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Otites Médias Crônicas com Membrana Íntegra – Profª. Raquel Tavares – Saiba mais sobre o tratamento e prevenção.

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Otite Média Crônica

Continuando a aula de otite média crônica, nós vamos abordar agora a otite média crônica com membrana timpânica íntegra, ou otite média crônica secretora. Ela é caracterizada pela presença de fluido na orelha média sem dor. A presença de fluido indolor acontece principalmente em crianças, tanto pela imaturidade do sistema imunológico quanto pela disfunção fisiológica da trompa de Eustáquio. Da mesma forma que as otites médias agudas, estima-se que 90% das crianças até 4 anos de idade terão pelo menos um episódio de otite média secretora.

Existem alguns fatores de risco bem estabelecidos relacionados ao hospedeiro e ao ambiente comunitário, como a presença de malformações craniofaciais, principalmente as fendas palatinas, que comprometem a inserção da musculatura responsável pela abertura e fechamento da tuba auditiva. Fatores genéticos e alérgicos também podem estar associados. Com relação aos fatores do ambiente, crianças institucionalizadas que frequentam creche têm maior suscetibilidade a infecções de vias aéreas superiores e podem ter mais otites médias. A presença do tabagismo no ambiente familiar, pela redução do batimento ciliar, também é um fator de risco, assim como o uso da chupeta. O aleitamento materno confere um fator protetor para a otite média em crianças que amamentam por mais de seis meses.

Existem basicamente duas formas de patogênese da otite média secretora. Ambas envolvem obstrução da tuba auditiva e comprometimento do funcionamento da orelha média. Na primeira forma, a otite média secretora tem origem em otite média aguda não tratada ou inadequadamente tratada, com retenção de secreção na orelha média. Isso acontece pelo próprio processo fisiopatológico que deve ter originado a otite média aguda. Costuma ser uma obstrução intrínseca da tuba auditiva que impede a drenagem habitual da secreção, criando pressão negativa dentro da caixa timpânica, retração da membrana timpânica, aumento de secreção e hipótese de condução do som.

Na segunda forma, a otite média secretora é adquirida de forma independente da otite média aguda e está relacionada a uma obstrução estrutural da tuba auditiva, como uma hiperplasia de tonsila faríngea, por exemplo. Nessa situação, também há pressão negativa dentro da caixa timpânica, principalmente na região mais superior, o que leva a uma retração da parte flácida da membrana timpânica, derrame seroso e inflamação, e novamente hipótese de condução.

A otite média crônica secretora muitas vezes passa despercebida, já que a criança pode não apresentar sintomas evidentes de dor. O diagnóstico baseia-se em um alto grau de suspeição clínica. Caracteriza-se principalmente pela hipocrisia, ou seja, a criança assiste TV alto, tem um atraso no desenvolvimento da linguagem, baixo rendimento escolar e pode ser respirador oral devido a uma hiperplasia de adenoides. A presença de dor sugere agudização e pode complicar como um novo episódio de otite média aguda.

Os aspectos do exame físico da otite média secretora crônica podem variar dependendo do grau e evolução da doença. Pode-se encontrar um aspecto turvo do conteúdo da caixa timpânica, com nível hidroaéreo ou conteúdo amarelado. Bolhas podem ser encontradas como resultado da tentativa da trompa de Eustáquio de voltar a funcionar. Diferentes graus de retração da membrana timpânica também podem ser observados, desde retrações leves até uma retração atelectásica, na qual a membrana fica aderida ao promontório (girino basal da cóclea).

No exame otorrinolaringológico, é comum encontrar uma mucosa pálida, presença de secreção, hipertrofia das conchas inferiores e descartar a presença de adenoides. A audição deve ser avaliada através da audiometria tonal, que mostrará uma perda condutiva, e pode ser complementada pela impedanciometria, que avalia a resistência da membrana timpânica.

O tratamento da otite média crônica secretora é baseado na história natural da doença. Na maioria dos casos, há resolução espontânea em um período de três meses. Porém, é importante ressaltar que existe uma alta taxa de recorrência da doença inversamente proporcional ao tempo de evolução. Portanto, diante do diagnóstico clínico de otite média crônica secretora, a conduta expectante é apropriada, porém uma intervenção medicamentosa pode ser instituída. O tratamento clínico envolve o uso de amoxicilina-clavulanato e corticoides via oral. Caso o paciente persista com sintomas após um período de três a seis meses, a cirurgia está indicada. A timpanocentese é realizada em crianças no centro cirúrgico sob anestesia geral, e consiste em incisão da membrana timpânica, aspiração do conteúdo seroso ou mucoso e inserção de um tubo de ventilação, que melhora a caixa timpânica. Esse tubo pode durar de seis meses a um ano e é expulso pela própria membrana timpânica.

É importante ressaltar que a criança precisa ter os mesmos cuidados com higiene e prevenção, evitando a entrada de água no ouvido e protegendo-se de ambientes com fatores de risco para otite média crônica secretora.

Fonte: Profª. Raquel Tavares – Otites Médias Crônicas com Membrana Íntegra por NUTEDS – UFC