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Entenda o transtorno do espectro autista (TEA) e seus sintomas | Consciência do Autismo

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A Aceitação do Autismo

A gente aceitou muito rápido, a gente não relutou, mas a gente ficou com muito medo. E nem eu nem a gente conhecia sobre o autismo. A gente tinha uma imagem pouco positiva, que revelava muito agressiva. Então, o medo de consequências negativas era muito grande. A gente recebeu um diagnóstico de autismo e foi um choque para toda a família.

O autismo é um estabilizador para qualquer família e, na época, a gente não tinha contato com nenhuma outra família que tinha uma criança autista. Então, a gente tinha aquela ideia estereotipada do autismo, muito grave. Então, todos os nossos sonhos tiveram que ser repensados e adaptados.

Eu e meu marido queríamos ter filhos, e independente de como esses filhos seriam, para nós isso já era um pressuposto. Agora, não posso mentir que ter uma ideia de que seu filho tem um transtorno de desenvolvimento e que você não sabe como vai ser lá na frente causa muita angústia. É difícil como outro filho, demorou um pouquinho pra falar em menino, tem esse histórico de desenvolvimento um pouco mais lento. Mas ele não tinha o olhar compartilhado, não interagir socialmente. A minha mãe tocava a campainha e ele nem olhava para ela, o cachorro corria e ele nem se importava. Meu outro filho, quando encontrava na porta, ele olhava, mas ele não. Então, foi um diagnóstico que a gente não esperava.

Um ideal assim que a gente realiza na vida dos filhos né? Tem um início de vida, uma gestação gemelar que também é diferente, e tudo isso está criando aquele potencial dos gêmeos no futuro. O diagnóstico foi um momento bem traumático na nossa vida, mas isso num sentido não, no momento a gente não tinha noção do poderia vir. Quando Kelvin chegou, mudou tudo. Nós tínhamos muitos sonhos, muitos planos para ele. Após o diagnóstico, nós temos novos sonhos, novos planos pra ele. Tivemos outra visão a respeito de quem ele seria, do que ele é capaz no futuro, a meta não tem como essa desenvolvimento dele seria falada. A primeira lei que veio da escola normal, namorar, casar, é uma coisa que a gente sempre pergunta aos médicos, engraçado né? E ele falou que tudo dependia da quantidade e do tipo de estímulo que ele teria. Que não tem como prever. Você faz o diagnóstico quando eles são pequenos, mas você não sabe o que vai acontecer. Depende de como é que eles vão ser estimulados.

Socialização já, e eu sou muito obediente, fui lá e fiz exatamente o que ele mandou. Comecei a socializar e imediatamente significava sair de casa, levar para tudo quanto é lugar. Nós já imediatamente matriculamos os meninos em uma escola e já corremos atrás do tratamento. Eles começaram a fazer as terapias indicadas pelo médico.

Muitas vezes, as famílias ficam lutando contra o diagnóstico, negando-o. Mas na verdade, a pior coisa que pode fazer neste momento é isso. Nós buscamos todo o possível tratamento, mas efetivamente são tratamentos caros, nem toda família tem condição de buscar tratamento. Mas muitas têm que buscar ao que está no alcance delas. Não sonhar também com um mundo perfeito, mas buscar o que é possível fazer em termos de terapia.

Nossa família hoje tem assistente terapêutico, tem tutora. Ele fez teatro, tênis, guitarra, montanha-russa. Fez personal na academia para fazer musculação, fez fisioterapia, aulas de japonês, aula de inglês, aula de aikido, aula de dublagem. Ele é um exemplo de que os pais unidos buscando uma intervenção é possível ter uma vida melhor, uma vida mais inclusiva.

Por conta desse tratamento multidisciplinar, a rotina é desgastante e cansativa. É preocupante, mas a gente tem que achar o nosso equilíbrio, tanto eu como pai quanto a mãe, para poder oferecer um ambiente familiar estruturado para eles. E tudo isso influencia na rotina e na vidinha deles, né?

Se os pais estão com problemas, eles percebem e ficam mais agitados. Então, a gente tenta cuidar de nós também, né? Para poder cuidar bem das crianças. E hoje a gente pode dizer que a gente é feliz com eles. Não foi fácil chegar aqui. São oito anos desde o diagnóstico. Já no começo foi muito difícil, vem a fase da negação, você briga. Como todo mundo, o médico tem razão e isso vai mudar. Mas aí vai passar do tempo, você começa a enxergar que a vida é bela apesar do autismo, que dá pra ser feliz com o autismo.

A Manuela apresenta superação mesmo. Ela mostra pra gente que ela é muito mais capaz do que a gente pode imaginar. Ela nos surpreende todo dia. Porque eles têm capacidade para ser o que eles quiserem, e o melhor nisso. Eu espero infinitas possibilidades e a gente não vai escrever um livro. Fizemos o máximo melhor e devo todo amor e carinho para que ele quando se torne um adulto, uma pessoa bacana, uma pessoa legal, no melhor da suas potencialidades.

Você é a minha vida. Eu estou aqui por você e você me ajuda a ajudar tanta gente. Você mudou, com certeza, a minha vida como mulher, como mãe, como irmã, como tia. É outra depois da sua vida.

O que você quer ser quando crescer, Kelvin? Ele tinha três anos quando ele respondeu: “Eu quero ser feliz”. Então, ele é o nosso super herói, porque ele nos faz ser pessoas de verdade, uma pessoa mais humana. Ele é muito leve. Então, às vezes quando a gente chega em casa com aquele monte de problema na cabeça, a gente olha pra ele e ele vira pra mim e fala assim: “Eu e meus amores, passou tudo”.

Ele tem uma capacidade de memorização de texto incrível, por isso que ele se deu bem no teatro, tanto que o diretor sempre falou assim: “Ah, se eu precisar de um stand-in, posso ligar pro Eric?” E eu falo: “Pode, claro”. Ele é um homem muito sábio, não pensa muito em ganhar dinheiro para ter bens. Para depois poder gastar sua saúde para ter dinheiro. Ele sabe que na vida o mais importante são as coisas simples, é mais suficiente. Pra eles, são meus heróis, provam isso.

Eu fiquei emocionado de falar, ela já tem um poder de conquista e vai poder dela! Onde ela vai, ela cativa. E acho que foi por isso que facilitou muito pra gente, porque até hoje acima dos sentimentos, sentiu um preconceito. Foi que a Manuela mostra que o autismo dela é um detalhe, que ela é muito mais que o autismo. O sorriso dela, a alegria dela contagia muito rápido. Esse já é um grande poder. Aquela pessoa que não é falta de vontade, né? Com muita gente pensa que o autista fica no mundo dele, é separado. Não, eles querem socializar, eles que eles não têm é, eles não sabem como fazer isso. Eu acho que ele luta contra essas limitações, essas dificuldades dele todo dia. Por isso que ele espera.

Fonte: O que é o transtorno do espectro autista, TEA? | Consciência do Autismo por Saúde da Infância