Pular para o conteúdo

Contêineres transportavam drogas para a Europa disfarçadas de alimentos – PF investiga

  • por
  • posts


Tráfico de drogas escondidas em contêineres de frutas

Em um dia normal de operações, esses contêineres deveriam levar toneladas de frutas do Brasil para países da Europa. Mas, como a polícia federal descobriu, é que no lugar de frutas, os navios estavam carregado de drogas, isso mesmo, carregados de drogas que eram misturadas a cargas de frutas e de outros alimentos. Um crime que contava com a ajuda de funcionários das próprias empresas portuárias.

O programa Espetacular teve acesso a áudios exclusivos que revelam como o esquema funcionava, como mostra o apresentador André Azeredo.

A operação

No container, mangas brasileiras fresquinhas com destino à Europa.

Música

Elas estão encaixotadas, organizadas em filas e contaminadas. “Contaminadas” é um termo usado pela Polícia Federal para se referir a uma carga legal que é acompanhada por tijolos de cocaína. Nessa operação, o cão farejador da polícia não demora em acusar onde está a droga.

Música

De cima até embaixo, a carga toda está contaminada com cocaína, aprendida entre mangas e gengibres. Isso é resultado de uma investigação da polícia federal. Foi descoberto um acordo entre traficantes e funcionários de empresas do ramo da exportação. Essas companhias mandam alimentos brasileiros para fora do país com regularidade, usando os portos do Brasil.

Tivemos acesso com exclusividade aos áudios captados durante a investigação da polícia. Eles revelam como o esquema funcionava. “E aí, como é que funciona a fruta?” – Tu vai entrar em contato com uma trader que é especializada aqui no Brasil em fazer venda de fruta e alimentos em geral. Essa trader vai ser intermediária do negócio que é nossa parceira, entendeu? Ela tem um cara lá dentro. É simples, bem simples um negócio. Mas a venda é da empresa aqui no Brasil para empresa lá de fora.

“Errado, para classificar empresa, que fazem operações de compra e venda entre países”, complementa o apresentador.

A variedade de cargas

Todos os dias, milhares de containers transitam pelo maior porto da América Latina. Dentro dessas caixas metálicas, tem de tudo. As apreensões aqui no porto de Santos revelam que os traficantes se aproveitam do variado cardápio para despachar cocaína, cargas de mangas, gengibre e até café, como mostram essas imagens feitas essa semana.

Mas contaminar uma carga com cocaína não se resume simplesmente em acondicionar drogas nas caixas. Não pode ter diferença de peso no total da carga indicada na Nota Fiscal. Diante disso, foi criado um mercado paralelo para os produtos, os alimentos, que são retirados das caixas para dar lugar à droga.

Nessa conversa captada pela polícia, dois comparsas trocam informações sobre esse esquema. “Os bagulho tem que tirar um pouco da matéria-prima, não tem que vocês forem carregar, porque senão dá diferença na limpeza, né?”, disse um dos criminosos.

“Que que vocês fazem com isso?” – “Joga fora, maluco. Compra açúcar, soja, papel, algodão, açúcar, café também. Ele compra, entendeu?”

A cadeia logística

A organização criminosa responsável por essas cargas foi formada no litoral de São Paulo. São criminosos que se aproveitam das fragilidades dos portos, das falhas na segurança e até de funcionários aliciados por traficantes. Eles usam vários métodos diferentes para embarcar a droga, como, por exemplo, subir a cocaína no navio já em alto mar, é o que a polícia chama de “içamento”. O traficante se aproxima com um barquinho carregado de cocaína, uma corda de dentro do navio é lançada para os criminosos lá embaixo e a droga é literalmente içada dentro do navio. Funcionários envolvidos no esquema trocam parte da carga por cocaína.

O esquema tem ainda outro desafio: os lacres dos contêineres. Como colocar a droga dentro da caixa metálica que já está lacrada? Nos áudios e vídeos captados pela polícia, os criminosos dão aula de como burlar o sistema de segurança.

“A antena de 20… a gente tem que abrir a porta pelos parafusos, entendeu? Para não violar o lacre. Na parte de baixo, onde tem os dois ferros, tem um ferro só para cima e para baixo tem dois. Olha aí, tem dois aí. O cara vai desrosqueando. Quando desrosquear umas três ou quatro vezes, ele se desmonta, um lado para um lado para o outro, entendeu?”

A operação policial

A investigação teve início em 5 de Julho de 2021, com uma apreensão da Receita Federal de 550Kg de cocaína, que a partir daí iniciou a investigação. A polícia federal conseguiu identificar todo o esquema criminoso. Durante a investigação, a polícia prendeu drogas nos portos de Santos, Salvador e Natal, pontos de partida nos navios para a Europa. As apreensões foram um pontapé inicial para a operação marítima da Polícia Federal em Julho desse ano. A polícia cumpriu mandados de prisão e de apreensão em sete estados. Nos vídeos obtidos com exclusividade pela Record TV, as imagens mostram o resultado da operação, muita droga e dinheiro apreendidos.

Na Bahia, o motorista de caminhão foi preso em flagrante com 42 Kg de cocaína em uma ação coordenada pela Polícia Federal. No Rio Grande do Norte, três homens foram presos. Segundo a polícia, eles se preparavam para fazer o içamento da droga em alto mar. Ao fazer a busca nos veículos onde eles estavam, encontraram uma quantidade razoável do que parece ser cocaína.

A polícia federal também identificou quem iria receber toda essa droga na Europa. Na verdade, os três maiores narcotraficantes brasileiros em atividade. Um deles está preso, não é? Trata-se do ex-Major da PM do Mato Grosso do Sul, Sérgio Roberto de Carvalho, chamado na Europa de “Escobar brasileiro”. Ele é considerado um dos maiores narcotraficantes do mundo. Além do Major, outras duas pessoas foram apontadas pela polícia como participação no esquema: Karine de Oliveira Campos, apelidada de “rainha da cocaína” no porto de Santos, e Marcelo Mendes Ferreira. O casal foragido está na lista de procurados pela Interpol. A polícia internacional. Marido e mulher são acusados de exportar quase quatro toneladas de cocaína para países europeus. Mas poderia ser muito mais. Durante a investigação, a polícia interceptou cerca de 8 toneladas de cocaína destinada a países da Europa.

Nossa equipe não localizou a defesa do casal Marcelo e Karine, e o advogado do Major Carvalho disse que não defende o major nesta questão. Interromper esse fluxo da droga com outros continentes é um desafio para as autoridades brasileiras. Essa cadeia logística terminou, o tráfico não terminou, mas essa organização não existe mais.

Fonte: PF descobre que contêineres levavam drogas para a Europa junto com alimentos por Domingo Espetacular