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Dicas para lidar com comportamentos inapropriados em crianças com autismo

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Olá, eu sou o Tiago Lopes, diretor do Instituto Farol e especialista em autismo precoce. Hoje vou falar um pouco mais sobre comportamentos disruptivos, sobre comportamentos inapropriados na sua criança com autismo.

No nosso canal do Instituto Farol, nós já temos uma série sobre gestão de comportamentos inapropriados e eu queria falar um pouco mais sobre esse assunto. A gente tem recebido muitas perguntas nesse tema, pessoas que têm enfrentado problemas em casa, dificuldades de gestão dos comportamentos das crianças. Eu tenho visto muito isso não apenas em crianças com autismo, mas também em crianças típicas, que muitas vezes têm um comportamento mais desafiador do que as crianças com autismo. Isso acontece porque elas têm menos controle sobre suas ações, negam mais e se opõem às atividades.

Enfim, é um assunto muito importante que precisa ser discutido. Eu gostaria de trazer hoje algumas informações para que você possa pensar um pouco melhor e se capacitar mais para a gestão de comportamentos inapropriados.

Se você ainda não assistiu à série que está no canal, os links estarão aqui na descrição. Recomendo fortemente que você assista. Mas eu queria começar explicando a relevância de se trabalhar a gestão de comportamentos inapropriados.

A maioria das crianças que iniciam o tratamento e que têm o diagnóstico de transtorno do espectro do autismo apresentam comportamentos inapropriados significativos. Esses comportamentos disruptivos podem ser, por exemplo, choro excessivo, bater, chutar, morder, lançar objetos, destruir objetos, derrubar coisas de propósito para quebrá-las, entre outros. Algumas crianças também podem se bater, morder ou bater a cabeça na parede. Há aquelas que cospem no chão e também crianças que têm comportamentos de vômito induzido, ou seja, elas provocam o próprio vômito com o objetivo de chamar a atenção ou evitar alguma atividade que não querem fazer.

Uma pesquisa feita no Canadá, em 2018, revelou que cerca de 60% das crianças no espectro do autismo que iniciaram o tratamento apresentam comportamentos inapropriados significativos, além de uma comorbidade de transtorno de comportamento. Ou seja, para cada cinco crianças, três têm dificuldades significativas com esses comportamentos disruptivos e inapropriados.

Se você é pai ou profissional que trabalha com crianças com autismo, é imperativo, é absolutamente necessário que a gente tenha esse conhecimento e saiba como gerenciar esses comportamentos. Muitas vezes, vemos as crianças chorando quando entram na sessão de terapia. Às vezes, o choro persiste por muito tempo. Tem crianças que começam chorando e, de repente, aprendem a se bater e bater a cabeça na parede. Isso afeta muito o desenvolvimento da criança. Os terapeutas acabam ficando receosos de aumentar o suporte, de fazer demandas e de pedir para a criança fazer as coisas, pois sabem que pode gerar uma crise de comportamento e acabam perdendo a sessão de terapia inteira.

Isso acaba moldando o comportamento do próprio terapeuta, que muitas vezes reduz a frequência de oportunidades de aprendizado para evitar conflitos e comportamentos inapropriados. Nas famílias, o que observamos é que a criança acaba dominando todo o ambiente. As pessoas têm medo de tirar a criança da televisão, medo de dar o iPad, medo de pedir para ela sentar à mesa e comer com a família, medo de brincar, porque a criança pode ficar brava se não brincar do jeito dela. Criam-se ciclos em que as pessoas reduzem as oportunidades de interação com a criança, justamente aquela criança que precisa desse contato para o seu desenvolvimento.

Se o seu filho, a criança com a qual você trabalha, está batendo, chutando, mordendo ou apresentando comportamentos de choro persistente, é muito importante que você aprenda a fazer as quatro etapas de gestão dos comportamentos inapropriados. A primeira etapa é identificar qual é a função desse comportamento, não é uma inferência mental, mas sim uma observação direta da função desse comportamento.

A segunda etapa é não reforçar o comportamento inapropriado. Nesse caso, não é que você não queira que a criança não consiga o que ela está buscando, mas sim que ela não consiga de forma inapropriada. É importante lembrar que essa criança vai crescer e, se ela continuar fazendo isso de forma inadequada, ela vai se tornar um adulto que, por exemplo, bate para conseguir o que quer. E isso é algo que não queremos para as nossas crianças no espectro do autismo.

Outro aspecto importante de não reforçar o comportamento inapropriado é que muitas vezes esses comportamentos substituem os comportamentos apropriados e a criança deixa de aprender. Se ela consegue tudo o que quer através do choro, ela não vai se esforçar para falar, pois é muito mais fácil conseguir o que quer com o choro. Então, a segunda etapa é não reforçar o comportamento inapropriado.

A terceira etapa é identificar um comportamento apropriado alternativo, um comportamento que possa substituir aquele comportamento inapropriado observado. Pode ser o choro, a agressão física ou qualquer comportamento inapropriado que a criança esteja apresentando.

A quarta etapa é ensinar esse novo comportamento em um contexto em que possamos garantir que a criança vai substituir o comportamento inapropriado pela mesma função. Essas quatro etapas são absolutamente importantes. Eu recomendo que você leia sobre o suporte ao comportamento positivo, ou PBIS, em inglês, que é uma abordagem moderna que pode ajudar muito as crianças que têm dificuldades comportamentais.

Se você é pai ou profissional e sua criança tem demonstrado comportamentos inapropriados com frequência, é muito importante que a gente abra essa discussão e faça esse trabalho precocemente, pois os comportamentos podem se agravar com o tempo e podemos perder muitas oportunidades de desenvolvimento da criança se evitarmos a interação com ela. Existem outras medidas de prevenção que podem ajudar na redução dos comportamentos inapropriados, mas isso fica para um próximo vídeo.

Obrigado pela sua participação e até breve!

Fonte: Como lidar com comportamentos inapropriados? [AUTISMO] por Dr. Thiago Lopes Desenvolvimento Infantil |Autismo