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Causas e tratamentos para o alcoolismo: entenda a dependência e encontre a cura

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É a mesma coisa: você ingere bebida alcoólica ou conhece alguém que não perde por nada uma bebidinha. O problema é quando esses golinhos vão aos poucos se tornando um vício. No Brasil, o número de pessoas que consomem bebidas alcoólicas em excesso vem crescendo, e com isso, os problemas sociais também aumentam. Beber demais pode trazer uma série de problemas de saúde, como câncer, cirrose, entre outras doenças, além de destruir famílias e a vida social de quem bebe. Ontem foi o Dia Nacional de Combate ao Alcoolismo, e por isso, aqui comigo está o psicólogo Antonio Gomes da Rosa, que vai nos explicar afinal o que causa essa dependência.
Boa tarde, Antonio, seja bem-vindo novamente ao programa. Gostaria de começar com uma pergunta que tenho certeza que quem está em casa deve ter essa dúvida: quando é que beber socialmente pode se tornar vício? O que é considerado o vício?
É importante atentar mais para a questão da frequência, da motivação e da quantidade. Não é um simples ato de beber uma vez que indica o vício. É preciso observar o conjunto desses aspectos. Por exemplo, uma pessoa que precisa beber todos os dias ou que bebe todos os dias estaria num campo de vulnerabilidade. Bebendo dessa forma, ela vai gerando um hábito e, com isso, em algum momento de estresse, decepções ou problemas emocionais em sua vida, essa pessoa dará continuidade na bebida como forma de alívio. Assim, ela vai se encaminhando para o vício permanente e a doença pode se desenvolver. Além disso, bebendo todos os dias, ela pode ir fazendo uma acomodação, e as enzimas em nosso organismo podem entender que esse álcool agora faz parte do seu trabalho, fazendo com que ela desenvolva cada vez mais a necessidade de beber. Mas necessariamente esse alcoolista não precisa beber todos os dias. Existem outros sinais que demonstram que, mesmo não bebendo todos os dias, a pessoa pode ser alcoolista. Por exemplo, a frequência: se a pessoa tem a necessidade da bebida alcoólica para alguns eventos ou em algumas situações, sempre que ela precisar colocar a bebida alcoólica como um elemento essencial para dar conta de algo, ela pode se considerar num quadro de risco.
Agora, beber faz parte dos humanos desde que entendemos assim as civilizações. Onde tem humanos, tem bebida alcoólica. A questão do álcool passa pelo eu necessito, eu repito e eu intensifico como uma necessidade a se satisfazer. Quanto a isso, não pode ser uma necessidade. Eu preciso disso por algum motivo, inclusive a gente estava falando nos bastidores sobre essa questão da identidade social. Muita gente assimila o fato de ser seu bebê, ou de ser uma pessoa alegre, ou de ser uma pessoa extrovertida, porque muitas vezes é uma pessoa que já tem baixa autoestima. Então é uma pessoa mais introspectiva têm também essa questão de “opa, não vou parar de beber porque senão não vão me identificar mais”. São os papéis sociais, às vezes, para o alcoolista, o dependente de bebida alcoólica, muitas vezes, ela está fazendo parte do papel social dele também. Então o alcoolista já não teria mais, ele já não saberia mais como é estar em alguns grupos, se não fosse pela bebida alcoólica. Aliás, muitos dos nossos grupos sociais têm uma liga que dá conta deles, é a bebida alcoólica. Muita gente pode estar se perguntando agora em casa: “é aquele grupo que eu participo, se não tiver bebida alcoólica, o quanto que baixa a minha vontade de ir lá?”. Então tem que ficar atento a esse vício.
Mas realmente, esse é um dos aspectos. Os papéis sociais, também, essas representações, as respostas sociais, e também o adolescente sofre muito com isso.
Claro, porque o adolescente vive muito de imitação e identificação. Ele tem que participar dos grupos. Então um adolescente não tem uma estrutura ainda moral e emocional para dizer que os amigos dele estão errados. Ele simplesmente vai pelo comportamento dos colegas.
Nós podemos ir a um bar e temos até essa capacidade, se não somos alcoolistas, de dizer: “olha, vou ficar com vocês, vou comer, vou tomar uma água”. A pessoa tem que ter essa coerência e saber lidar com essas determinadas situações.
E uma coisa é a questão dos prejuízos que pode causar tanto para a família de quem convive com esse tipo de pessoa, quanto para os amigos. Muitas vezes, acaba ocasionando brigas e um ambiente que não fica agradável.
A questão da bebida alcoólica se estende em muitos segmentos. Ela começa um processo de degeneração naturalmente física, temos problemas sérios principalmente no fígado, e problemas psicológicos, porque vai trabalhando as questões de resiliência dessa pessoa. Ela vai se tornando mais frágil para dar conta das suas questões emocionais. Ela vai ficando mais ansiosa, muitas vezes com comportamento neurótico acentuado. Muitos maridos ficam muito ciumentos. E o terceiro aspecto é o social, que inclui inclusive o profissional. A bebida afeta a vida social e profissional de forma forte.
Quando a pessoa já começa a depender da bebida em sua vida, mas não está disposta a mudar o comportamento, como a família pode buscar ajuda?
É complicada essa questão. A pessoa ser viciada, ser dependente, ou seja, estar com a doença instalada, mas não aceitar e não buscar o tratamento. Para isso, nós temos um exemplo mundialmente com sucesso, que são os grupos de AA (Alcoólicos Anônimos), desde 1935. Os grupos de AA foram criados nos Estados Unidos, hoje estágio tem 30 e poucos mil grupos, e o sucesso é muito grande. Porque de alguma maneira eles vão dando continente para essas famílias que têm o paciente que ainda não quer o tratamento, ou ainda não pode tratar pelas suas ligações. Então, nós temos que buscar esses apoios que são continentes afetivos, ou continentais sociais. Como no caso do AA, quando pega uma pessoa e leva ao psicólogo, e ela é um dependente químico, ela é um usuário de drogas ou bebida alcoólica, e ela não quer se vincular à terapia e não evolui nisso. Nesse caso, nós precisamos dar entrada por CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) ou por grupos de mútua ajuda, como é o caso do AA. A pessoa precisa vir a se motivar para isso. Vamos aceitar que o dependente já está tampando uma falta que ele tem. Então ele não pode deixar a bebida porque fica uma dor, fica um buraco na vida dele. Então nós temos que cuidar com esses aspectos, lidar com o tratamento através de pessoas ligadas afetivamente ou socialmente que possam incluí-lo.
A família e as pessoas ao redor têm um papel fundamental nesse momento, não é?
Com certeza, todos precisam porque afeta a todos. Muito obrigado pela sua participação, tenho certeza que esclareceu muitas dúvidas. Obrigada mesmo.
Fonte: Alcoolismo: entenda as causas da dependência e como curar o vício por Programa Ver Mais Blumenau