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Dicas para lidar com crianças com autismo: estratégias eficazes.

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A importância do diagnóstico e tratamento do autismo

Aqui no Link News, recebemos a Maíra Gaiato, psicóloga especializada em autismo. Boa noite, Maíra. Gostaria de começar abordando um dado da OMS que indica que uma em cada 160 crianças no mundo possui autismo. No Brasil, o IBGE estima oficialmente uma média de 240 mil crianças de 0 a 13 anos com o transtorno, mas alguns estudos mencionam até 2 milhões de crianças e adolescentes. Qual é a dificuldade em diagnosticar o autismo?

A tendência é que esse número continue aumentando, pois cada vez mais o número de crianças com autismo tem crescido de forma exponencial. Diagnosticar o autismo é muito desafiador, pois ainda não existe um marcador biológico, como um exame de sangue ou imagem cerebral, que possa confirmar com certeza o transtorno. Além disso, existem várias formas de autismo. O diagnóstico é feito a partir de observação comportamental, o que varia de médico para médico na hora de fechar esse diagnóstico. Ainda há muitas dúvidas a respeito disso.

No entanto, crianças com autismo apresentam atraso na comunicação social. Elas têm dificuldade em verbalizar ou compreender a linguagem. Também têm dificuldade em interagir com as pessoas e brincar de forma adequada. Além disso, apresentam interesses restritos e estereotipados. É importante destacar que uma criança com autismo não é incapaz de fazer tudo isso. Muitas vezes, fazem tudo isso sim, mas em menor quantidade do que seria esperado para a idade. Esses estereótipos acabam criando estigmas em torno desse transtorno.

Provavelmente, isso se deve ao fato de que, antigamente, quando o diagnóstico era dado para uma em cada 10 mil crianças, apenas os casos mais graves eram diagnosticados, geralmente associados à deficiência intelectual. Hoje, falamos em níveis de autismo, sendo o nível 3 aquele que é mais grave. No entanto, existem casos moderados e leves também. É importante que a população tenha mais conhecimento sobre o autismo para evitar preconceitos e estigmas.

Em 2012, uma lei foi implementada no Brasil reconhecendo o autismo e garantindo alguns direitos às pessoas com o transtorno. O que mudou desde então e quais são as maiores dificuldades tanto para profissionais que trabalham com autismo, como você, quanto para a sociedade em geral, incluindo pais e professores?

Essa lei é muito importante, pois a partir dela as crianças com autismo são identificadas e reconhecidas como deficientes, garantindo-lhes direitos. No entanto, a maior dificuldade está em fazer com que esses direitos sejam exercidos. Crianças com autismo necessitam de muitas horas de intervenção e essa é a nossa maior dificuldade. Precisamos de, no mínimo, 15 horas semanais de atendimento. Os pais também precisam ser orientados para que possam oferecer essa quantidade de horas em casa. Além disso, a escola precisa estar alinhada com a equipe terapêutica. Infelizmente, é comum termos apenas uma ou duas vezes por semana para conseguir essa quantidade de horas.

Tudo que a criança precisa aprender, como por exemplo, ser alfabetizada, é difícil de ser alcançado com apenas uma hora de aula por semana. Para que o tratamento seja eficaz, é necessário estimular o cérebro e criar novas conexões neurais. Já temos comprovação científica de que isso é possível, porém, é preciso muitas horas de intervenção especializada. O problema é que, atualmente, tanto na rede pública quanto na rede privada, temos poucos profissionais realmente especializados em autismo.

O autismo é um transtorno muito peculiar e exige profissionais que saibam exatamente o que estão fazendo. É possível recuperar sintomas e desenvolver habilidades que proporcionem uma melhor qualidade de vida para as crianças, com autonomia e independência. No entanto, falta um número suficiente de profissionais competentes na rede pública. Todas as instituições estão lotadas e também é necessário ter mais profissionais comprometidos na rede privada. O primeiro passo é identificar o transtorno em casa, os pais precisam estar atentos aos sinais apresentados pela criança. Somente assim é possível levar a criança ao médico rapidamente e iniciar o tratamento adequado.

Agradeço a Maíra Gaiato por essa conversa importante sobre o diagnóstico e tratamento do autismo. Precisamos cada vez mais difundir informações sobre o assunto para que haja uma maior conscientização e compreensão da sociedade.

Fonte: Como lidar com crianças com autismo por Record News