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Desafio de isolamento para jovem com bulimia durante a pandemia | Nossa Dieta

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Para Carolina, uma jovem que sofre de distúrbios alimentares, até pequenas mudanças na rotina podem se transformar em gatilhos para ansiedade. A pandemia tem sido um período especialmente difícil para ela, que estava em tratamento para bulimia. Sua grande aliada nessa jornada sempre foi sua avó, mas devido à necessidade de isolamento, elas tiveram que se separar temporariamente.
No começo, Carolina recorreu à comida como forma de conforto. Ela começou a cortar carboidratos e reduzir sua alimentação até o ponto de se basear apenas em folhinhas de alface e barrinhas de cereal. Tudo isso com apenas 12 anos de idade. Foi assim que Carolina mergulhou no mundo dos transtornos alimentares.
“Minha pior época foi quando eu não bebia nem água, porque eu achava que tinha calorias. O que era para ser uma simples dieta se transformou em uma luta contra a anorexia e bulimia, que já dura uma década”, conta Carolina. Ela restringia sua alimentação ao máximo e encontrava formas de compensar o que comia, seja através de atividade física, laxantes ou induzindo o vômito.
No início, sua mãe demorou a entender a gravidade do problema. Ela achava que era frescura e pensava que isso logo passaria. Até chegou a acreditar que era apenas uma dieta para chamar atenção. Mas o sofrimento de Carolina era real e duradouro. “Até que durou, né? A dificuldade com a alimentação apenas demonstrava problemas mais profundos. Eu tentava esconder a todo custo, mas me sentia muito sozinha. Sempre tinha um sentimento de vazio em minha vida, estava muito triste, muito depressiva”, desabafa Carolina. Foi nessa época que ela começou a se automutilar, buscando alívio para sua dor emocional.
Dos 13 aos 19 anos, Carolina passou por três internações psiquiátricas, mas teve pouco progresso em direção à sua cura. A anorexia ainda a assombrava, fazendo com que Carolina continuasse extremamente magra, mesmo acima do peso recomendado. “Cheguei a ficar vomitando 18 vezes por dia e eu não aguentava mais viver daquele jeito. Então eu me abri com a minha mãe e pedi por ajuda, porque eu não conseguia parar. Não conseguia parar de vomitar, não conseguia parar de fazer dieta”, relata ela. Sua mãe, finalmente entendendo a gravidade da situação, decidiu apoiá-la e procurar tratamentos médicos.
Durante seu processo de recuperação, Carolina decidiu transformar sua história em um livro, como uma forma de incentivar outras pessoas a cuidarem da sua saúde e procurarem ajuda. “É importante falar sobre o problema, pois é falando que ele se resolve. Deixar de falar sobre o problema é continuar sofrendo”, ressalta Carolina. No entanto, ela reconhece que nem sempre é fácil vencer essa batalha.
No início da pandemia, enquanto escrevia os últimos capítulos de seu livro, Carolina passou por uma recaída. Ela experimentava oscilações de humor, ora acordava se sentindo bem, mas logo caía em uma profunda depressão. “Aí eu voltei a me machucar. Eu estava observando um aumento geral nos números e até agravamento dos quadros de outros pacientes que já estavam em tratamento. Às vezes, também ocorriam recaídas, mesmo para aqueles que já se recuperaram”, explica Carolina.
Sua avó, que estava isolada para evitar o risco de contrair o coronavírus, foi chamada para ajudar e acolher a neta. “Eu falei para ela: ‘Filha, eu vou fazer o seguinte: vou arriscar e vou ter que ficar aqui com vocês. Mas eu quero que a Carolina se alimente. Se ela não comer, eu vou embora'”. Com a ajuda da avó, Carolina começou a se recuperar. Sua avó se tornou sua melhor amiga e a única pessoa capaz de incentivá-la a se alimentar regularmente. “A comida da minha vó eu como. Eu não como muito, mas eu estou comendo. Entende? A comida dela eu sempre gostei, então é mais tranquilo para mim”, conta ela.
No entanto, mesmo com o apoio da avó, Carolina ainda enfrenta dificuldades em se manter firme na luta contra seus transtornos alimentares. “Tem dias que são difíceis”, confessa ela. “Eu já sabia disso, mas é difícil mesmo assim. Eu sofria muito e ela também sofria. Quantas vezes eu chorei perto dela, pedindo socorro, pedindo ajuda. E ela sempre me ajudou. Ela sempre me falou: ‘Filha, eu só tenho que te ajudar, você também tem que se ajudar'”, relembra Carolina. Sua avó é seu porto seguro, mas também enfrenta desafios próprios ao tentar ajudar a neta.
Além da avó, Carolina também encontra apoio em seus animais de estimação. Ela tem cinco bichos de estimação, incluindo um coelho, uma cadela chamada Jade e um periquito. Esses animais têm um papel importante em seu dia a dia, ajudando a manter seu astral e autoestima elevados. “É muito engraçado, pois eu não gosto muito de comer, mas eu me sinto bem alimentando eles. Eu acho que esse processo é muito importante. Observar como eles comem me ajuda a aceitar melhor o ato de comer também”, reflete ela.
Atualmente, Carolina está casada há quase dois anos e continua seu tratamento especializado no Hospital das Clínicas de São Paulo. Embora o caminho para a recuperação possa ser longo, ela aprendeu lições importantes ao longo desse processo. Agora, ela evita roupas apertadas, pois isso costumava ser um gatilho para recaídas. Além disso, ela aprendeu a não se pesar constantemente, pois percebeu que isso também desencadeava pensamentos negativos e comportamentos prejudiciais. “Aprendi no tratamento que pesar-me constantemente era um gatilho que me levava a querer emagrecer novamente. Então hoje eu evito me pesar e me sinto mais livre da obsessão pela balança”, conclui Carolina.
Fonte: Necessidade de isolamento vira um novo desafio para jovem com bulimia | Nossa Dieta Na Pandemia por Câmera Record