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Como lidar com a desordem nas cidades e os impactos na saúde mental

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Uma coisa que me chamou muita atenção foi a arquitetura das cidades e o urbanismo. Até certo ponto da história, as cidades imitavam o modelo cosmológico das chamadas civilizações cosmológicas. Inclusive, várias fotos e ilustrações mostravam cidades da Idade Média estruturadas de forma circular, de acordo com direções específicas do espaço. As tabuas indígenas também seguiam o mesmo padrão. No entanto, de repente as cidades começaram a se expandir sem forma. E então surgiu a confusão e o caos, como o banditismo e processos revolucionários. É impossível colocar ordem na mente das pessoas se o ambiente visual não permite isso.

Desde criança, eu sempre percebia como o ambiente visual em São Paulo era feio e caótico, mesmo havendo lugares bonitos. No geral, a cidade era uma figura de desordem aterrorizante. E eu também enxergava essa desordem nas mentes das pessoas. Por exemplo, lembro-me de quando nos anos 80, alguém me deu um papelzinho com instruções para devolver as coisas no mesmo lugar onde as encontramos. Ninguém nunca tinha pensado nisso antes. Pensei que se você não devolve as coisas para o mesmo lugar, como a pessoa vai encontrá-las? Além disso, o tempo que as pessoas perdem procurando por algo é assombroso.

Quando fui para os Estados Unidos em 1976, finalmente vi um lugar onde as pessoas têm noção disso. Aí comecei a refletir sobre a relação entre o ambiente visual e a mente das pessoas. Por que os alunos brasileiros sempre tiram as últimas colocações nos testes internacionais? Não é apenas por causa da má qualidade da educação, mas também por causa do ambiente físico que desmantela a ordem em nossas mentes. Se o ambiente é confuso e cheio de coisas que você precisa decorar para se orientar, fica difícil se organizar. Acredito que tenho observado isso desde criança.

Quando fui para Brasília e vi que todas as ruas eram iguais, percebi que tinha chegado ao fim. Eu andava de táxi e não saía da mesma rua. A cidade tinha sido feita para ser sobrevoada de helicóptero e exibida para estrangeiros, não para ser habitada. Até mesmo para se deslocar na cidade, é preciso ter um carro. A maioria da população não tem um carro, o que é um problema. Não estou criticando o regime político, seja ele comunista ou conservador. A confusão é mental, não física.

Outra coisa que observei foi a forma como comecei a estudar e organizar a minha biblioteca de forma mais eficiente. Comecei a organizar de acordo com os meus interesses e necessidades, não de forma genérica como é feito nas bibliotecas públicas. Afinal, cada um tem uma forma específica de uso e interesse pelos livros. Estudar sobre classificação e organização também me ajudou a criar um mapa da ignorância, identificando aquilo que eu precisava saber para entender o que já sei.

Um dos livros que recomendo é “Vida Intelectual” do Padre Antonio Vieira. Ele descreve como a vida intelectual era conhecida na França em sua época e como ela é totalmente ausente no Brasil. Na verdade, ela não existe atualmente, exceto entre os meus alunos. Restaurar a vida intelectual no Brasil é essencial, pois é através dela que podemos lidar com a sociedade humana. É importante não apenas ler por interesses profissionais, mas também de forma organizada.

Apesar de existirem bons professores no jornalismo, como meu falecido editor de texto, já percebi que muitas pessoas não têm cultura ou não buscam conhecimento. Apenas aprendem o que é ensinado nas escolas militares e, no máximo, leem um best-seller de vez em quando. Não possuem uma formação que as habilite a lidar com a sociedade humana. A experiência de vida e a cultura geral não são apenas leituras, mas sim organização e busca pelo conhecimento.

Portanto, é possível e obrigatório conservar a vida intelectual. Fazer parte do sacerdócio significa isso. Recomendo ler “Vida Intelectual” do Padre Antonio Vieira para compreender melhor essa questão. É essencial para todos os alunos.

Fonte: A Desordem nas Cidades e a Confusão Mental por Inteligência Corp.