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Entendendo a diferença entre loucura e psicose | Christian Dunker

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Hoje vamos discutir a diferença entre sanidade e loucura. Antes de começar, é importante dizer que a loucura é uma condição inseparável da experiência humana. Enquanto alguns tentam eliminar completamente a loucura, isso diminui a nossa compreensão da natureza humana e leva a equívocos sobre o que é a psicopatologia.

No passado, na Antiguidade, a loucura era vista como uma experiência quase divina. Os loucos eram considerados como mensageiros de outros mundos, trazendo notícias de planos transcendentes. A palavra “louco” tinha uma função social importante, semelhante ao papel dos xamãs nas sociedades indígenas, sendo mediadores e comunicadores entre culturas.

No entanto, a partir do século 17, com a ascensão da modernidade, a loucura perdeu esse status. À medida que a sociedade definiu a humanidade como sendo racional, a loucura foi rotulada como irracionalidade e os loucos foram confinados, silenciados e tornados invisíveis. Isso ocorre porque a loucura ofende nossa crença de que todos somos iguais perante a lei, todos têm razão, exceto os loucos.

René Descartes, no século 17, já apontava para a nossa condição de sonho, afirmando que quando sonhamos, não estamos plenamente conscientes de nossas faculdades mentais. Portanto, estamos em um estado híbrido que não se enquadra na definição de ser sujeito. A partir daí, começaram a surgir discursos morais, discursos médicos e, finalmente, discursos psiquiátricos e psicanalíticos sobre a loucura.

No século 19, surgiu a categoria de psicose, que caracteriza a loucura como alucinações e perda da realidade. Os loucos psicóticos perdem completamente a capacidade de viver em liberdade e, portanto, perdem sua cidadania. Eles são tutelados pelo Estado e devem ser internados para serem “recuperados” pela razão.

No entanto, é importante ressaltar que a loucura não se resume apenas aos casos mais graves de psicose. A modernidade também reconhece formas mais suaves de loucura, como a neurose, que não envolvem uma perda completa da experiência de liberdade. Essas formas mais suaves de loucura existem em contraste com a loucura cotidiana, que é repleta de contradições, incoerências e descontinuidades.

A loucura não tem mais um lugar definido na sociedade atual. Ela é tanto em todos os lugares que se tornou inofensiva. Mas, quando surge de forma dissonante, é naturalizada e gera um aumento no sofrimento. A compreensão da loucura precisa levar em conta a sua história e a sua natureza mutável, e não deve se limitar a uma descrição fixa de sintomas.

A ciência está sempre evoluindo e a compreensão da loucura está mudando ao longo do tempo. O sofrimento e a experiência clínica são fundamentais para uma compreensão mais profunda da psicose e outras formas de loucura. Portanto, devemos continuar a buscar um entendimento mais completo da loucura e não cair no convencionalismo que desconsidera sua historicidade.

Para saber mais sobre a experiência clínica da loucura em suas diversas formas, inscreva-se no canal da Casa da Família.

Fonte: A DIFERENÇA ENTRE LOUCURA E PSICOSE | CHRISTIAN DUNKER por Casa do Saber