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Bactéria na urina sem sintomas: é necessário tratamento?

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Olá, tudo bem? Vamos falar hoje a respeito de um outro tema muito recorrente também no dia a dia de consultório: O que é doutor, eu fiz um exame de urina sem estar sentindo nada de rotina e apareceu uma bactéria na minha urina. E aí, eu tenho que tratar?

Aqui, não me conhece, meu nome é Bruno Vedovato, sou lojista, e hoje a gente vai esclarecer um pouquinho a respeito desse tema que, tecnicamente, a gente chama de bacteriúria assintomática. Posso fazer o quê? Que é esse nome esquisito, tá? Então, bacteriúria assintomática nada mais é do que uma paciente fazer um exame de urina, a chamada cultura da urina (urocultura), né? O exame que a gente vai ver se tem ou não bactérias que estavam aí na sua urina, na sua bexiga, no seu trato urinário. E no caso de uma paciente que não está sentindo absolutamente nada, tá? Não tá tendo aquela síndrome clínica que caracteriza uma infecção urinária. Quais são os sintomas, né? Ardência para urinar é um dos mais frequentes. Passar não conseguir segurar por muito tempo a urina. O sangramento na urina. Aquela urgência, né? Aquela vontade imperiosa de ir ao banheiro. Então, esses são os sintomas que caracterizariam uma infecção urinária quando na presença de uma urocultura positiva, ou seja, com a identificação de alguma bactéria no exame de urocultura.

Quando a paciente tem uma bacteriúria assintomática, ou seja, ela não tem sintomas, algumas vezes, isso a gente vê muito no consultório. Mas, a paciente faz exames de rotina, eles estão incluídos o exame de urina lá com seu ginecologista e ela é surpreendida por uma bactéria na sua urina e aí ela chega para a gente um pouco preocupada com aquele resultado. Aí a gente vai orientá-la: aqui não há necessidade alguma de fazer tratamento. Por quê? Porque uma parcela de mulheres e homens jovens existe a probabilidade de haver uma presença de bactérias no trato urinário e isso não significar uma infecção urinária, ou seja, o aumentar o risco de uma evolução como infecção urinária. Existem casos específicos em que o tratamento sim é mandatório, mas, via de regra, é por questões locais, seja por predisposição genética ou por alguma relação ali “chave-fechadura” daquela bactéria com a bexiga da paciente. A bactéria ela tá vivendo em harmonia e muitas vezes ela está protegendo aquela paciente de uma infecção. De fato, ela está funcionando ali como uma barreira, ela está impedindo aquilo de ocorrer. E nesse cenário, quando a paciente não tem realmente indicação de fazer o tratamento e a gente trata de forma desnecessária, a gente pode estar trazendo um problema. A gente quebrou aquele equilíbrio que havia e deu abertura para sim infecções acontecerem.

A gente sabe que uma antibioticoterapia, qualquer que seja ela, ela vai alterar o ambiente intestinal. E a gente falou, em vídeos anteriores, que praticamente 90% – grande maioria – das infecções urinárias vem de onde? De bactérias que habitam o intestino. Tá certo? Então, se você usa antibiótico de forma desnecessária, você tá alterando essa microbiota. Você tá alterando, por exemplo, que tipo de bactéria é e a quantidade de bactérias que estão no intestino e, consequentemente, mudando as bactérias que habitam a região vulvovaginal e facilitando, então, com que bactérias “problemáticas” cheguem à bexiga. Então, via de regra, isso não é feito.

Existem uma série de condições, por exemplo, pacientes diabéticos, pacientes idosos, têm uma propensão maior de ter bactéria na urina sem ter sintoma. E aí é um desserviço se a gente tratá-lo. Então, não deve ser tratado. Tá certo?

Agora, quais as situações específicas em que o tratamento é necessário? As principais são: mulheres gestantes, mulheres que estão grávidas. A probabilidade daquela bactéria, mesmo não estando causando sintomas, evoluir para uma infecção urinária é grande. E as consequências de uma infecção urinária na gravidez, na gestação, elas são bem estabelecidas. Então, nesse cenário, assim, a gente deve tratar, mesmo que a paciente esteja assintomática. Porque existe o risco de prematuridade, existe o risco de trabalho de parto prematuro e outras complicações em virtude das alterações fisiológicas, alterações próprias da gravidez na mulher. Então, nesse caso, sim, é mandatório. E muitas vezes, quando essa paciente faz o tratamento da sua bacteriúria, mesmo estando assintomática e no próximo exame a gente repete, e a bactéria insiste em ficar ali, aparece de novo, mesmo a gente não sentindo nada, muitas vezes a gente tem a necessidade de instituir o que a gente chama de antibioticoprofilaxia, que é a manutenção de uma dose baixinha de antibiótico diário. Tá?

Então, esses são dois dos primeiros cenários. O outro é se o paciente vai ser submetido a algum tratamento que vai invadir, que vai violar o seu trato urinário. Por exemplo, o serviço é submetido a uma cirurgia de cálculo ou, enfim, uma cistoscopia, algum procedimento que vá manipular ou trato urinário. Porque, ali, a gente vai se da bactéria e a gente vai invadir, vai lesar o trato urinário e isso pode precipitar uma infecção, uma infecção mais séria, mais grave, pode aumentar a probabilidade de desfechos desfavoráveis no perioperatório. Tá?

Então, essas são as únicas condições em que a gente deve, como tratar uma paciente ou um paciente, que se apresente com uma bactéria no exame de urina, mas sem sentir nada, sem ter nenhum sintoma. Tá bom? Então, espero que tenha ficado claro esse conceito de bacteriúria assintomática. Se ficou alguma dúvida, fique à vontade para perguntar. Até o próximo vídeo, tchau, tchau!

Fonte: Bactéria na urina sem sintomas, tem que tratar? por Dr. Bruno Vedovato