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Aula Nova de Neuroanatomia Funcional com Rogério Souza: Lobo Temporal

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Olá, seja muito bem-vindo ao Canal Neurofuncional! Nesse vídeo de hoje, vamos falar tudo sobre a neuroanatomia do lobo temporal. Então, quais são as principais áreas desse lobo? O que acontece quando uma pessoa tem uma lesão? E quais são as funções dessas áreas? Vamos dar início à nossa aula sobre o lobo temporal.

Lembrando que já temos uma aula bem mais antiga sobre o lobo temporal no canal, porém essa aula está atualizada com muito mais informações para vocês. Investimos em equipamentos para que a sua experiência aqui no canal seja melhor. Então, vamos conversar.

Falando da anatomia de uma forma simples, o lobo temporal é esse destacado aqui na imagem. Ele fica localizado inferior ao lobo frontal e ao lobo parietal, mais especificamente abaixo do sulco lateral. Também está localizado anterior ao lobo occipital.

Agora, vamos falar um pouquinho melhor sobre as áreas. Nós temos um giro transverso superior, em que sua função principal é o centro cortical da audição. Essa área está destacada em azul. Quando as informações auditivas saem dos nossos ouvidos internos e vão para o córtex, é nesse giro transverso anterior que elas chegam, onde nós as recebemos. Se a pessoa tem uma lesão nessa área auditiva, ela vai ter surdez, ou seja, um acuidade auditiva diminuída. É importante ressaltar que quando falamos em surdez, nem sempre estamos nos referindo à pessoa que não houve nada. Às vezes, ela ouve, mas de forma menos clara ou menos precisa.

Agora, no giro temporal superior, temos uma área extremamente importante, que é a área de Wernicke. Lembra que na aula sobre o lobo frontal eu falei sobre uma área responsável por compreender a palavra falada e escrita? Pois bem, essa área está localizada no giro temporal superior. A área de Wernicke tem como função principal compreender a palavra falada e escrita. Em uma explicação simples, quando alguém está falando com você e você está entendendo o que ela está falando, a área de Wernicke tem um papel importante nisso. O mesmo acontece quando você está lendo algo para entender o que está escrito. Se a pessoa tem uma lesão específica na área de Wernicke, ela vai ter o que chamamos de afasia sensorial ou afasia sensitiva de Wernicke, que é quando a pessoa não entende o que você fala. Às vezes, ela até consegue falar também, mas as respostas são extremamente fora do contexto. Por exemplo, você chega para a pessoa e fala “Bom dia, Dona Maria”. Ela responde: “Realmente, a chuva tá feia hoje, né?”. Ela está falando algo totalmente fora do contexto. Essa é a afasia sensorial ou afasia de Wernicke.

Já que falamos das duas áreas, é importante mencionar que a área de Wernicke se comunica com a área de Broca, localizada no lobo frontal. A área de Broca está relacionada com a parte motora da fala, enquanto a área de Wernicke está relacionada com a parte de compreensão. Quem comunica essas duas áreas é o fascículo arqueado, que são fibras de associação que ligam a área de Wernicke à área de Broca. Então, quando estou ouvindo alguém falar, a área de Wernicke está sendo ativada. Quando vou dar a resposta, essa informação passa para a área de Broca, que vai formular a fala e enviar para o giro pré-central, onde o impulso motor será gerado.

Existem diversos estudos que mostram que a linguagem não é tão simples assim. Ela é muito mais complexa, e existem diversas áreas que também são responsáveis pela linguagem, e estão distribuídas em todo o sistema nervoso. Por exemplo, no lobo frontal, parietal, temporal, nos gânglios da base, no tálamo e no cerebelo. Em um artigo publicado na revista Nature em 2016, foi traçado um mapa das palavras no córtex e verificou-se que o córtex inteiro consegue ser responsivo a palavras. Ou seja, afirmar que a linguagem é específica das áreas de Wernicke e Broca está muito errado. Por isso, é importante ter em mente que as áreas são distribuídas pelo córtex e a linguagem é processada em diversas áreas interconectadas. Deixarei as indicações desses artigos para vocês, para quem deseja se aprofundar mais nesse assunto. Caso queiram que eu grave uma aula específica sobre a distribuição anatômica da linguagem, basta comentar abaixo que eu ficaria feliz em fazer isso!

Continuando a aula sobre o lobo temporal, temos outra região extremamente importante, que é a região piriforme e ínsula amigdalóide, relacionada ao olfato. É nessa região que as informações olfativas são recebidas pelo córtex. Essa é a área olfatória primária. Se a pessoa tem uma lesão nessa área, ela pode apresentar anosmia, que é a perda do olfato. Ou seja, ela não sente o cheiro de nada. Ou então, essa acuidade olfativa pode estar diminuída, fazendo com que a pessoa sinta um cheiro de flor, por exemplo, mas entenda como se fosse um cheiro de algo estranho, como uma comida. Ou seja, existe uma perturbação da informação que chega ao córtex.

Outra área interessante de se mencionar é o giro fusiforme, também do lobo temporal, que é responsável pelo processamento da imagem do rosto. Isso mesmo, existe uma área no cérebro que é responsável por processar o rosto, a face. Um quadro clínico associado a uma lesão específica do giro fusiforme é a prosopagnosia, conhecida também como “face blindness”. Nesse caso, a pessoa não consegue identificar o rosto das pessoas. Ela vê como se os rostos estivessem apagados ou então pode enxergar todos os rostos como iguais, porque há uma lesão na área responsável pelo processamento da imagem do rosto. Além disso, há um outro quadro clínico característico de lesão do giro fusiforme, que é a ilusão de Capgras. Nesse caso, a pessoa confunde uma pessoa por outra e acha que aquela é uma impostora, alguém com uma máscara ou disfarçado. Isso pode acontecer quando ela tem uma lesão específica do giro fusiforme.

Para terminar essa aula, trouxe uma curiosidade para vocês. Em um artigo de 2019, achei bem interessante a evidência de um mapa atencional no córtex temporal posterior. Foi visto que essa região tem um importante papel no controle atencional. Em tarefas que exigem demanda atencional, essa região é ativada. Essa descoberta é bem interessante, pois antes acreditava-se que o lobo frontal era o mais importante em relação à atenção. Mas vemos que em nosso córtex, as áreas são muito mais distribuídas.

Por isso, é difícil falar de neuroanatomia funcional, pois não é tudo fechadinho, uma área fazendo apenas uma função específica. Existem diversas áreas que se comunicam entre si, e as funções também são distribuídas entre essas diversas áreas.

Espero que tenha gostado dessa aula! Já gravei aulas sobre o lobo frontal e parietal, e as próximas
Fonte: LOBO TEMPORAL (Aula Nova) – Neuroanatomia Funcional com Rogério Souza por Neurofuncional