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Como identificar e tratar o transtorno delirante: guia completo.

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Transtorno Delirante: entendendo seus sintomas e diagnóstico

Olá pessoal, meu nome é Rafael e sou médico psiquiatra. Hoje vamos falar sobre os transtornos psicóticos, especificamente o transtorno delirante, também chamado de transtorno delirante persistente. Vamos explorar os principais sintomas desse transtorno e como ele é diagnosticado.

Um aspecto importante desse diagnóstico é a focar na questão do delírio, que é o principal sintoma presente nesse transtorno. O delírio pode ser definido como uma crença fixa e irredutível, um tanto bizarra e estranha, que não é compartilhada por outros membros da sociedade.

Vamos analisar essa definição ponto a ponto. Um delírio é algo que alguém acredita de forma fixa e irredutível, ou seja, não importa o quanto você tente convencer a pessoa de que aquilo não é real, de que aquilo não está acontecendo, não importa, pois a crença persiste e não é compartilhada pelos outros membros da sociedade.

Por exemplo, com essa definição, excluímos outras religiões que não a nossa, outras crenças diferentes de outras culturas, que têm uma visão de mundo diferente da nossa. Quando participamos de um culto religioso de outra religião, mesmo que não seja a nossa, ou quando visitamos outro país com uma cultura completamente diferente da nossa, nos deparamos com crenças compartilhadas por aqueles que estão presentes naquele contexto cultural. Portanto, isso já exclui essas crenças de serem consideradas como delirantes, uma vez que são compartilhadas pelos membros dessa cultura.

Dentro desse contexto, um exemplo de delírio poderia ser a crença de que durante o sono, alguém entrou no quarto e retirou os órgãos da pessoa, sem deixar qualquer vestígio ou marca. Isso é algo impossível de acontecer, pois não é possível mexer dentro do corpo de alguém sem deixar marcas. Portanto, essa crença é considerada bastante estranha e bizarra.

Outro exemplo que podemos considerar mais próximo do nosso dia a dia é a questão dos filmes. Por exemplo, alguém pode acreditar que está sendo traído, mas isso não seria um delírio caso essa pessoa consiga considerar a possibilidade de que isso não está acontecendo. Se ela consegue olhar para os fatos de sua vida, para os elementos concretos, e questionar essa crença, ou seja, se ela não é fixa, então não é um delírio.

No entanto, se essa pessoa se agarra firmemente a essa crença, mesmo que não haja qualquer argumento que a faça reconsiderar, mesmo que todos ao seu redor afirmem que não há traição, então isso pode ser considerado uma crença delirante.

Outro critério importante para o diagnóstico é verificar se o delírio está acompanhado de outros sintomas de quadros semelhantes, como a esquizofrenia. Na esquizofrenia, além do delírio, é comum haver sintomas como alucinação, desorganização do comportamento e pensamento, catatonia, entre outros. Portanto, é importante verificar se esses sintomas adicionais estão presentes, pois, caso estejam, não estaríamos falando de um transtorno delirante persistente, mas possivelmente de um quadro de esquizofrenia. Nesses casos, o prognóstico, assim como o tratamento, são diferentes.

Também é importante descartar a possibilidade de outros quadros psiquiátricos estarem na origem dessas crenças delirantes, como uma infecção grave, um quadro de mania, um quadro de retardo mental importante, entre outros. Por isso, é fundamental considerar outros quadros psiquiátricos que possam ser responsáveis por essas crenças delirantes.

Além disso, existem diferentes subtipos de transtorno delirante, como o tipo erotomaníaco, em que o indivíduo acredita que alguém está apaixonado por ele ou a perseguindo com intenções de estabelecer algum tipo de relação. Esse tipo de pessoa pode acreditar, por exemplo, que um ator da televisão está apaixonado por ela e está enviando indiretas durante a programação. Também há o tipo grandioso, em que o indivíduo acredita ter algum talento grandioso, ter descoberto algo extremamente importante para a sociedade ou a humanidade. Temos também o tipo ciumento, em que o tema central do delírio é a desconfiança de traição por parte do parceiro ou parceira, mesmo sem qualquer evidência concreta. Outro tipo é o tipo persecutório, em que o indivíduo acredita que está sendo perseguido por outras pessoas, seja um carro estacionado na rua que a pessoa acha estar vigiando sua casa, seja alguém que está indo ao supermercado e acredita estar sendo seguido por alguém com a intenção de prejudicá-la de alguma forma.

Há também o tipo somático, em que a pessoa acredita ter alguma doença ou alguma alteração em seu corpo. Isso pode ser derivado de algumas sensações corporais que a pessoa tem, que fornecem substrato para a convicção de que algo estranho pode estar acontecendo, como uma dor no dedo que a pessoa acredita firmemente ser um sinal de câncer ou de algo mais grave.

Existem outros subtipos de transtorno delirante, mas mencionamos apenas alguns como exemplos.

No próximo vídeo, abordarei outros transtornos psicóticos semelhantes, mas que se diferenciam por algumas características específicas. Fiquem de olho! Até a próxima!

Fonte: O QUE É O TRANSTORNO DELIRANTE? por Mancini Psiquiatria e Psicologia