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Como agir em caso de trauma na coluna cervical: dicas para socorristas leigos.

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O que acontece com a coluna cervical durante uma batida de automóvel?

Olá pessoal, meu nome é Rodrigo e sou médico do SAMU. Tenho feito vídeos sobre a cinemática do trauma e a forma como as pessoas se machucam em batidas de carro.

Hoje estou aqui com Isabela, uma aluna de medicina da UNICAMP, para falar sobre o que acontece com a coluna cervical durante um acidente de carro.

A coluna cervical é composta por sete vértebras que suportam a estrutura da cabeça. A cabeça pesa entre 10 e 15 quilos, aproximadamente, o que é como ter uma bola de boliche solta, sustentada pelas vértebras e pelos músculos. Porém, nossos músculos não são tão fortes e proeminentes como deveriam ser para oferecer um suporte adequado.

Isso significa que, em um movimento brusco devido a um acidente, toda essa carga de movimento será suportada principalmente pelas vértebras, além dos músculos. As vértebras estarão sujeitas a um grande deslocamento e sofrem uma grande energia cinética, o que pode resultar em fraturas ou deslocamentos.

Por exemplo, em uma batida frontal, a cabeça sofre uma flexão abrupta para a região anterior devido ao movimento do veículo. Conforme o veículo para, a cabeça faz uma hiperextensão, que é aliviada pela presença dos apoios traseiros no banco.

Se o acidente for lateral, a cabeça fará um movimento lateral devido ao deslocamento do veículo. Imagine uma batida na quina do carro, a cabeça fará um movimento frontal e lateral antes de voltar à posição normal.

Como vocês podem ver nos vídeos de crash test que vou colocar aqui, a coluna se movimenta muito durante um trauma. A alta concentração de energia cinética nessa região aumenta a possibilidade de fratura ou deslocamento das vértebras, o que pode causar compressão ou rompimento da medula espinhal.

Se a medula espinhal for comprometida, o paciente pode apresentar déficits motores, como dificuldade para andar ou mover os braços, tornando-se paraplégico ou tetraplégico.

O que eu quero enfatizar é que, diante de um trauma desse tipo, é muito importante manter a coluna cervical imóvel. Por exemplo, se Isabela tivesse sofrido um acidente com hiperextensão do pescoço, pode ter ocorrido algum deslocamento da vértebra, mesmo que não seja evidente. Ela está mexendo os pés, sente quando eu toco e não há nenhuma região insensível.

Porém, se eu fizesse movimentos bruscos, como retirá-la do carro, por exemplo, essa vértebra deslocada poderia comprimir a medula espinhal e causar sequelas.

Portanto, é fundamental, sempre que possível, manter a cabeça cervical imóvel após um trauma como esse. Se o paciente não tiver nenhuma contra-indicação, como sangramento na região cervical ou algum objeto inserido que impeça a colocação do colar, podemos realizar a colocação do colar cervical.

A medição do tamanho ideal do colar é feita pelo fabricante, que indica como medir corretamente. Classicamente, medimos a distância entre o ombro do paciente e o ramo da mandíbula, na altura do queixo. No caso de Isabela, com quatro dedos de distância, escolheremos o colar certo para ela.

Lembrando que aqui estou fazendo apenas uma demonstração, mas ela teria que estar com a cabeça completamente imóvel. Com o colar adequado, podemos ter acesso à via aérea e conseguir visualizar a região do pescoço, caso necessário. Um importante ponto do colar cervical é que ele não permita a compressão das artérias da região e que mantenha a cabeça imóvel.

Porém, o colar não evita todos os movimentos, ele limita cerca de 90% do movimento de flexão e aproximadamente 50% dos movimentos laterais e de hiperextensão. Por isso, além de colocar o colar cervical, é importante manter um suporte adequado nas laterais da cabeça para evitar movimentos laterais.

Espero que essas informações sejam úteis para vocês entenderem a importância do colar cervical após um trauma grave com alta energia cinética. Sempre que possível, evitem mexer na cabeça e na coluna cervical.

Um grande abraço e até o próximo vídeo!

Fonte: Trauma em coluna cervical para socorristas leigos. por Rodrigo Calado Nunes e Souza