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Histeria masculina: sintomas e manifestações | Christian Dunker | Falando Nisso 176

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Ah ah ah ah ah ah ahem…
Vídeo ao nosso canal YouTube.com falando disso hoje. Gostaria de responder à pergunta de Lisianedutra professor. Gostaria que comentasse como a histeria se manifesta no homem. Gênero masculino atualmente. Obrigado a pergunta, coisa que se discute bastante no contexto da chamada feminilização da cultura, seja a valorização tanto da mulher no mercado de trabalho enquanto o de valores que historicamente a gente associa com feminino. De fato, há uma mudança no padrão de recorrência das formas de sofrimento e, de tal forma, que se, quando foi descoberto a psicanálise, havia uma relação muito frequente entre a histeria e a mulher e a neurose obsessiva e o homem e a fobia e a criança. De tal maneira que se formava assim um casal, uma dinâmica de casal mais ou menos conhecida, em que a culpa, que é uma festa assim, é muito persistente, temerosa, obsessiva, se encaixava com a atribuição do desejo ao outro, que é um funcionamento bastante típico da histeria.

Mas essa forma de abordar esses dois quadros, e particularmente a histeria, como um conjunto de fenômenos sintomas e que inicialmente foram descritos lá pelo Hipócrates, está na Grécia do século 5 antes de Cristo, isso foi se alterando substancialmente com Freud e mais radicalmente com Lacan. A primeira contribuição assim muito importante que o Freud trouxe para o campo da psicopatologia da histeria é afirmar e mostrar, é com escritos, com casos clínicos, que a histeria é uma ficção que acomete não só as mulheres, pelo próprio nome, na instrução, quer dizer o útero pela própria teoria. Isso técnica de como uma histeria seria. É uma infecção causada pela falta de alimento ao dragão que habita o útero nas mulheres. E quando ela fica assim nervosa e com fome, ele começa a andar pelo corpo e tomar conta do braço e tomar conta do olhar, é tomar conta, vamos assim dizer, das dores que acometem um paciente, então, pela própria definição, é pelo nome, se entendeu durante muito tempo que este tório era exclusivo das mulheres.

Para isso também contribuiu muito a teoria medieval que demonizava a mulher como fonte, causa e origem do desejo. É então a queima das bruxas, a perseguição do feminino como aquilo que seria justamente o indutor do desejo. Indutor na da carne, é do lado do homem. Eu sou fez muita gente sofrer. O Freud colocava assim a história da histeria, dessa dessa maneira. Mas como na campanha vai mudar assim mais radicalmente, a gente vai pensar a histeria de fato como uma estrutura de desejo e não como uma coleção de sintomas.

Aliás, era um grande problema para a gente definir a histeria. Não se sabia se era um quadro só, se eram várias, se era uma doença ou várias. A flexibilidade da histeria vai nos ajudar a pensar essa transição, não é da predominância da histeria problemas a predominância social, cultural esteve em mulheres, para uma ascendente presença da histeria em homens. Isso teria a ver com uma valorização, por exemplo, do lado do do homem, pelo menos, das expectativas sociais que a gente tem, esse gênero, é do desejo do outro. Aquela ideia de que o papel masculino tem que ver com o indivíduo que se autonomia, que ela se torne independente, que ele é uma espécie de guerreiro e que no fundo ele é é não afetado ou pelo desejo do outro. Por isso, ele é caracterizado assim por um monte de termos. Determinante, forte, convicto, vai sendo substituída por uma valorização do lado do homem, da capacidade de se colocar, em divisão, a capacidade de se colocar em dúvida, a capacidade de questionar o seu próprio desejo a partir de um questionamento do que o outro espera dele.

Isso então vai dar uma apresentação clínica em que a gente vai ter, por exemplo, sintomas de natureza somática, sintomas de natureza conversível, cada vez mais presente em homens. Isso vai nos levar a uma preocupação com uma imagem pessoal e como há a dinâmica de reconhecimento, de fracasso de reconhecimento, de um sentimento mais ou menos permanente naquele que está excessivamente alienado, o desejo do outro, que é uma característica de neurose em geral, mas da histeria em particular. E, finalmente, uma apresentação clínica ligada, por exemplo, a situações de desorientação, de indeterminação, desse questionamento da própria identidade, de errância, do incremento da expectativa amorosa, como algo que deve se conciliar com o desejo.

Essa separação que a gente vivia num modelo de masculinidade em vigor há algumas décadas, em que tinha uma separação entre essa mulher que ia ser a mãe dos meus filhos, que é pura, em relação a quem eu tenho uma relação de honestidade, de confiança. Ela tem que ser separada desta outra mulher, com quem eu mantenho o meu desejo. É uma mulher que eu às vezes me rebaixo para conseguir desejar, que vai ser assim, aquela lasciva, aquela com que a sexualidade pode ser vivida até essa separação, ela não é mais tolerada pelo modelo de masculinidade, pela histeria. E que começa então a ser um quadro mais presente nos homens. E à hora que você de fato se coloca com uma tentativa de reunir essas duas coisas, e condicionar a uma outra o amor é um desejo, desejo é amor, e na hora que você se vê questionado sobre a função do gozo na sua economia, é cíclica. Isso concorre para produção dessas formas de sofrer que a gente vê em ascendência na histeria masculina, que caracteriza bastante a nossa época. Está muito presente nos consultórios hoje em dia, inclusive, isso é responsável por uma equilibração é hoje da demanda entre homens e mulheres nos consultórios de psicanálise e de psicoterapia.

Se você quiser se aprofundar nesse ponto, eu recomendo a você o livro organizado pelo Nelson da Silva Júnior e pelo Pedro Silva anda, Histeria e Gênero, que é uma tentativa de renovar o entendimento, a histeria para nossa época contemporânea.

Fonte: Como a histeria se manifesta no homem | Christian Dunker | Falando nIsso 176 por Christian Dunker