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Bruna Inocente: A Incrível História Além da Ataxia

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Eu sou o Bruno e descobri minha patologia aos 20 anos de idade. Porém, não é fácil assumir que temos uma doença tão séria. Fiz um exame genético na USP e deu positivo. Encontrei alguns amigos e relatos na internet de pessoas que já haviam se entregado à doença. Isso me fez refletir bastante e chegar à conclusão de que comigo seria diferente, eu lutaria com todas as minhas forças contra essa doença.

Eu nasci e cresci como uma mulher saudável e feliz, e não estava disposta a permitir que nenhuma doença acabasse com os meus planos para o futuro. Faltavam apenas um semestre para me formar como jornalista. Nessa altura, ouvia as pessoas cochichando sobre mim, comentando sobre minha aparente desastrada, elas diziam: “nossa, que gata, pena que anda assim”. Fui ouvindo coisas e coisas que me deixavam bem triste. Mesmo assim, me formei e a partir daí começou a minha luta olho no olho contra a doença.

As coisas já estavam encaminhadas para o meu casamento, já tínhamos feito um curso de noivos, inclusive o buffet já estava encomendado. Decidimos deixar tudo isso para trás e nos casarmos apenas no civil. Logo após o casamento, fui para a China pela primeira vez fazer a aplicação de células-tronco. Voltei de lá me sentindo normal, minha vida estava indo de vento em poupa.

Até que coloquei na minha cabeça que queria engravidar. Mandei um meio para a China e eles me disseram que deveria esperar no mínimo seis meses. Então, sete meses depois da aplicação, ali estava eu realizando o meu grande desejo, enfim grávida. Tudo parecia um sonho sem dificuldades, afinal eu estava cheia de células. Mas no dia 25 de novembro, meu pesadelo começou. Tive três paradas cardíacas e fui parar na UTI por uns dois dias. Na China, aplicaram uma medicação para afinar o sangue para que as células corressem melhor. E eu não fazia ideia, me deram quatro bolsas de sangue, mas sem células-tronco. A partir daí começou a minha pior fase.

Quando meu filho completou oito meses, fomos novamente para a China, mas dessa vez o resultado foi diferente. Voltei para casa pior do que tinha ido. A promessa era de uma vida nova, voltar a andar, mas eu piorava a cada dia. Entrei em contato com eles através de e-mail para entender o que havia acontecido. Eles me informaram que eu havia tomado células a menos e que teria que voltar. Como o erro foi deles, pensei que haveria um desconto, mas eles queriam cobrar o mesmo valor. Detalhe: cada aplicação, contando com todos os gastos, ficava em torno de 200 mil reais.

Desde então, tomo um medicamento para o Parkinson, indicado pelo meu médico, Dr. José Luiz Pedroso. Se você quer saber se estou arrependida de ter ido, eu diria nunca. É só uma ilusão, porém eu iria novamente, cada vez que fosse necessário, pois é maravilhoso sentir a doença regredir, mesmo que seja por apenas seis meses. Mas é um valor descomunal, vi minha mãe falecer aos 53 anos e meu irmão aos 33, e a sensação de tristeza por me ver perdendo o que ganhei é desesperadora.

Eu sou uma pessoa amiga, a qual se pode contar. Se gosto, bom. Se não gosto, nem chegue perto. Só volto atrás, mas não sou boba. Não sei exatamente quais são os meus direitos, porém procuro cumprir com os meus deveres. Sinto muita falta da minha mãe e do meu irmão. Hoje, as pessoas mais importantes na minha vida são meu pai, meu marido e meu filho. Meu esposo é meu tudo, ele age com o coração, a razão desaparece. Ele, sem dúvidas, é um divisor de águas, nem se compara à minha vida antes e depois dele.

O meu maior receio em indicar a China é que as pessoas, quando ouvem que melhorei, perdem a razão e esquecem de todo o resto. Acreditam que será para sempre. Então, vendem casa, carro, achando que será assim para sempre. Por isso, sou bem cautelosa em relação à China. Acredito que a cura está próxima e que eu ficarei boa.

Se vir e pelo avesso, tente se reinventar.

Fonte: A HISTÓRIA DE BRUNA INOCENTE/ MUITO ALÉM DA ATAXIA por Muito Além da Ataxia