos, um paciente com câncer avançado vivia menos de nove meses. Hoje, esses pacientes já vivem mais de 30 meses. Temos progressos significativos, embora nem sempre seja a cura, mas proporcionando uma sobrevida mais prolongada para esses pacientes. Damos o tratamento certo para o paciente certo, na hora certa, o que chamamos de Oncologia de precisão.

No entanto, ainda há muito a ser pesquisado nessa área, pois o câncer é uma das principais causas de morte em todo o mundo. No Brasil, as doenças cardiovasculares ainda matam mais do que o câncer, mas em vários países desenvolvidos, o câncer já é a doença que mais mata. Por isso, as pesquisas nessa área são muito importantes. Temos muitos remédios novos surgindo, mas uma dificuldade que enfrentamos no Brasil é a diferença de acesso entre o sistema público e o privado de saúde. Muitos tratamentos avançados não estão disponíveis no sistema público, e as aprovações e disponibilização de tratamentos demoram muito tempo.

Existem projetos em andamento para tentar incluir tratamentos no SUS, mas ainda não foram aprovados. Mesmo quando um remédio é aprovado, há demoras para disponibilizá-los aos pacientes nos hospitais e postos de saúde. Enfim, existem muitos desafios, mas torcemos para que cada vez mais tratamentos inovadores estejam disponíveis para todas as pessoas e que haja uma diminuição da desigualdade no acesso a eles.

Fonte: Entenda o que é imunoterapia, tratamento que Glória Maria usou contra o câncer por Record News